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As lições dos confrontos com o Uruguai
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
A cada Brasil x Uruguai nos
lembramos, inevitavelmente, de
duas partidas memoráveis entre
as duas seleções: a final da Copa
de 1950, no Maracanã, e a semifinal da de 1970, no México.
Ambas ainda trazem lições que
podem ser úteis para amanhã, na
final da Copa América.
A "tragédia do Maracanã" nos
ensina a não cantar vitória antes
do tempo.
Eu não estava lá (ainda não tinha nascido), mas, a julgar pelos
relatos de quem estava, o que nos
levou ao desastre não foi a suposta falha de Barbosa no segundo
gol uruguaio, e sim o clima de "já
ganhou" que tomara conta do
país, da torcida e dos jogadores.
Um clima semelhante, aliás, ao
que contagiou o Brasil dias antes
da final com a França, na Copa-98. Em matéria de comemoração
antecipada, somos mestres.
Do outro Brasil x Uruguai, o de
70, vencido brilhantemente por
Pelé e companhia, quem poderia
falar com mais propriedade seria
Tostão. Afinal, é de sua atuação
naquele jogo que vem o ensinamento mais útil à seleção de hoje.
O Uruguai marcava bem os atacantes brasileiros e anulava nossas principais jogadas ofensivas.
Os jogadores decidiram improvisar, e o volante Clodoaldo começou a ir mais à frente.
Numa de suas avançadas, Clodoaldo passou a Tostão, deslocado junto à lateral esquerda do
ataque. Com um passe longo e
preciso, Tostão devolveu a bola a
Clodoaldo na marca do pênalti.
Foi o primeiro gol brasileiro.
No terceiro, o mesmo Tostão,
pouco antes da intermediária,
lançou Jairzinho na diagonal, de
tal maneira que pegou o zagueiro
uruguaio no contrapé, incapaz
tanto de interceptar o passe como
de alcançar o atacante brasileiro.
Esses dois passes de Tostão, que
levaram o Brasil à final da Copa,
foram duas obras-primas do futebol inteligente e objetivo.
O outro lance inesquecível dessa
partida -o drible de corpo de Pelé em Mazurkiewicz (depois de
outro passe de Tostão)- também
foi uma jogada inteligente e objetiva.
Se o Rei tentasse um drible convencional, o goleiro, que tinha saído bem do gol, teria mais chances
de bloqueá-lo. Sua melhor saída
era apelar para o inesperado. O
gol não saiu, mas agradeço até
hoje a Pelé por aquele momento
de pura arte.
Imaginação, inteligência, objetividade: é justamente isso o que
tem faltado a essa nossa seleção
cheia de estrelas solitárias.
Um exemplo disso foi o segundo
gol brasileiro contra o México,
quarta-feira. Só saiu uma tabela
entre Rivaldo e Ronaldo porque
este último sofreu a falta na entrada da área (quando tentava
um drible) e a bola sobrou para o
companheiro marcar.
No primeiro tempo daquele jogo
parecia que estava surgindo uma
boa opção de ataque, o deslocamento de Zé Roberto pela ponta
esquerda (de onde saiu o cruzamento para o primeiro gol), mas
ela logo foi esquecida -e o segundo tempo foi um tédio.
A boa nova é que o garoto Ronaldinho tem mostrado, quando
entra, mais sentido coletivo que
seus colegas mais experientes.
Com passes espertos e inesperados, ele está provando que seu futebol não é só "para a torcida". É
também para o time.
Os craques Ronaldo e Rivaldo
podem aprender com ele que, no
futebol, ou ganhamos todos juntos ou quem ganha é o inimigo.
Por falar em Rivaldo, sua entrevista a Tostão e João Carlos Assumpção, publicada ontem neste
caderno, é comovente e esclarecedora. Boa sorte para ele.
José Geraldo Couto escreve aos sábados e
segundas
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