São Paulo, sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

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FUTEBOL

Os nossos Severinos

MÁRIO MAGALHÃES
COLUNISTA DA FOLHA

É possível que algum dos perfis publicados sobre o novo presidente da Câmara tenha informado, mas desconheço a posição em que bateu bola Severino Cavalcanti (PP-PE). Se jogou no campo como joga fora dele, deve ter sido um pontinha-direita tinhoso, ao gosto da velha UDN na qual engatinhou na política. Não se trata, certamente, de deputado alheio ao futebol.
Mais ou menos discreto, deu uma forcinha à bancada da bola que combateu a CPI da CBF/Nike. Em 2002, exibiu-se por inteiro: assinou o relatório que sepultou o pedido de cassação do seu correligionário Eurico Miranda, o maioral do Vasco.
A eleição de Severino causou espécie nos redutos do país que resistem nos marcos da civilidade. Fosse no futebol, ninguém daria a mínima. Seria apenas mais um.
Severino quer mais verbas de gabinete, mais banheiros, maiores salários. Sempre com dinheiro público. É diferente do futebol e de outros esportes? Não dos "subsídios" que rebaixam o preço de ingressos e transferem fundos do Estado para cofres privados. Ou da prefeitura que desembolsa milhões em candidatura malograda para a Olimpíada.
Ou do emprego por vezes mal explicado de parte da arrecadação das loterias que beneficia modalidades olímpicas. Ou da excitação por uma lei de isenção fiscal em que a União dispensaria recursos e financiaria clubes e federações.
Severino perseguiu Dom Hélder e o padre italiano Miracapillo? No futebol, persegue-se quem afronta os manda-chuvas. Fala o que não deve? Demite-se o apresentador do programa de TV, nega-se a credencial jornalística para cobrir a Copa.
Do patrimônio de R$ 404 mil declarados em 2002, Severino tinha R$ 378 mil em dinheiro vivo, contou o repórter Fernando Rodrigues. O amigão Eurico Miranda também anda endinheirado por aí: jurou ter sido roubado quando carregava a parte do Vasco na renda de um jogo.
Severino critica a "banalização" das denúncias sobre trabalho escravo, lembrou o colunista Josias de Souza. No futebol a cartolagem se empenha em exterminar direitos dos atletas.
A repórter Catia Seabra descobriu duas propriedades não declaradas pelo deputado. E o que foi o festival de descobertas, nas CPIs do Senado e da Câmara, de patrimônio oculto de dirigentes?
Severino distribui favores. E os uniformes ofertados aos clubes pela presidente da Federação Paraibana, a simpática Rosilene Gomes? E a "mesada" com que a CBF presenteou federações?
O chefão da Federação do Paraná, Onaireves Moura, foi cassado pela Câmara por pagar para deputado trocar de partido. Onaireves é quase Severino ao contrário. Forma na base que sustenta Ricardo Teixeira há década e meia.
Severino quer mudar a duração do mandato de Lula. Não foi o futebol que se notabilizou por mexer na regra durante o jogo? Na Câmara, agora quem dá bola é Severino. No futebol, há muito os Severinos são os donos da bola.

Briga de foice
Antes da eleição de Severino, o PP queria o Ministério do Esporte. Agnelo Queiroz (PC do B) tentava permanecer. Com o aumento da ambição do PP, Agnelo pode escapar. Mas será difícil Lula manter dois ministros do PC do B (o outro é Aldo Rebelo), partido que tem a incrível marca de uma pasta para cada 5,5 deputados seus.

Feitiço da Vila
Se a Vila Belmiro não pode receber clássicos, é melhor que a vetem logo para qualquer jogo. Não há sentido em permitir que o Santos atue em casa contra os pequenos, mas não contra os grandes. O problema é outro: há de se reforçar a segurança e punir de verdade a malta violenta. É direito do Santos jogar os clássicos na sua Vila.

E-mail mario.magalhaes@uol.com.br


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