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FUTEBOL
A lição de Denival
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Poucas coisas dão tanto
prazer como a vingança.
Ela nos rega a alma com uma
sensação de justiça e equilíbrio.
"Doce é a vingança", dizem os
poetas. "A vingança é um prato
que se come frio", diz a sabedoria popular. "Minha é a vingança", diz ninguém menos que...
Deus.
Ela foi a causa de guerras e o
tema de obras clássicas da literatura: Por que Iago, um dos
mais famosos personagens de
Shakespeare, quis vingar-se do
seu comandante, o mouro Otelo? Por ter sido preterido numa
promoção. Por que Diadorim
passou a integrar o grupo de
Riobaldo Tatarana, em "Grande Sertão: Veredas"? Para acabar com a vida do jagunço Hermógenes e vingar o assassinato
do pai.
É por essas e outras razões que
imagino a alegria dos palmeirenses após o time ter derrotado
o São Caetano, anteontem. Foi
mais que uma vitória, foi uma
vitória com sabor de vingança.
Apesar de o clássico Verdão x
Azulão não ter ainda um ano de
vida, pode-se dizer que já tem
seu histórico. O time do ABC
vem construindo uma reputação de asa negra (ou azul) do
Palmeiras, assim como a Lusa
foi um dia para o Santos e o Juventus foi, outrora, para o Corinthians.
A desclassificação na Copa
João Havelange deixou a torcida alviverde de queixo caído e
acabou com a banca do time
"bom e barato" de Marco Aurélio. Viu-se que boa e barata era
a equipe de Jair Picerni. A equipe do Parque Antarctica era
apenas "barata e barata".
É verdade que o Palmeiras
venceu o jogo do Paulistão -2
a 0-, mas aquilo não foi mais
que uma vingancinha. Uma
vingança, para valer, precisa ser
vingança com vê maiúsculo.
Desta vez, sim, pode-se dizer
que ela veio.
O São Caetano teve o jogo nas
mãos e esteve muito perto de um
avanço histórico na Libertadores, apagando a má impressão
deixada com a campanha da
primeira fase. A cada chuveirinho inútil, a cada bola perdida,
a tragédia se desenhava no gelado Parque Antarctica. Mas o
Palmeiras conseguiu a sobrevida graças ao descerebrado Aílton e aos pênaltis. Agora parte
para um duelo sentimental contra Felipão.
Foi uma vingança? Sem dúvida. Mas lembrou-me um pouco
o caso de Denival, que, numa
quermesse ocorrida em Itariri,
topou com a namorada aos beijos com outro. Cego de ciúmes,
ele pegou a primeira arma que
viu e saiu atirando como um
louco. O amante caiu fora, e a
namorada, ajoelhada, em prantos, pediu desculpas. Denival ficou feliz a princípio, mas, depois, olhando para o chão,
achou engraçado o fato de que
não havia ali nenhuma poça de
sangue. Só então se deu conta de
que tinha atirado com um revólver de espoleta. As pessoas
trocavam risinhos, e ele não sabia se considerava aquilo uma
vitória ou uma derrota.
O triunfo do Palmeiras, guardadas as proporções, foi como a
vingança de Denival. Apesar da
desforra e do final feliz, não sei
se há razões para muita festa: o
time não conseguiu impor seu
ritmo (nem quando o São Caetano estava com dez), pressionou o adversário de forma caótica, sofreu inúmeros contra-ataques e só fez o gol depois de
uma jogada individual.
Os torcedores que me desculpem, mas, jogando esse futebol,
o time não vinga.
Inhos
O leitor Guilherme Meirelles nota que as tragédias do Santos
sempre estão associadas ao sufixo "inho". Ele não recua até os
tempos de Toinzinho, Toninho Carlos e Serginho Fraldinha,
mas lembra que o time perdeu o título brasileiro de 95 quando
era dirigido por Cabralzinho e o goleiro era Edinho. Agora, o
técnico era Geninho, e os gols do rival foram de Marcelinho e
Ricardinho. Realmente uma coincidência maiúscula.
Lampião de gás
Como patriota que sou, não posso me furtar a contribuir com o
nosso iluminista FHC, portanto: passarei a datilografar as crônicas na minha velha e empoeirada Lettera, sob a luz de um
lampião de gás. Depois irei até o correio a pé -e enviarei o texto à Redação. Assim estarei transmitindo uma corrente (ops!)
de energia (ops!) para que o Brasil saia das trevas e retome o caminho da luz (ops!). Força (ops!), presidente!
E-mail: torero@uol.com.br
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