|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Meus times inesquecíveis
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
O Santos de Pelé, o Real Madrid de Puskas, o Ajax de
Cruyff e o Bayern de Beckenbauer
foram times inesquecíveis. Suas
vitórias, seus títulos, seus gols e
seus lances maravilhosos os colocaram na galeria das equipes
imortais. Hoje eles são lembrados
em todo o mundo e seus feitos viraram lendas. Mas há outros times lendários. Muitos outros.
Há, por exemplo, o memorável
Lilipov, da Bulgária, um esquadrão muito famoso na década de
30. O Lilipov foi pentacampeão
da Copa Sofia. O curioso é que o
time era formado apenas por
anões. Não eram muito bons nas
bolas altas, mas eram imbatíveis
no jogo por baixo.
Houve também o italiano Forza
Sinistra, que fez sucesso com uma
equipe formada apenas por jogadores canhotos. Em 1923, chegou
à final de um torneio de verão em
Trieste, quando venceu o time dirigido pelo pai de Mussolini. A
história aparece no livro "Origens
do Fascismo Italiano", de Scherzo
di Vero, e é uma das explicações
para as posições políticas de Mussolini, que odiava a esquerda e os
esquerdistas.
Houve, em El Salvador, um time formado por atletas de comportamento sexual heterodoxo
chamado Rainbow Power. Seus
jogos eram motivo de festa e grande alegria nas cidades por onde
passava. Certa vez, o Rainbow foi
convidado para uma melhor de
três contra o time das Forças Armadas e, para isso, teve que ficar
no alojamento da equipe rival
por 15 dias. O Rainbow foi goleado nos três jogos. E 22 soldados
desertaram nos dias seguintes.
No interior mais profundo da
selva brasileira corre a história de
um time formado apenas por índias, obviamente chamado de
Amazonas. Nos anos 50, a equipe
sagrou-se campeã do campeonato de nações indígenas. Porém,
como o torneio não permitia a
participação de mulheres, elas tiveram que se disfarçar, cortando
os cabelos e usando roupas folgadas. O truque só foi descoberto
quando a atacante Iperebê, já no
alto de pódio e pronta para erguer a taça, aceitou trocar de camisa com seu adversário.
Em Portugal, nos anos 40, registrou-se uma curiosa equipe formada apenas por jogadores que
tinham o nome de Joaquim. Ela
disputava clássicos ferrenhos contra o time da cidade vizinha, o
dos Manoéis. A idéia logo alastrou-se pelo país, e o deputado
Joaquim Manuel Pereira, amigo
pessoal de Salazar, chegou a propor a extinção dos times tradicionais, colocando em seu lugar os
esquadrões de Nunos, Vascos, Pedros e Paulos. Só se voltou à fórmula original quando um dirigente lembrou que Eusébio seria
obrigado a deixar o país por não
encontrar um time para jogar.
Mas ainda há outros times lendários, como o Atlético Pançal, do
Rio Grande do Sul, que só aceitava atletas com mais de cem quilos. Sua escalação era: Azeitona;
Bola; Barriga, Balão e Redondo;
Elefante, Tonelada e Quebra Balança; Prato Vazio, Zé Quindim e
Cadê meu Umbigo. O Atlético
Pançal fez sucesso com seu jogo
defensivo e chegou a ser convidado para fazer uma rendosa excursão no Uruguai. Porém, para tristeza geral, a excursão durou pouco. Logo que o time subiu no ônibus cedido pelos uruguaios, a suspensão despedaçou-se, enterrando a carreira internacional.
Esses times foram inesquecíveis
e merecem a nossa homenagem.
Assim como Santos, Real Madrid,
Ajax e Bayern, eles ajudaram a
fazer do futebol um espetáculo
que não conhece monotonia.
Sansão
São Paulo e Santos foi um
grande jogo, um daqueles em
que há uma agitada gangorra
de emoções. Primeiro, o são-paulino ficou orgulhoso de
seu time, que, em cinco minutos, perdeu duas belas
chances. Depois foi a vez dos
santistas, que, nos 40 minutos seguintes, mostraram um
futebol quase perfeito. Pena
que, se o time jogava como
num sonho, a pontaria era
um pesadelo. Depois, foi novamente a vez de os são-paulinos sorrirem, com os dois
gols relâmpagos. Aí chegou a
hora dos santistas, que mostraram os dentes, com o empate. E os tricolores riram por
último, com o gol de Ricardinho. Mas, curiosamente, os
torcedores santistas não saíram de campo, ou da sala, cabisbaixos. Houve a certeza de
que a equipe é excelente e pode vencer qualquer jogo. Há
muito eu não via torcedores
perderem um clássico e saírem sorrindo.
E-mail torero@uol.com.br
Texto Anterior: Boxe - Eduardo Ohata: Vestibular para esperança branca Próximo Texto: Basquete: CBB adia escolha de técnicos para 2003 Índice
|