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FUTEBOL
Os números ajudam e enganam
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Este é um bom momento para analisar os números do
campeonato, publicados pela Folha e pelo "Estado de Minas".
Em qualquer atividade, a estatística é importante para a compreensão dos fatos. Mas os números também mentem.
Houve apenas 21% de empates.
Em 2001, a média foi de 23%. Em
1989, antes de a vitória valer três
pontos, era de 38%. Os times estão
jogando para vencer. Empate,
mesmo fora de casa, é ruim.
A média de gols foi excepcional
(3,03 por partida). O São Paulo
tem a maior média (2,28), seguido
pelo Atlético-MG e pelo Santos.
Dos classificados, Corinthians, Juventude e Grêmio não estão entre
as oito equipes que fizeram mais
gols. O Juventude prioriza a defesa e o contra-ataque. No Grêmio,
só Rodrigo Fabri faz muitos gols
(18). O Corinthians acha um desperdício ganhar por dois gols de
diferença.
O São Caetano, além de fazer
muitos gols (sexto na média), tem
a melhor defesa (sofreu 1,12 gol
por partida). Grêmio e Juventude
estão logo abaixo. Após a vitória
sobre o Santos, o estrategista Mário Sérgio disse: "Passamos o primeiro tempo anulando os habilidosos jogadores do Santos e, no segundo, ganhamos o jogo".
Dos oito melhores, só Atlético e
Fluminense não estão entre os dez
que sofreram menos gols. Fluminense, Palmeiras e Paysandu têm
as piores defesas (46 gols). Os zagueiros de Fluminense e Palmeiras são muito fracos. No Atlético,
o problema da defesa é a marcação individual. Zagueiro que corre atrás de atacante está perdido.
A marcação individual funciona
bem no meio-campo, quando o
adversário tem um excepcional
organizador de jogadas.
O número de faltas continua
muito alto (26,2 por equipe). Grêmio (30,9) e São Caetano (30,4)
são os times mais faltosos. O time
gaúcho marca a saída de bola,
pressionando, o que aumenta a
chance de cometer faltas. Os jogadores do São Caetano levam ao pé
da letra a filosofia do Mário Sérgio: "Futebol é para homem". Seria um bom assunto para o analista de Bagé, personagem do Luis
Fernando Veríssimo.
Os defensores, incluindo os goleiros, cometem muitas faltas e pênaltis sem necessidade. Não sabem antecipar nem cercar o atacante. Atropelam.
O Corinthians é o time que mais
troca passes (média de 89,1 por
partida). Os jogadores não se afobam nem rifam a bola. Fazem tudo certinho. Isso é geralmente virtude. Outras vezes é defeito. Também se ganha na improvisação.
Não se pode confundir o jogador
que dá passes decisivos, como
Marques, Kaká e Diego, com os
que dão apenas passes para os lados e são os melhores na estatística. Fabinho, do Corinthians, Almir, do Botafogo, e Rogerinho, do
Paysandu, lideram a lista dos melhores passadores.
Santos e Atlético não têm um típico artilheiro, mas são os que fazem mais gols depois do São Paulo. No Peixe, todos fazem gols. O
Galo joga com três zagueiros, mas
os outros (com exceção do volante) são atacantes quando o time
tem a posse de bola. O artilheiro
Mancini (13 gols) não é lateral. É
um verdadeiro ala. Ocupa a mesma posição de um meia-direita
no sistema 4-4-2.
O Corinthians, não aumentou o
número de gols após a escalação
do Guilherme. A equipe procura o
artilheiro, ele faz muitos gols, mas
os outros deixam de fazer. A obrigação de fazer gols passou a ser do
centroavante.
Não concordo também com a
excessiva valorização que se dá ao
atacante que só sabe fazer gols,
numa média em torno de meio
gol por partida. Se colocarem um
zagueiro alto, forte e raçudo parado dentro da área, provavelmente
ele também fará meio gol por jogo. Não fazem parte desse grupo
atacantes, como Romário, que
marcam belíssimos gols e ainda
dão excelentes passes. Na função
de pivô, Guilherme também distribui o jogo com eficiência.
O São Paulo tem o melhor ataque, três pentacampeões, o artilheiro (Luis Fabiano, ao lado de
Rodrigo Fabri), o melhor jogador
do campeonato (Kaká), é o time
que mais encanta, está cinco pontos na frente do segundo (São
Caetano) e 13 do Santos, adversário das quartas-de-final. É a melhor equipe do campeonato, o que
não significa que será o campeão.
Seria se o Brasileiro fosse por pontos corridos, único critério justo.
Na primeira fase, o São Paulo
teve apenas 50% de aproveitamento contra os outros sete classificados. Perdeu para Juventude,
São Caetano e Atlético, empatou
com o Corinthians e ganhou de
Grêmio, Fluminense e Santos.
Não será surpresa a eliminação
do São Paulo.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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