São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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FUTEBOL

Um argh! e um ufa!

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Não celebrarei aqui a glória dos oito melhores, clubes que mereceram a conquista e agora se preparam para empolgantes mata-matas.
Nada falarei sobre a interessante performance dos paulistas, que emplacaram quatro times entre os oito maiorais e ainda podem ter o Jundiaí disputando a divisão principal no ano que vem.
Não comentarei aqui verdes desilusões, nem dores lusitanas. Também não citarei amargores da estrela solitária ou aflições que rondam o Brasil central.
Hoje, leitores, falarei sobre duas interjeições: o argh! e o ufa!.
Primeiro, o argh!
Houve um certo time que se preparou em grande estilo para o Campeonato Brasileiro de 2002. Formou um elenco experiente, não fez economias e assumiu ares de poderoso, talvez o único capaz de fazer frente ao favorito São Paulo, a quem, aliás, derrotou por imponentes 3 a 1.
Mas, no decorrer do campeonato, esse mesmo time acabou se provando mais irregular do que se esperava. Em vez de exibições memoráveis, acabou se notabilizando por sofrer derrotas inesperadas e elásticas. Em seus domínios e contando com o apoio de sua numerosa torcida, foi derrotado pelo Fluminense por 5 a 1, pelo Guarani por 2 a 0 e pelo jovem Santos, equipe que chegou à sua frente na tabela, por 4 a 1. Sua zaga, formada por jogadores com passagem pela seleção brasileira, sofreu 39 gols, média de mais de 1,5 por partida.
Nas últimas rodadas, esse time até que conseguiu dar alguma esperança a seus adeptos. Venceu, de enfiada, cinco adversários: Grêmio, Gama, Atlético-PR, Internacional e Goiás. Foi uma reação admirável, mas insuficiente para apagar erros anteriores e compensar o minguado saldo (um gol). No fim, foi o nono. O último dos primeiros. Aquele que, por um triz, não se classificou.
Houve também um outro time: mais barato, muito menos tradicional e muito menos badalado, um time que iniciou o torneio com a sombra da degola rondando as cabeças do seu técnico e de seus atletas. Não foram poucos os que imaginaram que ele formaria um conveniente quarteto de rebaixados ao lado de Figueirense, Paysandu e Gama, único dos quatro que realmente afundou.
Logo de cara, esse time acumulou três derrotas, mas, num distante domingo de sol, derrotou o renomado esquadrão palmeirense por implacáveis 5 a 1! 5 a 1 sem contar o amplo domínio da partida e um gol injustamente anulado pela arbitragem! Parecia ser o início de uma bela e fulminante arrancada. Parecia. Na verdade, a tal equipe continuou instável, fazendo o tempo todo uma espécie de ioiô psicológico com seus desventurados torcedores.
E foi dessa maneira, entre altos e baixos, entre triunfos e tropeços, que essa equipe se arrastou até o último momento da última rodada. Ali, depois de ter começado o jogo contra o Figueirense perdendo por 2 a 0, ainda teve forças para buscar o empate salvador. No fim, ficou em 21º. O primeiro dos últimos, aquele que, por um triz, escapou da segunda divisão.
À margem do sorriso dos oito primeiros e da lágrima dos quatro últimos, a torcida do Cruzeiro suspirou um argh!, e a do Paraná explodiu num ufa! Faltou pouco para que uma subisse às alturas do céu e para que outra chegasse às profundezas do inferno. Por mais um ano, elas continuarão a sofrer com as emoções contraditórias do purgatório da bola.

Ladeira
Se não for vendido, o goleiro Marcos, campeão mundial na Copa da Coréia e do Japão, estará jogando em 2003 em campos esburacados, cheios de morrinhos, com terra batida na área que fica sob o travessão e torcedores bêbados berrando palavrões a poucos metros de sua orelha.

Ser ou não ser
Os volantes Magrão e Claudecir podem ser campeões brasileiros em 2002 e disputarem a Série B em 2003.

Adjetivos
O zagueiro Alexandre pode ser afoito, dado a encontrões, atrapalhado na saída de bola, confuso no posicionamento e até instável emocionalmente, mas, em meio à crise do Palmeiras, revelou uma virtude: não foi omisso. Numa hora propícia para se procurar culpados, ele não deve ser responsabilizado pela derrota que é de todo um conjunto.

E-mail torero@uol.com.br


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