|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Jornal velho, notícias frescas
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
L er o jornal do dia é essencial,
mesmo que o leitor se concentre apenas no que lhe interessa,
como o caderno de esportes, e ignore os cadernos "sérios" (atenção, eu pus aspas). Por causa do
Ronaldo, eu aprendi, depois de
anos fora da escola, a diferença
entre tendão e ligamento. Se isso
vai me servir para alguma coisa?
Ué, quem sabe?
Por meio do futebol, podemos
aprender um pouco mais de história, geografia, física, anatomia,
política (e politicagem), lei, direito etc. Mas existe uma outra maneira muito instrutiva e divertida
de se utilizar o antigo embrulhador de peixe: ler jornal velho, de
dias, meses ou anos atrás.
Rever as promessas dos políticos
antes da eleição e as apostas para
a Copa do Mundo. Lembrar que o
Junior Baiano declarou, quando
estava no Palmeiras: "Estão dizendo que eu vou jogar no Vasco?
É brincadeira? Todo mundo sabe
que eu sou flamenguista!". Ou reviver os momentos em que o Scolari garantiu que não estava negociando sua vinda para o Palmeiras (talvez ele tivesse um motivo justo para não falar sobre isso; quem sabe o mesmo motivo
para não falar sobre o Real Madrid agora...).
Reparem nesse trecho de jornal
de quase dez anos atrás, sobre a
contratação do Roberto Dinamite
pela então Portuguesa de Desportos: "A tentativa com jogadores
de expressão, mas de idade avançada, tem três objetivos: arrumar
o ataque, transmitir experiência
aos mais novos e atrair torcedores. (...) A partir de 88, a Portuguesa reformulou seus planos.
Lançou o juvenil Bentinho, que
fez sua primeira partida como
profissional com 16 anos.(...) Os
veteranos atacantes não conseguiram aumentar a média de torcedores da Portuguesa. O time
atrai pouco mais de quatro mil
pagantes por partida". Não é genial? O mundo gira, a Lusitana
roda. O Bentinho está de volta,
quase como um "veterano", e a
Lusitana, quer dizer, a Lusa continua não enchendo o Canindé.
É muito difícil o público da Lusa aumentar durante o Campeonato Paulista, a não ser que ela
chegue à final. Quando os times
grandes são desclassificados, as
suas torcidas passam a apoiar a
Lusa contra os antigos rivais. Em
um jogo Lusa x Corinthians, alviverdes e rubroverdes sentam-se
lado a lado, e assim por diante.
No Brasileiro é mais fácil ainda
agregar torcedores. Quem for anti-Vasco, anti-Flamengo, anti-Grêmio ou anti-qualquer outro
"Golias" vai torcer sempre pelo
"Davi" adversário, que pode ser a
Lusinha, o Guarani, o América, o
Santa Cruz... Nessa hora, a torcida não faz distinção de cor, Estado, bandeira. Quer mais é que o
seu rival se estrepe.
Voltando ao assunto jornal velho, talvez metade do que está
sendo escrito esses dias pudesse
ser reaproveitado do ano passado. Arbitragens ruins, campeonatos encavalados, violência dentro
e fora do campo, intrigas e frituras nos clubes, conflitos entre os
jogadores, suspeitas nos tribunais... Tomara que pelo menos
uma parte desse texto fique obsoleto para o ano que vem.
Como bem lembrou um leitor, a
violência não é só um problema
do futebol. É um absurdo que as
pessoas elejam torcedores de outro time como seus inimigos mortais (em última instância, eles são
iguais na sua paixão fanática por
futebol e pelas cores dos seus clubes), mas eu acho muito difícil
que o sujeito que sai de casa com
uma bomba caseira, um revólver
ou um pedaço de pau só seja violento por causa do futebol. É provável que ele esteja pronto para
brigar por causa de um arranhão
no seu carro, uma garota, o som
alto do vizinho ou um desaforo
qualquer. Mesmo que ele seja
"um homem de bem", pai de família, trabalhador.
Às vezes parece que violentos
são sempre "os outros", mas quase todos têm um momento em
que acreditam que só a porrada
resolve um problema ou que fulano estava pedindo para apanhar.
Quando se junta a essa noção estranha de justiça a posse de uma
arma, a chance do "homem de
bem" fazer besteira é grande.
Eu sou totalmente contra a existência de armas. Estou com o Hélio Luz: se o governo busca combater o tráfico destruindo as plantações de coca, poderia combater
o tráfico de fuzis fechando a fábrica de AR-15. Mas também concordo com aqueles que acham a
que a descriminação do consumo
de drogas poderia trazer menos
danos do que o atual regime, que
é incapaz de impedir o uso e ainda acarreta a existência de uma
rede poderosa de ilegalidade.
Transferir isso para a questão
das armas significa admitir que
banir ou proibir todas as armas
não é possível, portanto uma lei
assim não vai resolver o problema. Mas exercer um controle rígido sobre as armas legais e combater de verdade o comércio, a posse
e o porte de armas ilegais são medidas de extrema importância
para o bem estar de todos, seja
qual for a cor de suas camisas.
soninha.folha@uol.com.br
Texto Anterior: +Esporte Academia: Academias adotam estratégias para manter alunos no inverno Próximo Texto: Televisão: PSN aposta suas fichas no Palmeiras e decide não mandar equipe para Minas Índice
|