São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2000

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À venda, pelo esporte


Na hora de tirar a roupa, vaidade e cachês gordos dão lugar ao espírito olímpico e financiamento esportivo


MARÍLIA RUIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Posar nu por vaidade ou para fazer aquele pé-de-meia? Não, a moda agora entre atletas é tirar a roupa a fim de arrecadar dinheiro para as suas federações e fazer propaganda de seus esportes.
Com imaginação e muito pouca coisa para cobrir o corpo - como cordas, tênis, bolas e bandeiras-, belgas, australianos, italianos, norte-americanos e espanhóis se entregaram a uma tendência antiga (leia texto ao lado), mas que retomou fôlego no último ano, especialmente com os Jogos.
Atleta posando nu não é nenhuma novidade: só no Brasil, mais de dez jogadores de futebol mostraram tudo em revistas voltadas para os públicos gay e feminino. A diferença é o espírito "filantrópico", onde a finalidade é levantar fundos para treinos ou promover competições como a Olimpíada.
As jogadoras da seleção australiana de futebol "emprestaram" seus corpos para a causa esportiva. No final do ano passado, elas foram fotografadas nuas para um calendário. O objetivo era arrecadar fundos para a então quase falida Federação Australiana de Futebol Feminino (FAFF).
A primeira edição (40 mil exemplares) do calendário 2000, lançado em 30 de novembro de 1999, esgotou em duas semanas. Novas tiragens do calendário foram vendidas em 42 países.
A idéia rendeu US$ 1 milhão para a FAFF. As atletas não receberam nada pelas fotos. "Quase nada. Reconhecimento e popularidade", afrimou a jogadora Amy Taylor.
A primeira edição da revista belga "Menzo", lançada no mês passado, saiu com uma sequência de fotos de atletas olímpicos nus daquele país. A revista traz na capa os velocistas Jonathan Nsenga e Kim Gevaert em posição de largada. Uniformes? Eles apenas calçam sapatilhas de corrida.
"Foi bem fácil fazer as fotos. Corro de top e "shortinho", que deixam o corpo todo de fora", disse Kim, que com o cachê iria custear parte de seu treinamento pré-olímpico nos EUA.
A versão italiana da revista feminina "Cosmopolitan" de agosto também destaca esportistas sem roupa. Na capa, o canoísta Antonio Rossi dissimula a sua nudez apenas com um remo.
Rossi disse ter aceito o trabalho pelo dinheiro e pela divulgação do esporte. "Não sou eu que estou na foto. É um atleta da canoagem."
Os outros atletas da equipe, que recebeu, no total, cerca de US$ 200 mil pelas fotos, recheiam as páginas internas da publicação.
"As revistas com atletas na capa vendem acima da média", disse o fotógrafo Paolo Simonetti, que trabalhou no ensaio italiano.
Apostando nisso, a revista alemã "Gear" colocou uma enquete em seu site para o público dizer quem gostaria de ver na capa, e ganhou a jogadora norte-americana de futebol Brandi Chastain.
Brandi, que já havia aparecido nua na revista "Life", posou apenas com uma bola e as chuteiras.
"Não fiz pela vaidade. É importante combater o preconceito contra mulheres atletas. Podemos ser femininas", disse ela, que integra a equipe olímpica dos EUA.
Nada, porém, supera as fotos de 29 atletas da equipe olímpica australiana. Pela segunda vez -a primeira foi para Atlanta-1996-, uma edição especial da revista australiana "Not Only Black+ White", com subtítulo "The Sydney Dream" (O Sonho de Sydney), é dedicada aos corpos perfeitos dos "deuses" atletas.
A proposta incluía liberdade para os atletas escolherem o local e como eles queriam ser fotografados. O resultado final não mostra nada de pornográfico, mas ainda assim causou muita polêmica.
"Eu recebi algumas reações negativas. Mas, de uma maneira geral, as pessoas gostaram muito. Afinal, as fotos são de muito bom gosto", disse a jogadora de basquete Rachel Sporn.


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