São Paulo, Terça-feira, 18 de Maio de 1999
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Ser ou não ser o Palmeiras, eis a questão

JUCA KFOURI
Colunista da Folha

Não, aqui não se tratará do sagrado direito que todos têm de torcer para quem quiser.

Comecemos pelo menor.
Aparentemente, o caminho da Lusa e do União Barbarense é menos árduo para chegar às semifinais do Paulistão.
A Lusa, descansada, tem o Rio Branco, no Canindé, e o Palmeiras pela frente.
O Palmeiras, esfalfado ou com o time reserva, tem a Matonense, em Matão, e a Lusa, além de estar um ponto atrás.
Já o time de Santa Bárbara, apesar de estar com dois pontos de desvantagem, tem o Mogi Mirim, em casa, e a Portuguesa Santista, em Santos -enquanto o Corinthians tem o Santos, na capital, e o Mogi, em Mogi Mirim.
Verdade que o Corinthians está em franca ascensão, ao contrário, aliás, do Santos. E que só lhe resta o consolo de tentar ser o "campeão paulista do século", meta que atingirá se ganhar o estadual pela 23ª vez nesta temporada.
Não é menos verdade, no entanto, que semelhante façanha apenas enfatizará ainda mais aquilo que o estigmatiza: o Corinthians é um clube provinciano, o mais provinciano de São Paulo se o Palmeiras vier a vencer a Libertadores.
E que importância tem isso?
Rigorosamente, nenhuma.
Porque se alguém ainda quer provas da falência dos estaduais, pegue o jornal de ontem.
Quase toda a primeira página do caderno Esporte desta Folha é dedicada à vitória de Guga no Torneio de Roma.
O título da coluna de José Geraldo Couto diz respeito ao crime que querem praticar na sagrada camisa da "Azurra", embora abra falando do empate entre Lusa e São Paulo.
A página três é integralmente dedicada ao basquete, e só na página seguinte o Paulistão entra em cena para valer.
Paulistão que foi desdenhado no "Cartão Verde" pelo são-paulino Edmílson, que se referiu à Copa do Brasil como "muito mais importante".
Enfim, exceção feita aos palmeirenses, todos imitam FHC: quem não tem cão caça com gato, ou seja, já que não tem tu, vai tu mesmo.
Enquanto isso, na Europa, a insossa fórmula dos pontos corridos levou o Manchester United a ser campeão inglês na última rodada, um ponto na frente do Arsenal. E levou o Milan a passar um ponto adiante da Lazio, a uma dramática rodada do fim.
Mais: na Espanha, apesar dos dez pontos de vantagem do Barcelona, os estádios permanecem repletos, porque as colocações seguintes valem lugares na taças continentais. Perdão, leitor. Falemos do que importa.

E nada importa tanto como o jogo do Palmeiras amanhã em Buenos Aires. Só resta saber que Palmeiras teremos.
O Palmeiras com pinta de campeão, que mal ou bem (mais mal do que bem) tem alcançado todos os resultados que busca?
Ou o Palmeiras à altura de seu elenco, capaz de explorar a sede de gols do River Plate para sair finalista do Monumental de Núñez? - um estádio que lembra o Morumbi em tudo, até no time que hospeda, que carrega o rótulo de elite a exemplo do São Paulo.
Eis a questão que o estressado Scolari, qual um Shakespeare dos pampas, tem que resolver.


Juca Kfouri escreve às terças, sextas e domingos


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