São Paulo, terça-feira, 18 de dezembro de 2007

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SONINHA

Esses pipoqueiros...


Às vezes um jogador até consegue resolver tudo "sozinho". Mas, quando não resolve, a culpa é dele?

"KAKÁ passou em branco outra vez."
Imagine que a final do Mundial de Clubes fosse idêntica ao jogo a que assistimos no domingo, exceto por três momentos determinantes: que Inzaghi, lindamente servido na cara do gol, tropeçasse na hora da primeira finalização, perdendo a chance, e mandasse a segunda para fora; que o chute de perna esquerda de Kaká passasse a milímetros da trave pelo lado de fora. Ou fosse interceptado milagrosamente por um zagueiro argentino em cima da linha. Resultado final: Boca 2x1 Milan, e Kaká "confirmando" que amarela, é pipoqueiro, é uma farsa.
Passando "em branco" outra vez.
Já vimos esse filme algumas vezes.
Ou ouvimos falar, mais até do que vimos... Eu sempre chamo a atenção, em conversas com estudantes de jornalismo, para alguns de nossos erros mais comuns (na mídia em geral e na esportiva em particular): passar adiante a avaliação alheia sem ter a garantia de que ela é correta; tirar conclusões simplistas e inarredáveis a partir dos números do jogo; formar juízo prévio e se apegar a ele, rejeitando, consciente ou inadvertidamente, informações que possam desmenti-lo. E Kaká sempre foi bom exemplo desses erros.
Quando trabalhei na CBN e na rádio Globo, várias vezes fui escalada para comentar o "jogo B" da rodada.
Enquanto havia um clássico na capital, eu acompanhava um jogo entre grande e pequeno no interior. Em mais de uma ocasião, o "grande" era o São Paulo. Ou seja, enquanto a maioria dos comentaristas via Palmeiras x Santos no Morumbi e contava com relatos esporádicos do repórter em Americana, eu olhava Rio Branco x São Paulo com atenção (é um exemplo para ilustrar; não houve combinação exatamente assim).
No fim da noite, acompanhava as mesas-redondas e via analistas dizerem a frase que abriu a coluna de hoje e eu sabia que eles tinham assistido a outro jogo! Faziam por mal?
Queriam acabar com o jovem jogador? Não. Apenas acreditavam na descrição de outrem, por soar perfeitamente plausível; extravagante seria supor o contrário. E assim Kaká, que às vezes era o único que tinha feito algo que prestasse, com esforço e inspiração, terminava o fim de semana como o pior em campo, pagando o preço da exagerada expectativa depositada (de que ele, sozinho, fosse capaz de resolver tudo).
Anteontem, ele não resolveu tudo sozinho. Tivesse Inzaghi marcado bobeira em vez de acompanhar as duas jogadas em que foi tão bem servido, tivesse chutado na lua, Kaká não teria sido tão decisivo. Mas, sem ele, o que seria de Inzaghi?
Kaká é um jogador talentoso e amadurecido, que viveu um ano excepcional. Mas não concordo que ele tenha passado de "pipoqueiro" a "decisivo", de "falsa promessa" a "revelação tardia". Foi, desde aquela aparição na Copa São Paulo, um jogador com brilho, habilidade, visão e personalidade. Após ser tão importante para o tetra do Milan, bom seria ajudar a garantir o hexa do Brasil.

O outro
Outro que é "irregular", "dorminhoco", "pipoqueiro" etc. é Alex, do Fenerbahce. Não joga nada, coitado. Nunca foi decisivo... Deve ter sorte, é isso, para ser um monstro em campo de vez em quando.

soninha.folha@uol.com.br


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