São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 2002

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FUTEBOL

Os números ajudam e enganam

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Este é um bom momento para analisar os números do campeonato, publicados pela Folha e pelo "Estado de Minas".
Em qualquer atividade, a estatística é importante para a compreensão dos fatos. Mas os números também mentem.
Houve apenas 21% de empates. Em 2001, a média foi de 23%. Em 1989, antes de a vitória valer três pontos, era de 38%. Os times estão jogando para vencer. Empate, mesmo fora de casa, é ruim.
A média de gols foi excepcional (3,03 por partida). O São Paulo tem a maior média (2,28), seguido pelo Atlético-MG e pelo Santos. Dos classificados, Corinthians, Juventude e Grêmio não estão entre as oito equipes que fizeram mais gols. O Juventude prioriza a defesa e o contra-ataque. No Grêmio, só Rodrigo Fabri faz muitos gols (18). O Corinthians acha um desperdício ganhar por dois gols de diferença.
O São Caetano, além de fazer muitos gols (sexto na média), tem a melhor defesa (sofreu 1,12 gol por partida). Grêmio e Juventude estão logo abaixo. Após a vitória sobre o Santos, o estrategista Mário Sérgio disse: "Passamos o primeiro tempo anulando os habilidosos jogadores do Santos e, no segundo, ganhamos o jogo".
Dos oito melhores, só Atlético e Fluminense não estão entre os dez que sofreram menos gols. Fluminense, Palmeiras e Paysandu têm as piores defesas (46 gols). Os zagueiros de Fluminense e Palmeiras são muito fracos. No Atlético, o problema da defesa é a marcação individual. Zagueiro que corre atrás de atacante está perdido. A marcação individual funciona bem no meio-campo, quando o adversário tem um excepcional organizador de jogadas.
O número de faltas continua muito alto (26,2 por equipe). Grêmio (30,9) e São Caetano (30,4) são os times mais faltosos. O time gaúcho marca a saída de bola, pressionando, o que aumenta a chance de cometer faltas. Os jogadores do São Caetano levam ao pé da letra a filosofia do Mário Sérgio: "Futebol é para homem". Seria um bom assunto para o analista de Bagé, personagem do Luis Fernando Veríssimo.
Os defensores, incluindo os goleiros, cometem muitas faltas e pênaltis sem necessidade. Não sabem antecipar nem cercar o atacante. Atropelam.
O Corinthians é o time que mais troca passes (média de 89,1 por partida). Os jogadores não se afobam nem rifam a bola. Fazem tudo certinho. Isso é geralmente virtude. Outras vezes é defeito. Também se ganha na improvisação.
Não se pode confundir o jogador que dá passes decisivos, como Marques, Kaká e Diego, com os que dão apenas passes para os lados e são os melhores na estatística. Fabinho, do Corinthians, Almir, do Botafogo, e Rogerinho, do Paysandu, lideram a lista dos melhores passadores.
Santos e Atlético não têm um típico artilheiro, mas são os que fazem mais gols depois do São Paulo. No Peixe, todos fazem gols. O Galo joga com três zagueiros, mas os outros (com exceção do volante) são atacantes quando o time tem a posse de bola. O artilheiro Mancini (13 gols) não é lateral. É um verdadeiro ala. Ocupa a mesma posição de um meia-direita no sistema 4-4-2.
O Corinthians, não aumentou o número de gols após a escalação do Guilherme. A equipe procura o artilheiro, ele faz muitos gols, mas os outros deixam de fazer. A obrigação de fazer gols passou a ser do centroavante.
Não concordo também com a excessiva valorização que se dá ao atacante que só sabe fazer gols, numa média em torno de meio gol por partida. Se colocarem um zagueiro alto, forte e raçudo parado dentro da área, provavelmente ele também fará meio gol por jogo. Não fazem parte desse grupo atacantes, como Romário, que marcam belíssimos gols e ainda dão excelentes passes. Na função de pivô, Guilherme também distribui o jogo com eficiência.
O São Paulo tem o melhor ataque, três pentacampeões, o artilheiro (Luis Fabiano, ao lado de Rodrigo Fabri), o melhor jogador do campeonato (Kaká), é o time que mais encanta, está cinco pontos na frente do segundo (São Caetano) e 13 do Santos, adversário das quartas-de-final. É a melhor equipe do campeonato, o que não significa que será o campeão. Seria se o Brasileiro fosse por pontos corridos, único critério justo.
Na primeira fase, o São Paulo teve apenas 50% de aproveitamento contra os outros sete classificados. Perdeu para Juventude, São Caetano e Atlético, empatou com o Corinthians e ganhou de Grêmio, Fluminense e Santos.
Não será surpresa a eliminação do São Paulo.

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