São Paulo, Sábado, 17 de Julho de 1999
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As lições dos confrontos com o Uruguai

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

A cada Brasil x Uruguai nos lembramos, inevitavelmente, de duas partidas memoráveis entre as duas seleções: a final da Copa de 1950, no Maracanã, e a semifinal da de 1970, no México.
Ambas ainda trazem lições que podem ser úteis para amanhã, na final da Copa América.
A "tragédia do Maracanã" nos ensina a não cantar vitória antes do tempo.
Eu não estava lá (ainda não tinha nascido), mas, a julgar pelos relatos de quem estava, o que nos levou ao desastre não foi a suposta falha de Barbosa no segundo gol uruguaio, e sim o clima de "já ganhou" que tomara conta do país, da torcida e dos jogadores.
Um clima semelhante, aliás, ao que contagiou o Brasil dias antes da final com a França, na Copa-98. Em matéria de comemoração antecipada, somos mestres.
Do outro Brasil x Uruguai, o de 70, vencido brilhantemente por Pelé e companhia, quem poderia falar com mais propriedade seria Tostão. Afinal, é de sua atuação naquele jogo que vem o ensinamento mais útil à seleção de hoje.
O Uruguai marcava bem os atacantes brasileiros e anulava nossas principais jogadas ofensivas. Os jogadores decidiram improvisar, e o volante Clodoaldo começou a ir mais à frente.
Numa de suas avançadas, Clodoaldo passou a Tostão, deslocado junto à lateral esquerda do ataque. Com um passe longo e preciso, Tostão devolveu a bola a Clodoaldo na marca do pênalti. Foi o primeiro gol brasileiro.
No terceiro, o mesmo Tostão, pouco antes da intermediária, lançou Jairzinho na diagonal, de tal maneira que pegou o zagueiro uruguaio no contrapé, incapaz tanto de interceptar o passe como de alcançar o atacante brasileiro.
Esses dois passes de Tostão, que levaram o Brasil à final da Copa, foram duas obras-primas do futebol inteligente e objetivo.
O outro lance inesquecível dessa partida -o drible de corpo de Pelé em Mazurkiewicz (depois de outro passe de Tostão)- também foi uma jogada inteligente e objetiva.
Se o Rei tentasse um drible convencional, o goleiro, que tinha saído bem do gol, teria mais chances de bloqueá-lo. Sua melhor saída era apelar para o inesperado. O gol não saiu, mas agradeço até hoje a Pelé por aquele momento de pura arte.
Imaginação, inteligência, objetividade: é justamente isso o que tem faltado a essa nossa seleção cheia de estrelas solitárias.
Um exemplo disso foi o segundo gol brasileiro contra o México, quarta-feira. Só saiu uma tabela entre Rivaldo e Ronaldo porque este último sofreu a falta na entrada da área (quando tentava um drible) e a bola sobrou para o companheiro marcar.
No primeiro tempo daquele jogo parecia que estava surgindo uma boa opção de ataque, o deslocamento de Zé Roberto pela ponta esquerda (de onde saiu o cruzamento para o primeiro gol), mas ela logo foi esquecida -e o segundo tempo foi um tédio.
A boa nova é que o garoto Ronaldinho tem mostrado, quando entra, mais sentido coletivo que seus colegas mais experientes. Com passes espertos e inesperados, ele está provando que seu futebol não é só "para a torcida". É também para o time.
Os craques Ronaldo e Rivaldo podem aprender com ele que, no futebol, ou ganhamos todos juntos ou quem ganha é o inimigo.
Por falar em Rivaldo, sua entrevista a Tostão e João Carlos Assumpção, publicada ontem neste caderno, é comovente e esclarecedora. Boa sorte para ele.


José Geraldo Couto escreve aos sábados e segundas


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