São Paulo, Segunda-feira, 20 de Setembro de 1999
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FUTEBOL

Primeira vitória em 4 meses é comparada a bênção por jogadores; técnico é apontado como redentor

Botafogo celebra "nascimento de filho"
Otávio Dias de Oliveira/Folha Imagem
Em seu primeiro jogo no comando do time, o técnico Antônio Clemente vibra instantes após a vitória sobre o Santos



FÁBIO VICTOR
enviado especial a Santos

Utilizando imagens, símbolos ou metáforas, cada jogador do Botafogo-RJ encontrou uma maneira particular de definir o que sentiu após a vitória de anteontem sobre o Santos -a primeira do time em 120 dias.
Depois de oito derrotas e dois empates no Brasileiro-99, o raquítico 1 a 0 na Vila Belmiro, pela primeira fase do torneio, foi celebrado como uma bênção pela equipe.
"É como se fosse o nascimento de um filho. É uma alegria tão grande que espero que permaneça entre nós, que essa seja a primeira vitória de uma série", desabafou o zagueiro Jorge Luís, um dos líderes da equipe.
O Botafogo não vencia um jogo desde o dia 19 de maio, quando fez 3 a 1 no Olaria, pelo Estadual do Rio de Janeiro.
Usada como hipérbole para ilustrar a alegria dos jogadores anteontem, a comparação da vitória sobre o Santos com a conquista de um campeonato ganhou um tom documental no depoimento do meia Sérgio Manoel.
"Só senti uma sensação assim quando fui campeão brasileiro em 95 (pelo próprio Botafogo, sobre o mesmo Santos). Ainda mais porque quem estava do outro lado era o Santos. Tiramos um peso enorme de nossas costas", declarou o meia Sérgio Manoel, um dos mais emocionados.
Após o gol da vitória -que começou num cruzamento seu e foi concluído por Sandro, de cabeça-, Sérgio Manoel, revelado pelo Santos, que defendeu por quatro anos, dirigiu-se ao setor das sociais da Vila Belmiro e beijou o escudo do Botafogo, provocando a torcida da casa.
"Queria mostrar para eles que o único escudo que beijei além do do Santos foi o do Botafogo. Ainda tenho mágoas do jeito que saí daqui", disse o jogador, nascido em Santos, que deixou o clube paulista desprezado pelos dirigentes e criticado pela torcida.
Mas mesmo os que não tinham "contas a acertar" com o adversário demonstravam um imenso alívio. "Vamos dormir melhor agora, porque a gente não estava conseguindo dormir até hoje (anteontem)", completou o atacante Zé Carlos, se referindo às inúmeras pressões que os integrantes da equipe vinham sofrendo.
Inconformada com a campanha que a equipe vinha fazendo, a torcida contribuiu para aumentar ainda mais a tensão no clube.
Em jogo contra o Inter, no último dia 4, torcedores invadiram o gramado do estádio Caio Martins para agredir os jogadores. O atacante Valdir foi atingido.
Até fora do campo, o clima não era bom para os jogadores. Há cerca de duas semanas, Zé Carlos também foi vítima dos torcedores. Ao parar o carro em um engarrafamento, teve o vidro do seu veículo quebrado e quase levou um soco de um torcedor.
Preocupados, alguns jogadores, como Sérgio Manoel, contrataram seguranças.
Anteontem, porém, o clima nos vestiários insinuava uma "nova era", cujo principal expoente é o técnico Antônio Clemente.
"É extraordinário. Acabou aquela inhaca, de só perder, perder. Eles (os jogadores) estavam acabrunhados. A vitória mostrou que eles podem mudar a situação", vibrou o novo técnico.
Carioca, 63 anos, procurador federal aposentado, com passagem pelo Atlético-PR, Clemente, que ocupava o cargo de diretor técnico no Botafogo, foi apontado pelos atletas como fundamental para a vitória. Na verdade, a antipatia do time pelo último técnico, Carlos Alberto Torres, potencializa a boa imagem do atual.
"Ele ganhou a nossa confiança em uma semana. Precisamos de tranquilidade, e ele deu. Além disso, passou a considerar as características de cada jogador, o que não ocorria", disse o meia Rodrigo.
Sob o comando de Torres, o time perdeu cinco jogos seguidos, quatro em casa. Explosivo e até destemperado, ele logo se incompatibilizou com a equipe.
Após derrota para o Vitória, fez acusações aos jogadores. Depois, recuou, mas o mal já estava feito.


Colaborou Sérgio Rangel, da Sucursal do Rio

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