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FUTEBOL
Profissionais da área desafiam a alta rotatividade do setor com postura discreta e ficam por décadas nos clubes
Médicos fogem da regra e viram "eternos"
PAULO COBOS
RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL
A seleção brasileira não sabe
quem vai dirigir o time no amistoso do próximo mês contra a Coréia do Sul, mas sabe quem será o
médico. O Corinthians teve cinco
presidentes nos últimos 23 anos,
mas manteve o mesmo médico.
O Cruzeiro contratou mais de
duas dezenas de técnicos no Brasileiro a partir de 1973, mas não
trocou de médico desde então.
No mundo do futebol brasileiro,
muda-se de técnico, de jogador,
de diretor e até de presidente, mas
os médicos, que hoje comemoram seu dia, parecem eternos.
Alguns deles já cumprem a terceira década de serviços para suas
agremiações, como é o caso do
santista Carlos Braga, 51, do corintiano Joaquim Grava, 52, e do
cruzeirense Ronaldo Nazaré, 55,
que assumiram os empregos logo
depois de formados na faculdade.
E outros clubes da elite, como
São Paulo, Flamengo e Atlético-MG, também têm exemplos de
doutores duradouros.
Em um universo conhecido pela alta rotatividade, eles alcançaram a estabilidade com uma receita: não se meter na política interna de seus clubes e conquistar a
confiança geral.
"O médico tem de ser apolítico", afirma o são-paulino José
Sanchez, 49, no clube desde 1985.
"Não pode ser conselheiro e deve
sorrir para situação e oposição",
concorda Grava, que está há 23
anos no Corinthians, passando
ileso pelas gestões de Vicente Matheus, Waldemar Pires, Roberto
Pásqua, Marlene Matheus e, finalmente, a de Alberto Dualib.
"Todos os diretores que passaram pelo clube, com exceção de
um, são meus amigos. Tomo cerveja com eles até hoje", diz Nazaré, que começou nas categorias de
base do Cruzeiro em 1973 e passou para o departamento profissional dois anos mais tarde.
Os médicos da velha-guarda
são, em sua grande maioria, ortopedistas, afinal, o organograma
do chamado D.M. (Departamento Médico) contava antigamente
apenas com esse tipo de especialista e mais um massagista.
"Eu cuidava até da alimentação,
sendo que médico só entende de
alimentar doente, não gente sadia", lembra Grava. ""Na época,
era proibido dar lasanha. Acreditava-se que dava sono. Hoje é recomendada pelas nutricionistas."
Atualmente, há um exército de
fisiologistas e fisioterapeutas ao
lado dos médicos nos grandes.
No Atlético-MG, duas gerações
de médicos, da mesma família, fizeram essa transição. Depois de
comandar o departamento medico do clube por quase 30 anos
-assumiu no início dos anos
70-, Neylor Lasmar, que também trabalhou na seleção brasileira, passou a atribuição em 2001
para seu filho Rodrigo, 30.
Ou seja, a dinastia atleticana dos
Lasmar pode durar mais de 50
anos. "Tomara que isso possa
acontecer", diz o herdeiro.
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