São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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Sul-africanos já orquestram crítica ao rigor da Fifa

Dirigentes da próxima Copa dizem que entidade seria mais paciente se falhas ocorressem em país de Primeiro Mundo

"Todo mundo pede mais dinheiro durante as obras, mas nós não podemos pedir um desconto para a Fifa", afirma presidente do comitê


DO ENVIADO À ÁFRICA DO SUL

Acuados, os sul-africanos já começam a mostrar os dentes para a Fifa. Os responsáveis pelos estádios avaliam que a entidade seria bem menos rigorosa se os mesmos problemas, como os atrasos nas obras, ocorressem com uma sede européia.
"A Fifa põe pressão demais quando não se trata de um país do Primeiro Mundo. Por isso existem essas histórias de que nós vamos perder a Copa do Mundo, de que não cumpriremos os prazos... Mas nada disso irá ocorrer", afirmou Errol Heynes, diretor-executivo do estádio de Port Elizabeth.
Menos direto, Danny Jordaan, presidente do comitê organizador, também refere-se à Fifa quando comenta o estouro no orçamento da Copa.
"Todo mundo pede mais dinheiro durante as obras, mas nós não podemos pedir desconto para a Fifa", afirmou o dirigente, para justificar o estouro no orçamento do evento.
July-May Ellingson, que coordena o projeto da arena de Durban, critica até os gramados da Copa da Alemanha, sugerindo uma certa complacência da federação com os últimos anfitriões. Assegura que, em sua arena, a grama será perfeita.
E cita de novo os anfitriões do último Mundial para explicar a campanha que Durban fará para incentivar os torcedores a caminharem até seu estádio -o transporte público é ineficiente na maioria das sedes da próxima Copa.
"Existem bons hotéis por perto. No Mundial da Alemanha, as pessoas andavam até três quilômetros para chegar aos estádios, mas ninguém vai reclamar da Alemanha", diz.
Após a Copa, Ellingson terá outro problema em mãos. O tamanho do estádio, que será usado só até as quartas-de-final, é tão acima das necessidades da cidade que precisará ser encolhido depois do torneio.
A capacidade passará de 70 mil pessoas para 54 mil.
Ela também aproveita para cutucar a Fifa ao explicar o porquê da construção da nova arena, no mesmo complexo que abriga um estádio de rúgbi. "A inclinação do estádio já existente é fora dos padrões da Fifa, por isso tivemos que construir um novo", afirmou.
Segundo ela, o custo inicial era equivalente a R$ 600 milhões. A obra agora está orçada em cerca de R$ 870 milhões.
"Isso aconteceu porque, quando você ganha o direito de fazer a Copa do Mundo, todos os preços sobem", disse Ellingson. Como ocorreu no Pan do Rio, os maiores gastos de Durban com o Mundial serão cobertos pelo governo federal.
Na Cidade do Cabo, a construção do estádio, com capacidade para 48 mil lugares, vai custar cerca de R$ 1,3 bilhão aos cofres públicos. E mais R$ 2,3 bilhões em infra-estrutura.
A maior parte da verba sairá do governo nacional. A arena será aproveitada até as semifinais.
O sentimento de que a África do Sul é desrespeitada estende-se também aos torcedores. "Estamos treinando os policiais para lidar com o público durante a Copa. Só que os torcedores também têm que respeitar os policiais sul-africanos da mesma forma como respeitam os alemães", completou Ellingson. (RICARDO PERRONE)


O jornalista RICARDO PERRONE viajou a convite do South African Tourism e da South African Airways


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