São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Muito para consertar

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Ufa! O Brasil chegou ao quadrangular final do torneio Pré-Olímpico, mas com muito mais tropeços no caminho do que imaginávamos.
Que ninguém se engane: contra a Colômbia, o placar foi elástico, mas o futebol foi curto. A rigor, o Brasil só brilhou em dois momentos, os dos dois últimos gols.
No mais, foi o mesmo futebol desorganizado e sem imaginação que havíamos visto contra o Uruguai e contra o Chile. Mesmo jogando de novo com um a mais, o time parecia impotente em campo para chegar ao gol adversário.
O que aconteceu com o grande futebol que essa garotada parecia prometer?
Eis uma pergunta difícil de responder. Algumas razões são mais ou menos evidentes. Há, de um modo geral, um espaço muito grande entre a defesa e o ataque, o que obriga os zagueiros a tentarem a todo momento a "ligação direta", com resultados pífios.
Quando é o adversário que tem a bola, o Brasil lhe concede muito espaço, como aconteceu ontem, até a providencial expulsão de um colombiano.
Falta, em suma, uma compactação melhor da equipe, de modo a facilitar a vida do jogador que tem a posse da bola. Os erros tão freqüentes de passes se devem mais a essa má organização do que a uma suposta deficiência técnica dos atletas, pois em seus clubes eles acertam muito mais.
Esse problema de articulação diminuiu um pouco ontem, com a entrada de Dudu Cearense. Em compensação, o time sentiu a falta da criatividade de Diego (que, aliás, ficou devendo nos dois jogos anteriores).
Do ponto de vista individual, o que é possível dizer assim, de bate-pronto (estou escrevendo logo depois de terminado o jogo), é que alguns jogadores estão rendendo muito menos que em seus clubes. Elano, por exemplo, está irreconhecível, errando passes a granel e finalizando nas nuvens.
Marcel, apesar do gol de ontem, me parece um jogador pesado e tecnicamente limitado para atuar com jogadores de toque de bola leve e rápido como Robinho, Diego e Daniel Carvalho.
Já que Dagoberto não desencantou, talvez fosse o caso de apostar em Nilmar, que já tem entrosamento com seu companheiro de clube Daniel Carvalho.
Mas o que mais preocupa, nessa seleção, é a falta de iniciativa, tanto dos jogadores dentro de campo como do treinador no banco.
Não dá para sentir muita firmeza, seja nas divididas, seja nas decisões de Ricardo Gomes. Se os atletas por vezes se acomodam, o técnico, por sua vez, demora demais para moldar o time de acordo com as circunstâncias da partida.
Parece que todos ficam à espera de um lance fortuito de talento ou de sorte que nos salve a pele. Contra a Argentina, na quarta-feira, essa pode ser uma atitude perigosa.
Continuo esperançoso quanto à classificação brasileira à Olimpíada, mas já perdi metade do entusiasmo. Se chegarmos lá, teremos muita coisa para consertar.

Paulistinha
Esvaziado de seu antigo peso, o Campeonato Paulista que começa quarta-feira servirá como uma espécie de pré-temporada para os grandes clubes do Estado. Em princípio, o Santos e o São Paulo são os favoritos ao título, porque contam com os melhores elencos e contrataram bons reforços.

Machismo na Fifa
Num momento em que o futebol feminino busca conquistar respeito e afirmação, foi infeliz a sugestão do presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, para que as jogadoras passem a usar shorts mais justos e sensuais. É como se o dirigente dissesse que as mulheres são incapazes de criar espetáculo com sua técnica e portanto precisam usar o corpo para servir ao voyeurismo masculino.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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