São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Meus times inesquecíveis

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

O Santos de Pelé, o Real Madrid de Puskas, o Ajax de Cruyff e o Bayern de Beckenbauer foram times inesquecíveis. Suas vitórias, seus títulos, seus gols e seus lances maravilhosos os colocaram na galeria das equipes imortais. Hoje eles são lembrados em todo o mundo e seus feitos viraram lendas. Mas há outros times lendários. Muitos outros.
Há, por exemplo, o memorável Lilipov, da Bulgária, um esquadrão muito famoso na década de 30. O Lilipov foi pentacampeão da Copa Sofia. O curioso é que o time era formado apenas por anões. Não eram muito bons nas bolas altas, mas eram imbatíveis no jogo por baixo.
Houve também o italiano Forza Sinistra, que fez sucesso com uma equipe formada apenas por jogadores canhotos. Em 1923, chegou à final de um torneio de verão em Trieste, quando venceu o time dirigido pelo pai de Mussolini. A história aparece no livro "Origens do Fascismo Italiano", de Scherzo di Vero, e é uma das explicações para as posições políticas de Mussolini, que odiava a esquerda e os esquerdistas.
Houve, em El Salvador, um time formado por atletas de comportamento sexual heterodoxo chamado Rainbow Power. Seus jogos eram motivo de festa e grande alegria nas cidades por onde passava. Certa vez, o Rainbow foi convidado para uma melhor de três contra o time das Forças Armadas e, para isso, teve que ficar no alojamento da equipe rival por 15 dias. O Rainbow foi goleado nos três jogos. E 22 soldados desertaram nos dias seguintes.
No interior mais profundo da selva brasileira corre a história de um time formado apenas por índias, obviamente chamado de Amazonas. Nos anos 50, a equipe sagrou-se campeã do campeonato de nações indígenas. Porém, como o torneio não permitia a participação de mulheres, elas tiveram que se disfarçar, cortando os cabelos e usando roupas folgadas. O truque só foi descoberto quando a atacante Iperebê, já no alto de pódio e pronta para erguer a taça, aceitou trocar de camisa com seu adversário.
Em Portugal, nos anos 40, registrou-se uma curiosa equipe formada apenas por jogadores que tinham o nome de Joaquim. Ela disputava clássicos ferrenhos contra o time da cidade vizinha, o dos Manoéis. A idéia logo alastrou-se pelo país, e o deputado Joaquim Manuel Pereira, amigo pessoal de Salazar, chegou a propor a extinção dos times tradicionais, colocando em seu lugar os esquadrões de Nunos, Vascos, Pedros e Paulos. Só se voltou à fórmula original quando um dirigente lembrou que Eusébio seria obrigado a deixar o país por não encontrar um time para jogar.
Mas ainda há outros times lendários, como o Atlético Pançal, do Rio Grande do Sul, que só aceitava atletas com mais de cem quilos. Sua escalação era: Azeitona; Bola; Barriga, Balão e Redondo; Elefante, Tonelada e Quebra Balança; Prato Vazio, Zé Quindim e Cadê meu Umbigo. O Atlético Pançal fez sucesso com seu jogo defensivo e chegou a ser convidado para fazer uma rendosa excursão no Uruguai. Porém, para tristeza geral, a excursão durou pouco. Logo que o time subiu no ônibus cedido pelos uruguaios, a suspensão despedaçou-se, enterrando a carreira internacional.
Esses times foram inesquecíveis e merecem a nossa homenagem. Assim como Santos, Real Madrid, Ajax e Bayern, eles ajudaram a fazer do futebol um espetáculo que não conhece monotonia.

Sansão
São Paulo e Santos foi um grande jogo, um daqueles em que há uma agitada gangorra de emoções. Primeiro, o são-paulino ficou orgulhoso de seu time, que, em cinco minutos, perdeu duas belas chances. Depois foi a vez dos santistas, que, nos 40 minutos seguintes, mostraram um futebol quase perfeito. Pena que, se o time jogava como num sonho, a pontaria era um pesadelo. Depois, foi novamente a vez de os são-paulinos sorrirem, com os dois gols relâmpagos. Aí chegou a hora dos santistas, que mostraram os dentes, com o empate. E os tricolores riram por último, com o gol de Ricardinho. Mas, curiosamente, os torcedores santistas não saíram de campo, ou da sala, cabisbaixos. Houve a certeza de que a equipe é excelente e pode vencer qualquer jogo. Há muito eu não via torcedores perderem um clássico e saírem sorrindo.

E-mail torero@uol.com.br


Texto Anterior: Boxe - Eduardo Ohata: Vestibular para esperança branca
Próximo Texto: Basquete: CBB adia escolha de técnicos para 2003
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.