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FUTEBOL
Confecção de ingressos e hospedagem de times motivam troca de farpas
União pela Copa só amplia desunião de Japão e Coréia
DO ENVIADO À CORÉIA DO SUL
Não foi por falta de aviso. Se as
relações entre as duas Coréias começam a melhorar, o mesmo não
se pode dizer quando o assunto
em pauta é o esporte e entra na
parada o Japão.
A Copa de 2002, a primeira da
história com duas sedes, não está
conseguindo diminuir os ressentimentos entre japoneses e sul-coreanos. Pelo contrário. Pelo menos até aqui, tem conseguido aumentar as divergências entre as
duas nações asiáticas, como já havia previsto João Havelange, o
brasileiro que presidiu a Fifa entre
1974 e 1998 e que foi contrário,
desde o início, à divisão da Copa.
O primeiro conflito entre Coréia
e Japão deu-se na confecção dos
ingressos. Os japoneses mandaram imprimir os bilhetes para
vender no mercado interno com a
inscrição "Copa Japão/Coréia".
Os sul-coreanos não gostaram e
foram reclamar à Fifa. A entidade
que dirige o futebol lhes deu razão. Como havia sido decidido
em 1996, o nome oficial da Copa é
Coréia/Japão, não Japão/Coréia.
Se a primeira divergência foi
causada pelos japoneses, a segunda, dizem eles, é de responsabilidade dos sul-coreanos.
E o motivo é o lobby que o país
está fazendo para receber algumas das principais seleções. O
Kowoc -Comitê Organizador da
Coréia do Sul-- não se contenta com a possibilidade de hospedar a França, atual campeã mundial. Quer abrigar também as seleções brasileira e italiana e, se possível, gostaria de ter ainda Argentina, Holanda e Croácia.
Inglaterra e Alemanha, conhecidas pela truculência de seus torcedores, ficariam no vizinho.
Os japoneses não gostaram, e
Yasuhito Endoh, representante
do Jawoc -o Comitê Organizador do Japão- foi reclamar com
Michel Zen-Ruffinen, secretário-geral da Fifa.
Para ele, o ideal é obrigar as seleções que caírem na primeira fase
no Japão a se concentrar no país, e
as que forem atuar na Coréia do
Sul, a se hospedar em solo coreano. "Como na primeira fase haverá 16 equipes em cada país, o mais
adequado seria que elas continuassem concentradas o tempo
todo no mesmo lugar, mesmo
que tenham que jogar fora (no outro país-sede) a partir das oitavas-de-final", diz Endoh.
Mas Mong-joon Chung, presidente da Associação de Futebol
da Coréia, não concorda. À Folha,
ele sugeriu que cada seleção tenha
a opção de escolher. "Os Grupos E
e G, por exemplo, jogam a primeira fase no Japão, mas a partir das
oitavas-de-final (e até as semifinais, pois a final será no Japão)
passam a atuar na Coréia. Qual o
mal se os times que caírem nessas
chaves quiserem, desde o início,
ficar na Coréia?", afirma ele.
Pela forma de disputa, haverá
oito grupos -os quatro primeiros, do A até o D, começam jogando na Coréia, enquanto os quatro
últimos, do E ao H, iniciam no Japão sua caminhada na Copa.
A partir das oitavas-de-final, os
times classificados nos Grupos A
e C mudam da Coréia para o Japão, o contrário ocorrendo com
os das chaves E e G, que saem do
Japão para jogar na Coréia.
"Se formos lutar para receber as
principais seleções, iremos declarar uma guerra fria interna que
não leva a nada", afirma Endoh,
dirigente japonês, ao protestar
contra visitas de representantes
da França, Argentina e Holanda
-Croácia e Itália serão os próximos- à Coréia do Sul.
Lee Yun-taek, um dos principais dirigentes do Kowoc, rebate
os comentários do colega japonês.
""Não se trata de uma guerra, mas
de uma oportunidade para os sul-coreanos. Somos um país mais
barato para o estrangeiro (do que
o Japão) e menos conhecido.
Quanto mais seleções recebermos, melhor", diz ele, completando que o país terá "66 campos de
treinamento em 24 cidades nas
melhores condições para quem
quiser ficar aqui".
E ele vai ainda mais longe. Insinua que os japoneses adotam um
discurso, mas, na prática, agem
como os coreanos e tentam ficar
com o filé. É o caso da seleção brasileira. "Do Brasil eles não abrem
mão. Estão mantendo contatos
com atletas e ex-atletas brasileiros
que atuaram no país pedindo
apoio para receber o melhor futebol do mundo", diz Yun-taek.
Diante da ofensiva japonesa, pelo menos no caso do Brasil, ele se
mostra preocupado. "Sinceramente, se fosse apostar, diria que
o Brasil na primeira fase, como
cabeça-de-chave, vai acabar escolhendo ficar no Japão. Mas vamos
tentar colocá-lo no Grupo E ou G
para, a partir das oitavas-de-final,
tê-lo na Coréia", afirma.
Se vai conseguir ou não, é outra
história -"o novo técnico de vocês (Emerson Leão) trabalhou no
Japão e tem forte ligação sentimental com eles"-, mas que já
começou a trabalhar para isso,
não resta muita dúvida.
O jornalista João Carlos Assumpção
viajou à Coréia do Sul a convite do Comitê Organizador coreano da Copa do
Mundo de 2002
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