São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2000


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FUTEBOL

Jornal velho, notícias frescas

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

L er o jornal do dia é essencial, mesmo que o leitor se concentre apenas no que lhe interessa, como o caderno de esportes, e ignore os cadernos "sérios" (atenção, eu pus aspas). Por causa do Ronaldo, eu aprendi, depois de anos fora da escola, a diferença entre tendão e ligamento. Se isso vai me servir para alguma coisa? Ué, quem sabe?
Por meio do futebol, podemos aprender um pouco mais de história, geografia, física, anatomia, política (e politicagem), lei, direito etc. Mas existe uma outra maneira muito instrutiva e divertida de se utilizar o antigo embrulhador de peixe: ler jornal velho, de dias, meses ou anos atrás.
Rever as promessas dos políticos antes da eleição e as apostas para a Copa do Mundo. Lembrar que o Junior Baiano declarou, quando estava no Palmeiras: "Estão dizendo que eu vou jogar no Vasco? É brincadeira? Todo mundo sabe que eu sou flamenguista!". Ou reviver os momentos em que o Scolari garantiu que não estava negociando sua vinda para o Palmeiras (talvez ele tivesse um motivo justo para não falar sobre isso; quem sabe o mesmo motivo para não falar sobre o Real Madrid agora...).
Reparem nesse trecho de jornal de quase dez anos atrás, sobre a contratação do Roberto Dinamite pela então Portuguesa de Desportos: "A tentativa com jogadores de expressão, mas de idade avançada, tem três objetivos: arrumar o ataque, transmitir experiência aos mais novos e atrair torcedores. (...) A partir de 88, a Portuguesa reformulou seus planos. Lançou o juvenil Bentinho, que fez sua primeira partida como profissional com 16 anos.(...) Os veteranos atacantes não conseguiram aumentar a média de torcedores da Portuguesa. O time atrai pouco mais de quatro mil pagantes por partida". Não é genial? O mundo gira, a Lusitana roda. O Bentinho está de volta, quase como um "veterano", e a Lusitana, quer dizer, a Lusa continua não enchendo o Canindé.
É muito difícil o público da Lusa aumentar durante o Campeonato Paulista, a não ser que ela chegue à final. Quando os times grandes são desclassificados, as suas torcidas passam a apoiar a Lusa contra os antigos rivais. Em um jogo Lusa x Corinthians, alviverdes e rubroverdes sentam-se lado a lado, e assim por diante.
No Brasileiro é mais fácil ainda agregar torcedores. Quem for anti-Vasco, anti-Flamengo, anti-Grêmio ou anti-qualquer outro "Golias" vai torcer sempre pelo "Davi" adversário, que pode ser a Lusinha, o Guarani, o América, o Santa Cruz... Nessa hora, a torcida não faz distinção de cor, Estado, bandeira. Quer mais é que o seu rival se estrepe.
Voltando ao assunto jornal velho, talvez metade do que está sendo escrito esses dias pudesse ser reaproveitado do ano passado. Arbitragens ruins, campeonatos encavalados, violência dentro e fora do campo, intrigas e frituras nos clubes, conflitos entre os jogadores, suspeitas nos tribunais... Tomara que pelo menos uma parte desse texto fique obsoleto para o ano que vem.

Como bem lembrou um leitor, a violência não é só um problema do futebol. É um absurdo que as pessoas elejam torcedores de outro time como seus inimigos mortais (em última instância, eles são iguais na sua paixão fanática por futebol e pelas cores dos seus clubes), mas eu acho muito difícil que o sujeito que sai de casa com uma bomba caseira, um revólver ou um pedaço de pau só seja violento por causa do futebol. É provável que ele esteja pronto para brigar por causa de um arranhão no seu carro, uma garota, o som alto do vizinho ou um desaforo qualquer. Mesmo que ele seja "um homem de bem", pai de família, trabalhador.
Às vezes parece que violentos são sempre "os outros", mas quase todos têm um momento em que acreditam que só a porrada resolve um problema ou que fulano estava pedindo para apanhar. Quando se junta a essa noção estranha de justiça a posse de uma arma, a chance do "homem de bem" fazer besteira é grande.
Eu sou totalmente contra a existência de armas. Estou com o Hélio Luz: se o governo busca combater o tráfico destruindo as plantações de coca, poderia combater o tráfico de fuzis fechando a fábrica de AR-15. Mas também concordo com aqueles que acham a que a descriminação do consumo de drogas poderia trazer menos danos do que o atual regime, que é incapaz de impedir o uso e ainda acarreta a existência de uma rede poderosa de ilegalidade.
Transferir isso para a questão das armas significa admitir que banir ou proibir todas as armas não é possível, portanto uma lei assim não vai resolver o problema. Mas exercer um controle rígido sobre as armas legais e combater de verdade o comércio, a posse e o porte de armas ilegais são medidas de extrema importância para o bem estar de todos, seja qual for a cor de suas camisas.


soninha.folha@uol.com.br



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