São Paulo, domingo, 19 de abril de 1998

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Palmeiras joga com nervos de final de Copa

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas

Afora o grau de imprevisibilidade, fruto da tradição que nivela os dois velhos antagonistas de hoje, cada um exibe personalidade definida e diferente do outro, não necessariamente aquela que se confunda com sua própria história.
O Palmeiras de Felipão, por exemplo, não guarda nem um traço sequer do Palmeiras de Luxemburgo, quanto mais da Academia de Filpo Nuñes, ou mesmo do Palmeiras das Cinco Coroas ou do Palestra de Ministrinho e Heitor.
Todos foram esquadrões que se impunham já a partir da escalação no papel, mas, principalmente, pela postura em campo, um ar de superioridade sem arrogância, que se materializava num jogo compulsivamente ofensivo porém não irresponsável, baseado na técnica esmerada de seus craques.
Este, não. Este é um Palmeiras que já parte na defensiva, como se estivesse acuado por forças invisíveis, o que se revela na tática adotada e no comportamento dos jogadores, alguns deles craques de seleção.
Resultado: em campo, o que se vê é um time indeciso, que disputa cada partida, mesmo contra os mais modestos adversários, com os nervos de uma final de Copa do Mundo.
Cada vitória é arrancada a fórceps, cada passo é dado como se às pernas estivessem atadas àquelas bolas de ferro dos tempos do Caso Dreyfuss.
Já o tricolor é o inverso: com Zé Carlos e Serginho disparando pelos flancos, Alexandre fazendo a bola fluir com leveza da defesa ao ataque, Denílson pulverizando táticas e lógicas com seus dribles vertiginosos e França resumindo isso tudo em gols, o São Paulo retoma a tradição da era Leônidas, renegando o período do futebol amarrado da era Gérson.
Logo... Logo, tudo forma um painel verossímil, pelo menos para o autor, pintado com as tintas da lembrança, que, ao apito final do juiz, pode estar em cacos no gramado do Morumbi. Porque o jogo é agora.


Resumindo aquela historieta do 4-3-3, lembram-se? Pois fica, então, claro que tivemos surtos da aplicação desse sistema, consequência das características pessoais de três jogadores: Cláudio, Telê e, mais tarde, Zagallo, na seleção.
A propósito, vale lembrar que, tanto em 58 quanto em 62, o preferido dos técnicos Feola e Aymoré era Pepe, um ponta ofensivo e goleador, o oposto de Zagallo.
Na verdade, o 4-3-3 só foi teorizado e aplicado com método por Zagallo, já técnico, no final dos anos 60, no Botafogo, com Paulo César Caju, e na conquista do tri, com Rivellino deslocado para a ponta ocupada antes pelo ofensivo Edu.
Aí, boto uma peninha: mas já não era 4-4-2, com o recuo constante de Pelé pelo meio? Era. Mas, se entrarmos por esse caminho, vamos voltar ao início da história, quando do outro lado da linha estava o legendário Cláudio Cristóvão de Pinho relembrando seu gesto pioneiro ao criar o 4-3-3 no Corinthians dos anos 50.
E Jackson? -perguntei-lhe. Cláudio estacou do outro lado, até que lhe caísse a ficha: "É verdade, Jackson era um meia-armador, que voltava pela esquerda para organizar o meio-campo, comigo, com o Luisinho, o Roberto Belangero..." E eu aqui somando: Cláudio, Luisinho, Jackson e Roberto. São 4, 4-4-2. Pois é.


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas



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