São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001

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Maior parte das transações com o exterior é registrada como "doação"

SOLANO NASCIMENTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Documentos obtidos pela Folha revelam um lado obscuro das transações de jogadores brasileiros para o exterior.
Segundo papéis da própria CBF, apenas um em cada seis jogadores que deixaram o país de maio de 1998 a dezembro de 2000 teve sua ida para o exterior registrada como sendo uma "venda".
A grande maioria foi para outros países em operações registradas como se fossem "doações", sem envolvimento de dinheiro.
No período, foram registrados 205 empréstimos e vendas de jogadores para o exterior. Essas transações envolvem quantias de até US$ 16,35 milhões -caso do volante Vampeta, vendido pelo Corinthians para a Inter de Milão.
No mesmo período, houve o registro de 1.122 saídas de atletas para o exterior sem o envolvimento de transação financeira.
Teoricamente, essas transferências gratuitas ocorrem quando os jogadores obtêm passe livre, em acordos com seus times (quando estes não querem mais pagar os salários) ou em ações na Justiça.
Entre os casos das supostas doações, no entanto, estão operações de milhares de dólares que foram registradas na CBF como transferências sem pagamento.
A prática dificulta investigações do Banco Central -que controla a ocorrência de crime de ilícito cambial na entrada de moeda estrangeira no Brasil- e pode esconder a sonegação de imposto.
A CPI do Futebol quer que o BC faça um cruzamento entre os valores de venda de jogadores para times estrangeiros registrados na CBF e as operações de câmbio registradas pelos clubes brasileiros envolvidos nas transações.
Para isso, a CPI remeteu ao BC uma relação de jogadores vendidos, conforme os registros da CBF. Operações que não constam como vendas ficaram fora da lista. Informalmente, o BC vem trocando informações com a CBF para conferir o registro de câmbio.
A fiscalização busca verificar se o clube que vendeu determinado jogador fez o câmbio da moeda estrangeira em alguma instituição oficial, formalizando assim o registro de entrada de divisas.
Clubes que não fazem o registro das operações de câmbio são multados por terem praticado crime de ilícito cambial.
À exceção dos que são registrados como empresas, os clubes não precisam pagar Imposto de Renda sobre a venda de jogadores para o exterior. Agentes que fazem a intermediação da operação e os próprios jogadores, no entanto, não estão livres do imposto.


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