São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2000


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FUTEBOL
Ex-executivo da Parmalat já considerava modelo ultrapassado
Sinais de fim da parceria surgiram no final de 99

da Reportagem Local

Há meses já existiam sinais de que a parceria Palmeiras-Parmalat estava chegando ao fim.
O desmonte do time que venceu a Taça Libertadores, em 1999, foi o fato mais alarmante, mas não o único, e já estava definido antes mesmo da decisão da Copa Mercosul, no final de dezembro.
No final do ano passado, a Parmalat não renovou contrato com a empresa que fazia para ela as pesquisas de retorno de mídia ligado ao futebol para a multinacional, tanto na parceria Corinthians-Batavo, que iria acabar em 14 de janeiro deste ano, como na Palmeiras-Parmalat.
A pessoas mais próximas, o então presidente da empresa, Gianni Grisendi, vinha dizendo que a Parmalat já não tinha mais espaço no futebol atual, controlado pelos fundos de investimentos.
Mesmo que quisesse, não poderia competir em capital.
Na visão dele, a Parmalat havia investido no esporte para dar mais visibilidade à marca e não para auferir lucros, o que de fato não houve em todos esses anos. Mas o modelo estava superado.
Por isso, a solução seria sair. As notícias de que o Palmeiras negocia uma parceria do estilo HMTF, com a ISL ou um banco estrangeiro, só dão mais força a essa versão.
A saída de Grisendi apenas precipitou uma situação que vinha se desenhando aos poucos.
Mesmo sendo palmeirense fanático, o então presidente da Parmalat mostrava, desde o início do ano, mais carinho pelo Etti-Jundiaí, clube que esperava transformar na versão brasileira do Parma, minúscula agremiação italiana que, após cair nas mãos da multinacional, transformou-se num dos maiores clubes da Itália.
Segundo um antigo diretor do Palmeiras, que trabalhou nos primeiros anos da parceria, a decisão da Parmalat de contratar jogadores experientes e caros no biênio 98/99 evidenciava que a multinacional queria ganhar a Libertadores, o Mundial interclubes e sair do Palmeiras por cima.
Essa avaliação coincide com o discurso da Parmalat nos primeiros anos de co-gestão.
Quando a parceria terminasse, a empresa pretendia deixar o Palmeiras na melhor situação possível. Só não contava com o tropeço na partida de Tóquio e a vitória do Manchester United.
A saída de Grisendi poderá ter reflexos imediatos no Palmeiras.
Ele tinha muito trânsito no clube e é amigo de várias pessoas que lá trabalham, especialmente o técnico Luiz Felipe Scolari.
Sem o seu principal apoio político e sofrendo oposição da Mancha Alviverde e do presidente Mustafá Contursi, Scolari poderá até antecipar sua saída.
O apoio de Grisendi foi um dos motivos que levaram Scolari a ficar no clube mesmo após a demissão do seu amigo e auxiliar, o preparador físico Paulo Paixão.
No final do ano passado, houve um episódio que desgastou ainda mais as relações de lado a lado.
Antes ainda da decisão do Mundial interclubes, representantes da empresa e do clube se reuniram para acertar a contabilidade comum e a propriedade dos passes dos jogadores -por não poder registrar os jogadores que possui, a Parmalat os coloca no Palmeiras, que em troca escritura uma dívida em favor da empresa.
A Folha apurou que a reunião foi tumultuada, com vários conselheiros do Palmeiras fazendo exigências à empresa.
A reunião não chegou a um consenso em todos os pontos, e os dirigentes da multinacional ficaram contrariados.
(MARCELO DAMATO)


Colaboraram João Carlos Assumpção e Fernando Mello, da Reportagem Local

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