São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2004

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FUTEBOL

E as nossas qualidades?

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

"Eles têm dois bons pontas, o Arce é perigosíssimo nas bolas paradas, e a jogada aérea deles é muito forte. É um time muito experiente." Pela descrição que Parreira fez do Paraguai, parece até que o Brasil é um time menor, que precisa se preocupar primeiro com os pontos fortes do rival e, se der, fazer um golzinho.
Não há nada de errado em se preocupar com o que o Paraguai tem de bom, ao contrário; errado é desconhecer ou menosprezar o rival, achando que só o Brasil tem qualidades e o resto é resto. O problema é esquecer que o Brasil tem de fazer valer suas qualidades.
Parreira pode pensar que os brasileiros são excelentes no ataque e que sua função como técnico é organizar o time para que se defenda bem, alcançando o tão falado equilíbrio. Se for esse o caso, ele está enganado. Ofensivamente, a seleção tem deixado muito a desejar. Nas entrevistas depois dos jogos, o próprio Parreira vive reclamando que "é difícil jogar contra um time que tem oito atrás da linha da bola". Claro que é, mas também devíamos nos preparar para isso, e não só para marcar os pontas paraguaios.
O pior é que vamos mal defensivamente. Quando temos a bola, sofremos para passar do meio-campo. Quando somos atacados, é um deus-nos-acuda. Se a defesa é uma obsessão, podíamos ao menos marcar bem no meio-campo, até no campo de ataque, e contra-atacar de modo fulminante. Há bons times que jogam no contra-ataque (alguém aí falou em Copa de 70?). Mas não temos jogadas em velocidade; Parreira gosta de "valorizar a posse de bola". Ora, jogar de modo equilibrado é saber alternar velocidade e cadência, momentos de "abafa" e de paciência. Cautela em excesso também é desequilíbrio.
Parreira valoriza demais a experiência, como se esta fosse um valor absoluto. "Não é hora de novidade", diz, dando à "novidade" uma conotação negativa. Quando será a hora? Em plena Copa? Sei... Ronaldo ficou no banco até o fim em 94 -e já cintilava de talento e entusiasmo. Talvez aquela campanha fosse mais gostosa com ele em campo em algum momento.
Já que temos pouco tempo para treinar -menos ainda do que o normal, com a Conmebol e a Fifa batendo cabeça- e já que os atletas chegarão cansados de viagem, não podíamos convocar mais atletas que atuam no Brasil, para aproveitar o entrosamento e o pique? Léo poderia jogar com Robinho; Alex, com Maurinho. Zé Roberto, Cafu e Roberto Carlos por certo entenderiam o motivo de sua ausência. Kaká e Luis Fabiano poderiam se reencontrar no time titular, e os paraguaios teriam um caminhão de problemas com que se preocupar -e eu ainda nem mencionei Ronaldinho.
Talvez faltasse poder de marcação, mas Kaká e Alex podem ser mais úteis nos desarmes do que costumamos supor. E uma vez com a bola, sabem muito bem o que fazer com ela. É arriscar demais na eliminatória? Um amistoso poderia ter essa utilidade...
Quanto à zaga convocada, sem comentários.

Flores
Pra não dizer que não falei delas, adorei a convocação de Renato e Juninho Pernambucano. Queria que jogassem.

Santo errado
O São Paulo não salvou o Corinthians -por coincidência, o tricolor foi o último adversário do Juventus, que não ganhou de quase ninguém e só por milagre venceria o líder do campeonato. Mas o erro escandaloso do árbitro Robério Pires no jogo Corinthians x Juventus fez toda a diferença. Com a derrota que se desenhava ali, o Corinthians seria o lanterna.

Tabela boa
De um lado, o décimo colocado cai. Do outro, não. São as maravilhas de um torneio com 21 times divididos em dois grupos.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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