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FUTEBOL
Os nossos Severinos
MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA
É possível que algum dos
perfis publicados sobre o novo presidente da Câmara tenha
informado, mas desconheço a posição em que bateu bola Severino
Cavalcanti (PP-PE). Se jogou no
campo como joga fora dele, deve
ter sido um pontinha-direita tinhoso, ao gosto da velha UDN na
qual engatinhou na política. Não
se trata, certamente, de deputado
alheio ao futebol.
Mais ou menos discreto, deu
uma forcinha à bancada da bola
que combateu a CPI da CBF/Nike. Em 2002, exibiu-se por inteiro:
assinou o relatório que sepultou o
pedido de cassação do seu correligionário Eurico Miranda, o
maioral do Vasco.
A eleição de Severino causou espécie nos redutos do país que resistem nos marcos da civilidade.
Fosse no futebol, ninguém daria a
mínima. Seria apenas mais um.
Severino quer mais verbas de
gabinete, mais banheiros, maiores salários. Sempre com dinheiro
público. É diferente do futebol e
de outros esportes? Não dos "subsídios" que rebaixam o preço de
ingressos e transferem fundos do
Estado para cofres privados. Ou
da prefeitura que desembolsa milhões em candidatura malograda
para a Olimpíada.
Ou do emprego por vezes mal
explicado de parte da arrecadação das loterias que beneficia modalidades olímpicas. Ou da excitação por uma lei de isenção fiscal
em que a União dispensaria recursos e financiaria clubes e federações.
Severino perseguiu Dom Hélder
e o padre italiano Miracapillo?
No futebol, persegue-se quem
afronta os manda-chuvas. Fala o
que não deve? Demite-se o apresentador do programa de TV, nega-se a credencial jornalística para cobrir a Copa.
Do patrimônio de R$ 404 mil
declarados em 2002, Severino tinha R$ 378 mil em dinheiro vivo,
contou o repórter Fernando Rodrigues. O amigão Eurico Miranda também anda endinheirado
por aí: jurou ter sido roubado
quando carregava a parte do
Vasco na renda de um jogo.
Severino critica a "banalização" das denúncias sobre trabalho escravo, lembrou o colunista
Josias de Souza. No futebol a cartolagem se empenha em exterminar direitos dos atletas.
A repórter Catia Seabra descobriu duas propriedades não declaradas pelo deputado. E o que
foi o festival de descobertas, nas
CPIs do Senado e da Câmara, de
patrimônio oculto de dirigentes?
Severino distribui favores. E os
uniformes ofertados aos clubes
pela presidente da Federação Paraibana, a simpática Rosilene
Gomes? E a "mesada" com que a
CBF presenteou federações?
O chefão da Federação do Paraná, Onaireves Moura, foi cassado
pela Câmara por pagar para deputado trocar de partido. Onaireves é quase Severino ao contrário.
Forma na base que sustenta Ricardo Teixeira há década e meia.
Severino quer mudar a duração
do mandato de Lula. Não foi o futebol que se notabilizou por mexer na regra durante o jogo? Na
Câmara, agora quem dá bola é
Severino. No futebol, há muito os
Severinos são os donos da bola.
Briga de foice
Antes da eleição de Severino, o
PP queria o Ministério do Esporte. Agnelo Queiroz (PC do
B) tentava permanecer. Com o
aumento da ambição do PP,
Agnelo pode escapar. Mas será
difícil Lula manter dois ministros do PC do B (o outro é Aldo
Rebelo), partido que tem a incrível marca de uma pasta para
cada 5,5 deputados seus.
Feitiço da Vila
Se a Vila Belmiro não pode receber clássicos, é melhor que a
vetem logo para qualquer jogo.
Não há sentido em permitir que
o Santos atue em casa contra os
pequenos, mas não contra os
grandes. O problema é outro:
há de se reforçar a segurança e
punir de verdade a malta violenta. É direito do Santos jogar
os clássicos na sua Vila.
E-mail
mario.magalhaes@uol.com.br
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