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São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2003

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FUTEBOL

Isso tudo

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Quando o Marcos Augusto Gonçalves escreveu que não acha o Alex "isso tudo", me senti como o torcedor que se ofende com uma opinião diferente. Queria ir para o pau, computadores a dez passos, como nos antigos duelos. Calma, Sonia, você pode registrar sua opinião, mas não vai (e não precisa) mudar a dele.
Alex é de lua, diz o Mag. Mas que lua duradoura! Somando todas as partidas, o Cruzeiro ficou invicto mais tempo do que costumava durar o Brasileiro. Mesmo descontando amistosos e jogos contra times muito mais fracos no Mineiro, a campanha celeste é espetacular, e Alex é sua pedra de toque. O time ganhou dois títulos invicto, lidera o Brasileiro desde o começo. É pouco? Para quem gosta de medir categoria de jogadores por títulos (eu detesto), Zidane ainda está pelejando para ser campeão espanhol...
Alex vive entrando e saindo da seleção? É normal por aqui. Bons jogadores são fritados, jogadores medianos eternizam-se. Foi mal no Flamengo? Muito, e sabe disso. Não se firmou na Itália? Como isso prova que ele não é craque?
No Palmeiras, Alex conquistou a Copa do Brasil e a Mercosul em 98, a Libertadores em 99 (com uma atuação memorável contra o River Plate) e o Rio-São Paulo de 2000. Com a seleção, venceu o sub-20 de Toulon, a Copa América de 99 e o Pré-Olímpico de 2000. O rapaz tem uma pequena coleção de atuações brilhantes contra argentinos; não pode ser acaso.
A mania de dizer que ele acende e apaga, ou dorme e acorda, é fruto de dois males opostos do mundo contemporâneo: ver demais e ver de menos. "Ver demais" porque o jogador é radiografado a cada segundo e tem seus passos esmiuçados com uma lente de aumento. Que profissional resistiria a tamanho escrutínio, ainda mais quando depositam nele a expectativa de felicidade na segunda-feira, na semana, no ano?
Por outro lado, é impossível ver todos os jogos, ir a todos os estádios. Por isso nos fiamos muito nas opiniões alheias. Alguém diz que "Alex sumiu no jogo", e todo mundo reproduz o que leu ou ouviu, mas basicamente o que não viu. Às vezes a fonte é o torcedor da arquibancada, cego de paixão, impaciente e injusto. Às vezes é o crítico que, pela TV, só vê quem tem a bola e não sabe que Alex estava sozinho pedindo um passe e ele não veio (ou chegou junto com o marcador), ou que Alex demorou para soltar a bola porque não tinha ninguém para receber.
Os "melhores momentos" só trazem os gols; às vezes nem citam o passe, o desarme que iniciou a jogada, a movimentação sem bola que abriu espaços. E as mesas-redondas frequentemente comentam o resultado -não o jogo, que ninguém viu. Na semana seguinte, se parte de um ponto: "E o Alex , sumiu de novo?". Ou pior: "Sumiu como sempre?".
Alex é inteligente, hábil e técnico. Tabela, conduz, abre o jogo, centraliza, finta, dribla, finaliza. E faz cada gol, nossa senhora. Esmerilha. Se daqui em diante não fizer mais porcaria nenhuma, não retiro uma vírgula do que disse. Para mim, ele é "isso tudo".

Outro "sumido"
Li que "o São Paulo teve ótimos contra-ataques, mas Ricardinho sumiu de novo". Os ótimos contra-ataques começaram todos com ele, em lançamentos inteligentes e milimétricos.

Fidelidade
Se Marcus Vicente, chefe de delegação da seleção, mudasse de time como muda de partido, pobre do Ibiraçu Esporte Clube, que ele presidiu por sete anos. Ele já foi da Arena, do PFL, do PSDB e do PPB, pelo qual se elegeu deputado federal em 2002, pela média de votos do partido. Agora é do PTB.

Alívio
O Brasileirão poderá classificar até o quinto colocado para a Libertadores. Ótimo! A CBF mandou bem desta vez.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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