São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Profissionais da área desafiam a alta rotatividade do setor com postura discreta e ficam por décadas nos clubes

Médicos fogem da regra e viram "eternos"

PAULO COBOS
RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

A seleção brasileira não sabe quem vai dirigir o time no amistoso do próximo mês contra a Coréia do Sul, mas sabe quem será o médico. O Corinthians teve cinco presidentes nos últimos 23 anos, mas manteve o mesmo médico.
O Cruzeiro contratou mais de duas dezenas de técnicos no Brasileiro a partir de 1973, mas não trocou de médico desde então.
No mundo do futebol brasileiro, muda-se de técnico, de jogador, de diretor e até de presidente, mas os médicos, que hoje comemoram seu dia, parecem eternos.
Alguns deles já cumprem a terceira década de serviços para suas agremiações, como é o caso do santista Carlos Braga, 51, do corintiano Joaquim Grava, 52, e do cruzeirense Ronaldo Nazaré, 55, que assumiram os empregos logo depois de formados na faculdade.
E outros clubes da elite, como São Paulo, Flamengo e Atlético-MG, também têm exemplos de doutores duradouros.
Em um universo conhecido pela alta rotatividade, eles alcançaram a estabilidade com uma receita: não se meter na política interna de seus clubes e conquistar a confiança geral.
"O médico tem de ser apolítico", afirma o são-paulino José Sanchez, 49, no clube desde 1985. "Não pode ser conselheiro e deve sorrir para situação e oposição", concorda Grava, que está há 23 anos no Corinthians, passando ileso pelas gestões de Vicente Matheus, Waldemar Pires, Roberto Pásqua, Marlene Matheus e, finalmente, a de Alberto Dualib.
"Todos os diretores que passaram pelo clube, com exceção de um, são meus amigos. Tomo cerveja com eles até hoje", diz Nazaré, que começou nas categorias de base do Cruzeiro em 1973 e passou para o departamento profissional dois anos mais tarde.
Os médicos da velha-guarda são, em sua grande maioria, ortopedistas, afinal, o organograma do chamado D.M. (Departamento Médico) contava antigamente apenas com esse tipo de especialista e mais um massagista.
"Eu cuidava até da alimentação, sendo que médico só entende de alimentar doente, não gente sadia", lembra Grava. ""Na época, era proibido dar lasanha. Acreditava-se que dava sono. Hoje é recomendada pelas nutricionistas."
Atualmente, há um exército de fisiologistas e fisioterapeutas ao lado dos médicos nos grandes.
No Atlético-MG, duas gerações de médicos, da mesma família, fizeram essa transição. Depois de comandar o departamento medico do clube por quase 30 anos -assumiu no início dos anos 70-, Neylor Lasmar, que também trabalhou na seleção brasileira, passou a atribuição em 2001 para seu filho Rodrigo, 30.
Ou seja, a dinastia atleticana dos Lasmar pode durar mais de 50 anos. "Tomara que isso possa acontecer", diz o herdeiro.


Texto Anterior: Wortmann perde 1º jogo
Próximo Texto: Na seleção, CBF também aposta na longevidade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.