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Sem infra-estrutura, dinheiro e praticantes, modalidades nanicas esquecem Sydney-2000
Bem longe da Olimpíada
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
RODRIGO BERTOLOTTO
da Reportagem Local
O Brasil vai a Sydney-2000 com
o plano de levar sua maior delegação olímpica e trazer o maior número de medalhas de sua história.
Mas várias modalidades e seus
atletas vão acompanhar só pela
televisão se dará certo o projeto
grandioso do COB (Comitê Olímpico Brasileiro).
Seja por falta de tradição, atletas
ou infra-estrutura, esses esportes
fazem projeção para ter uma participação olímpica só em Atenas-2004 ou mais para a frente.
Faltando sete meses para a
Olimpíada, 13 modalidades ainda
não garantiram vaga (badminton,
boxe, esgrima, levantamento de
peso, luta, nado sincronizado, pólo aquático, remo, softball, tênis,
tiro, tiro com arco).
Algumas delas, como o tênis e o
boxe, há grandes chances de colocar representantes nos Jogos da
Austrália.
Para o badminton, o hóquei sobre grama e o softball, porém, a
realidade é outra: não tem mais
oportunidade de classificar.
Já luta livre, levantamento de
peso e esgrima têm chances remotíssimas de selar o passaporte
para Sydney.
Na escala brasileira, a modalidade olímpica mais nanica é o hóquei sobre grama.
Com apenas 150 praticantes e
seis times no país, é a única que
não tem nem federação. Tem só
uma associação, que reúne as
equipes Rio e São Paulo e luta
atrás de um terceiro Estado para
poder ser reconhecida pelo COB.
Popular na vizinha Argentina, o
hóquei sobre grama é ainda um
esporte de elite por aqui.
Para contrariar isso, um programa da prefeitura de Macaé (RJ)
introduziu com sucesso há dois
anos a modalidade no bairro mais
pobre da comunidade.
Já o levantamento de peso tem
confederação nacional, mas não
tem sede. Seu presidente, o colombiano naturalizado brasileiro
David Gómez, usa como escritório o fundo da sala de musculação
da Universidade Federal de Viçosa (MG), onde é professor.
"Uso o telefone e o fax da faculdade. Aqui é tudo na base da improvisação", afirma Gómez.
O Brasil levou representante às
três últimas Olimpíadas, mas, para esta próxima, o cenário é bem
pior. Sem poder explorar bingo
(houve irregularidades na mandato anterior) e com seus principais atletas envelhecendo, a entidade vive com ""orçamento é zero", segundo as palavras do presidente.
O melhor levantador, Edmílson
da Silva Dantas, já tem 36 anos.
No feminino, a melhor competidora é ainda mais veterana. A mineira Maria Elisabete Jorge soma
42 anos, mas não deixa de sonhar
com Sydney.
Para bancar sua preparação, ele
planeja até voltar a seu antigo ofício: lavar roupa dos estudantes recém-chegados às repúblicas de
Viçosa.
Lavando 60 trouxas de roupa
por mês, Maria Elisabete ganharia
R$ 1.200, contra os R$ 100 que recebe como instrutora de musculação. ""Ir para o tanque cansa demais, mas eu preciso pagar as dívidas que fiz para poder competir
no exterior", afirma a levantadora. Ela deve R$ 6.000 e até escreveu uma carta para o ""Programa
do Ratinho", no SBT, para receber ajuda.
"Eu contaria minha história para a platéia e aposto que os telespectadores iriam se sensibilizar",
diz Maria Elisabete, mostrando
até que ponto um esporte olímpico chega para conseguir recurso.
Os patrocinadores fogem dessas
modalidades, afinal, só com resultados e medalhas eles aparecem.
O Indesp (Instituto Nacional de
Desenvolvimento do Desporto),
órgão ligado ao ministério dos Esportes, pinga algum dinheiro neles, mas só para ajudar com parte
dos custos de viagem, hospedagem e alimentação de algumas
competições.
O presidente do COB, Carlos
Alberto Nuzman, aponta o levantamento, a luta, o tiro e a esgrima
como os esportes com mais problemas em sua infra-estrutura.
Entre eles, a luta livre e greco-romana, esporte presente na
Olimpíada desde sua primeira
edição (1896), é um dos mais críticos. Sua confederação nacional é
uma sala dentro do estádio goiano Serra Dourada.
""Nossa estrutura cabe dentro
do bagageiro de um carro", brinca o presidente da entidade, Hugo
Nakamura.
Até dois anos atrás, o Brasil não
sabia nem como se lutava. Apesar
de o esporte já ter representado o
país em duas Olimpíadas (Seul-1988 e Barcelona-1992), não havia
um técnico especialista. Quem lutava mistura técnicas de jíu-jitsu e
judô e via o que dava.
Desde 1998, porém, está em
Goiânia o treinador cubano Alejo
Morales Fernández. ""Sua presença só vai fazer efeito, no mínimo,
em sete anos", afirma Nakamura.
Como as federações não tem dinheiro, o jeito é o praticando é
bancar sua própria carreira.
O softball (espécie de beisebol
para mulheres), por exemplo, se
mantém em atividade no Brasil
praticamente com os recursos das
atletas e suas famílias, quase sempre ligadas também ao beisebol.
Para participar do Mundial de
Taiwan, no ano passado, por
exemplo, cada atleta teve que desembolsar pelo menos R$
2.800,00.
"O esporte se desenvolve na base do voluntarismo. Em alguns
casos, conseguimos apoio", afirma Olívio Sawasato, vice-presidente da CBBS (Confederação
Brasileira de Beisebol e Softball).
A entidade também recebe
apoio do Indesp (Instituto Nacional do Desenvolvimento do Desporto), órgão ligado ao Ministério
dos Esportes).
"São verbas utilizadas na realização de alguns eventos, com a
ajuda de federações e clubes",
afirma o dirigente.
Segundo ele, existem hoje cerca
de 3.000 praticantes do softbol no
Brasil, divididos em 60 clubes, a
maior parte deles na capital paulista e no Paraná.
O mesmo cenário se repete na
esgrima. ""O esgrimista que quiser
competir no exterior tem de fazer
seu pé-de-meia antes", afirma
Roberto Lazarini, dirigente da federação paulista.
Já o badminton é um exemplo à
parte entre os esportes nanicos.
Esse tênis disputado com um peteca é o "primo rico", uma exceção que só confirma a regra.
Seus adeptos, segundo a Confederação Brasileira de Badminton,
não precisam pôr dinheiro do
próprio bolso para participar de
competições internacionais.
O desenvolvimento da modalidade é custeado por clubes e pela
força de dois bingos criados pela
confederação. As duas casas respondem por 85% dos recursos. O
restante vem dos clubes ou do Indesp, que, no ano passado, por
exemplo, ajudou nas despesas para o torneio seletivo do Pan.
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