São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Confecção de ingressos e hospedagem de times motivam troca de farpas

União pela Copa só amplia desunião de Japão e Coréia

DO ENVIADO À CORÉIA DO SUL

Não foi por falta de aviso. Se as relações entre as duas Coréias começam a melhorar, o mesmo não se pode dizer quando o assunto em pauta é o esporte e entra na parada o Japão.
A Copa de 2002, a primeira da história com duas sedes, não está conseguindo diminuir os ressentimentos entre japoneses e sul-coreanos. Pelo contrário. Pelo menos até aqui, tem conseguido aumentar as divergências entre as duas nações asiáticas, como já havia previsto João Havelange, o brasileiro que presidiu a Fifa entre 1974 e 1998 e que foi contrário, desde o início, à divisão da Copa.
O primeiro conflito entre Coréia e Japão deu-se na confecção dos ingressos. Os japoneses mandaram imprimir os bilhetes para vender no mercado interno com a inscrição "Copa Japão/Coréia". Os sul-coreanos não gostaram e foram reclamar à Fifa. A entidade que dirige o futebol lhes deu razão. Como havia sido decidido em 1996, o nome oficial da Copa é Coréia/Japão, não Japão/Coréia.
Se a primeira divergência foi causada pelos japoneses, a segunda, dizem eles, é de responsabilidade dos sul-coreanos.
E o motivo é o lobby que o país está fazendo para receber algumas das principais seleções. O Kowoc -Comitê Organizador da Coréia do Sul-- não se contenta com a possibilidade de hospedar a França, atual campeã mundial. Quer abrigar também as seleções brasileira e italiana e, se possível, gostaria de ter ainda Argentina, Holanda e Croácia.
Inglaterra e Alemanha, conhecidas pela truculência de seus torcedores, ficariam no vizinho.
Os japoneses não gostaram, e Yasuhito Endoh, representante do Jawoc -o Comitê Organizador do Japão- foi reclamar com Michel Zen-Ruffinen, secretário-geral da Fifa.
Para ele, o ideal é obrigar as seleções que caírem na primeira fase no Japão a se concentrar no país, e as que forem atuar na Coréia do Sul, a se hospedar em solo coreano. "Como na primeira fase haverá 16 equipes em cada país, o mais adequado seria que elas continuassem concentradas o tempo todo no mesmo lugar, mesmo que tenham que jogar fora (no outro país-sede) a partir das oitavas-de-final", diz Endoh.
Mas Mong-joon Chung, presidente da Associação de Futebol da Coréia, não concorda. À Folha, ele sugeriu que cada seleção tenha a opção de escolher. "Os Grupos E e G, por exemplo, jogam a primeira fase no Japão, mas a partir das oitavas-de-final (e até as semifinais, pois a final será no Japão) passam a atuar na Coréia. Qual o mal se os times que caírem nessas chaves quiserem, desde o início, ficar na Coréia?", afirma ele.
Pela forma de disputa, haverá oito grupos -os quatro primeiros, do A até o D, começam jogando na Coréia, enquanto os quatro últimos, do E ao H, iniciam no Japão sua caminhada na Copa.
A partir das oitavas-de-final, os times classificados nos Grupos A e C mudam da Coréia para o Japão, o contrário ocorrendo com os das chaves E e G, que saem do Japão para jogar na Coréia.
"Se formos lutar para receber as principais seleções, iremos declarar uma guerra fria interna que não leva a nada", afirma Endoh, dirigente japonês, ao protestar contra visitas de representantes da França, Argentina e Holanda -Croácia e Itália serão os próximos- à Coréia do Sul.
Lee Yun-taek, um dos principais dirigentes do Kowoc, rebate os comentários do colega japonês. ""Não se trata de uma guerra, mas de uma oportunidade para os sul-coreanos. Somos um país mais barato para o estrangeiro (do que o Japão) e menos conhecido. Quanto mais seleções recebermos, melhor", diz ele, completando que o país terá "66 campos de treinamento em 24 cidades nas melhores condições para quem quiser ficar aqui".
E ele vai ainda mais longe. Insinua que os japoneses adotam um discurso, mas, na prática, agem como os coreanos e tentam ficar com o filé. É o caso da seleção brasileira. "Do Brasil eles não abrem mão. Estão mantendo contatos com atletas e ex-atletas brasileiros que atuaram no país pedindo apoio para receber o melhor futebol do mundo", diz Yun-taek.
Diante da ofensiva japonesa, pelo menos no caso do Brasil, ele se mostra preocupado. "Sinceramente, se fosse apostar, diria que o Brasil na primeira fase, como cabeça-de-chave, vai acabar escolhendo ficar no Japão. Mas vamos tentar colocá-lo no Grupo E ou G para, a partir das oitavas-de-final, tê-lo na Coréia", afirma.
Se vai conseguir ou não, é outra história -"o novo técnico de vocês (Emerson Leão) trabalhou no Japão e tem forte ligação sentimental com eles"-, mas que já começou a trabalhar para isso, não resta muita dúvida.


O jornalista João Carlos Assumpção viajou à Coréia do Sul a convite do Comitê Organizador coreano da Copa do Mundo de 2002


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: Norte-coreanos "perdem" jogos, mas vão à festa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.