São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997.



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BASQUETE
Legendário jogador da NBA se embanana com instruções táticas e promete time disciplinado em sua estréia
Larry Bird vira técnico sem prancheta

ano como técnico na NBA, à frente do time do Indiana ROSCOE NANCE
do "USA Today"

Larry Bird nunca procurou atalhos em seus 13 anos de carreira na National Basketball Association.
Não vai ser agora, em sua estréia como treinador, que o legendário jogador vai mudar o estilo.
Tão logo assinou contrato com o Indiana Pacers, US$ 23 milhões em cinco anos, resolveu que iria comandar o time na série de amistosos em 12 e 13 de julho -a maioria dos técnicos da NBA prefere usar o verão para fazer observações e testes (ou descansar).
"Eu preciso da experiência", explica-se Bird, 40, quatro anos afastado do basquete em razão de uma contusão grave nas costas.
Bird é considerado um dos 50 melhores jogadores de todos os tempos, segundo a própria liga profissional norte-americana. Trata-se do 15º dessa elite, aliás, a arriscar a pele como técnico.
Conquistou três títulos da NBA pelo Boston Celtics na década de 80. Foi medalha de ouro na Olimpíada de Barcelona-92, na primeira (e talvez única legítima) versão do "Dream Team".
A seguir, ele comenta suas primeiras impressões da vida no banco de reservas. A próxima temporada da NBA começa neste dia 31.

Pergunta - O que você aprendeu desde que assumiu o cargo de treinador dos Pacers?
Larry Bird -
Que eu tenho muito trabalho à frente. Por enquanto, estou tentando me ambientar, arranjar uma boa casa para viver, montar meu escritório, conhecer as pessoas com quem vou conviver no time, assistir muitos videoteipes. Muito trabalho, portanto.
Pergunta - Você nasceu em Indiana. Imaginava que um dia estaria comandando o time do Estado e que criaria tamanho frenesi?
Bird -
Não me deixo contaminar por esse oba-oba porque vivi muito esse tipo de situação ao longo da minha carreira como atleta. Por isso, prefiro ficar apenas observando, longe dos holofotes.
Mas isso não quer dizer que não esteja contente com todo o entusiasmo que minha decisão gerou. Pelo menos as pessoas estão interessadas no que estou fazendo.
Pergunta - Você consegue relaxar nesse tipo de situação?
Bird -
Não tenho nem tempo para pensar em descansar. Consegui só um dia de folga, para visitar meus parentes em French Lick (cidade em que cresceu, no interior de Indiana). A rotina está caótica.
Pergunta - Como está sendo o contato com os seus jogadores?
Bird -
Ainda não consegui conversar com calma com todos. Quando assumi o cargo, estavam em férias, espalhados pelo país. Eu telefonava, deixava recado. Alguns retornaram; outros, não. Fiz numa semana quase cem telefonemas.
Agora, com o começo dos treinos, o contato ficou mais fácil. Já conversei com a maioria. Espero que haja sintonia entre nós.
Pergunta - Como têm sido os treinos?
Bird -
Tentaremos, antes de tudo, nos divertir. Vamos correr bastante, porque só dá para jogar bem basquete em boas condições físicas. Nos meus 20 anos de atleta, sempre me mantive em boa forma.
Pergunta - Como você pretende motivar seus jogadores?
Bird -
Acho que o fato de eu ter sido um jogador de sucesso, com muitos títulos, deve ajudar. Quando você ouve uma orientação de alguém que ganhou campeonatos, você presta muito mais atenção.
Pergunta - Qual tem sido sua principal dificuldade nos treinos?
Bird -
Odeio usar a prancheta na hora de instruir um lance. Como jogador nunca prestei muita atenção a esse tipo de artifício, porque havia muito entrosamento no time. Agora, estou pagando o preço. Atrapalho-me o tempo todo com o desenho das táticas. Fico torcendo para que os meus jogadores não percebam.
Pergunta - Muito se questiona acerca da falta de disciplina da nova geração de jogadores da NBA. Você acha que seus comandados estarão dispostos a suar do jeito que você espera que suem?
Bird -
Não importa que estejam dispostos ou não. Eles vão ter que suar. É o trabalho deles. Se não derem duro, não vão jogar. É assim que vai funcionar. Você não pode chegar num treino achando que não vai se esforçar. Não admito.
Pergunta - Você considera que seu elenco já está fechado?
Bird -
Com a contratação de Chris Mullin (ala, ex-Golden State Warriors), conseguimos um cestinha que pode diminuir a sobrecarga ofensiva de Rik Smits (pivô) e Reggie Miller (armador).
Pergunta - Como você imagina o progresso dos Pacers ao longo de seus cinco anos de contrato?
Bird -
Não vou ficar especulando sobre o número de vitórias. Quero que sejamos melhores no final da temporada do que no começo. Imagino que chegaremos aos playoffs, é a meta. Mas meu objetivo pessoal sempre foi botar as mãos na taça. Isso não mudou agora. Os playoffs neste ano, o título no campeonato seguinte.


Com a "Associated Press"



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