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FUTEBOL
Verdadeiro nó tático
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Raramente o esquema tático de uma equipe é o fator
determinante no resultado de
uma partida de futebol, como o
da vitória do Grêmio sobre o
Corinthians.
No jogo, o chavão "nó tático"
nunca foi tão verdadeiro.
Tite, técnico do time gaúcho,
já tinha usado o mesmo laço para dar um nó no Vadão, treinador do São Paulo, no mesmo estádio do Morumbi.
Vadão ficou tonto, nocauteado, perdeu o emprego e ainda
não retornou ao trabalho.
O nó que Luxemburgo recebeu do Tite foi tão apertado que
o técnico do Corinthians ficou
paralisado.
De vez em quando soluçava.
Só não perdeu a pose. Não parava de ajeitar os óculos, como fazem os pseudo-intelectuais.
O Grêmio deu um baile no Corinthians. Escalou três zagueiros, sendo um na sobra, adiantou a marcação, pressionou, tomou a bola com facilidade no
meio-campo e esteve sempre
próximo ao gol do Timão.
A vitória do Grêmio foi a do
novo e verdadeiro futebol moderno sobre o velho e ultrapassado esquema tático tradicional
brasileiro.
De onde Tite tirou a inspiração para a brilhante maneira de
jogar de seu time?
Não me refiro ao desenho com
três zagueiros e dois alas. Foi o
que menos importou. Não teve
nada de novo e especial. O mais
importante foi a espetacular
marcação e facilidade com que
o Grêmio dominou a partida e
criou situações de gol.
O time gaúcho repetiu a filosofia tática da seleção argentina
-única do mundo que marca
pressionando em todas as partidas. A França, que não usa o esquema com três zagueiros, alterna a marcação por pressão
com o recuo e contra-ataque.
Os franceses são mais prudentes e racionais do que os apaixonados argentinos. Encantam
menos, porém jogam com mais
segurança.
O início da filosofia de marcação por pressão começou na Copa de 1974. Cruyff conta que, 15
dias antes do Mundial, o técnico
holandês Rinus Michels reuniu
os jogadores e resolveu fazer algo diferente, surpreendente, já
que não dava tempo para treinar o trivial. Os treinadores comuns, normais, fariam o contrário. Os holandeses decidiram
se divertir na Copa. E encantaram o mundo.
O técnico colocou a defesa, o
meio-campo e o ataque bem
próximos. Adiantou a marcação e congestionou o meio-campo. Quando o adversário ia dominar a bola, havia um bando
de holandeses. Parecia uma pelada. Tomavam a bola e, com
velocidade e habilidade, chegavam ao gol adversário. Até os
zagueiros se transformavam em
atacantes.
Uma deliciosa e eficiente loucura tática.
Acabaram a Copa e o sonho.
Algumas equipes espalhadas pelo mundo tentaram imitar a Laranja Mecânica, mas não deu
certo. Não conseguiam repetir a
marcação. Levaram muitas goleadas. Era o fim da utopia e do
futebol total.
No entanto, aquela gostosa
loucura ficou no inconsciente
coletivo do futebol. Era preciso
recuperar o sonho, mesmo que
distorcido. Há alguns anos,
criou-se algo parecido.
Algumas equipes, como a Argentina, em vez de recuar e fechar os espaços defensivos, passaram a pressionar e marcar a
saída de bola do adversário.
É um esquema de alto risco. Se
a marcação for vencida no
meio-campo, a defesa fica desprotegida. Para diminuir esse
problema, é essencial um zagueiro na sobra. Outro problema é o cansaço. É impossível jogar dessa maneira durante 90
minutos. Se o time perder o primeiro tempo, terá muitas dificuldades em inverter o placar.
Para fazer bem essa marcação, são necessários treinos e a
participação de todos os jogadores, inclusive dos atacantes.
Quando estão perdendo, os
técnicos brasileiros correm para
a lateral do campo para gritar e
pedir a marcação na saída de
bola. Não adianta. Os jogadores
não têm o hábito de executá-la.
Essa postura independe do desenho tático. Pode-se utilizá-la
com três ou quatro zagueiros.
Como a maioria das equipes
utiliza dois atacantes fixos, não
é preciso mais do que uma linha
com três zagueiros.
Antes da vitória do time gaúcho, Felipão disse que pretendia
escalar três autênticos zagueiros, o que é bem diferente de recuar um volante no momento
da jogada, como fazem os técnicos brasileiros.
O volante corre para trás e
chega sempre atrasado. Os zagueiros estão de frente, olhando
o passe, a bola e o atacante.
Parece que o Scolari mudou
de idéia por causa da provável
ausência do Antônio Carlos.
O zagueiro da Roma não é tão
especial assim para a definição
do esquema tático depender de
sua presença.
Muito mais importante do
que o desenho tático será a filosofia ofensiva ou defensiva do
treinador. Se o time jogar com
três zagueiros recuados, mais
dois volantes na frente e os alas
como se fossem laterais, terá oito defensores e dois atacantes
isolados. É isso que fazem os técnicos brasileiros quando jogam
nesse esquema. Viram o galo
cantar e não sabem onde.
Sugiro que Felipão convide o
Tite, técnico do Grêmio, para
auxiliá-lo. Poderia, inclusive,
ocupar a vaga do Antônio Lopes, já que a função de coordenador técnico é decorativa. A seleção ganharia um bom reforço.
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