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FUTEBOL
Um argh! e um ufa!
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Não celebrarei aqui a glória dos oito melhores, clubes
que mereceram a conquista e
agora se preparam para empolgantes mata-matas.
Nada falarei sobre a interessante performance dos paulistas, que
emplacaram quatro times entre
os oito maiorais e ainda podem
ter o Jundiaí disputando a divisão
principal no ano que vem.
Não comentarei aqui verdes desilusões, nem dores lusitanas.
Também não citarei amargores
da estrela solitária ou aflições que
rondam o Brasil central.
Hoje, leitores, falarei sobre duas
interjeições: o argh! e o ufa!.
Primeiro, o argh!
Houve um certo time que se preparou em grande estilo para o
Campeonato Brasileiro de 2002.
Formou um elenco experiente,
não fez economias e assumiu ares
de poderoso, talvez o único capaz
de fazer frente ao favorito São
Paulo, a quem, aliás, derrotou por
imponentes 3 a 1.
Mas, no decorrer do campeonato, esse mesmo time acabou se
provando mais irregular do que
se esperava. Em vez de exibições
memoráveis, acabou se notabilizando por sofrer derrotas inesperadas e elásticas. Em seus domínios e contando com o apoio de
sua numerosa torcida, foi derrotado pelo Fluminense por 5 a 1,
pelo Guarani por 2 a 0 e pelo jovem Santos, equipe que chegou à
sua frente na tabela, por 4 a 1. Sua
zaga, formada por jogadores com
passagem pela seleção brasileira,
sofreu 39 gols, média de mais de
1,5 por partida.
Nas últimas rodadas, esse time
até que conseguiu dar alguma esperança a seus adeptos. Venceu,
de enfiada, cinco adversários:
Grêmio, Gama, Atlético-PR, Internacional e Goiás. Foi uma reação admirável, mas insuficiente
para apagar erros anteriores e
compensar o minguado saldo
(um gol). No fim, foi o nono. O último dos primeiros. Aquele que,
por um triz, não se classificou.
Houve também um outro time:
mais barato, muito menos tradicional e muito menos badalado,
um time que iniciou o torneio
com a sombra da degola rondando as cabeças do seu técnico e de
seus atletas. Não foram poucos os
que imaginaram que ele formaria
um conveniente quarteto de rebaixados ao lado de Figueirense,
Paysandu e Gama, único dos
quatro que realmente afundou.
Logo de cara, esse time acumulou três derrotas, mas, num distante domingo de sol, derrotou o
renomado esquadrão palmeirense por implacáveis 5 a 1! 5 a 1 sem
contar o amplo domínio da partida e um gol injustamente anulado pela arbitragem! Parecia ser o
início de uma bela e fulminante
arrancada. Parecia. Na verdade,
a tal equipe continuou instável,
fazendo o tempo todo uma espécie de ioiô psicológico com seus
desventurados torcedores.
E foi dessa maneira, entre altos
e baixos, entre triunfos e tropeços,
que essa equipe se arrastou até o
último momento da última rodada. Ali, depois de ter começado o
jogo contra o Figueirense perdendo por 2 a 0, ainda teve forças para buscar o empate salvador. No
fim, ficou em 21º. O primeiro dos
últimos, aquele que, por um triz,
escapou da segunda divisão.
À margem do sorriso dos oito
primeiros e da lágrima dos quatro últimos, a torcida do Cruzeiro
suspirou um argh!, e a do Paraná
explodiu num ufa! Faltou pouco
para que uma subisse às alturas
do céu e para que outra chegasse
às profundezas do inferno. Por
mais um ano, elas continuarão a
sofrer com as emoções contraditórias do purgatório da bola.
Ladeira
Se não for vendido, o goleiro
Marcos, campeão mundial
na Copa da Coréia e do Japão,
estará jogando em 2003 em
campos esburacados, cheios
de morrinhos, com terra batida na área que fica sob o travessão e torcedores bêbados
berrando palavrões a poucos
metros de sua orelha.
Ser ou não ser
Os volantes Magrão e Claudecir podem ser campeões
brasileiros em 2002 e disputarem a Série B em 2003.
Adjetivos
O zagueiro Alexandre pode
ser afoito, dado a encontrões,
atrapalhado na saída de bola,
confuso no posicionamento e
até instável emocionalmente,
mas, em meio à crise do Palmeiras, revelou uma virtude:
não foi omisso. Numa hora
propícia para se procurar culpados, ele não deve ser responsabilizado pela derrota
que é de todo um conjunto.
E-mail torero@uol.com.br
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