São Paulo, quinta, 21 de janeiro de 1999

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MATINAS SUZUKI JR.
O Samba inglês

A volta de um boxeador é sempre difícil. Muito tempo sem um adversário real paralisa os reflexos, adormece a habilidade, diminui o fôlego, relaxa a técnica.
Foi assim com Muhammad Ali depois da prisão, foi assim na segunda volta de Mike Tyson.
Mas, mesmo levando-se em consideração que Tyson está procurando voltar à sua melhor forma, a luta da madrugada do último domingo mostrou que, à medida em que o tempo avança, ele vai perdendo as suas principais armas que são a potência e a velocidade nos socos.
Ele dificilmente entrará para o círculo dos grandes lutadores técnicos, que possuíam um repertório de virtudes maiores do que as que Tyson dispõe daqui para a frente na fase final da sua carreira.
Dizem que jamais teremos uma idéia do verdadeiro Ali, pois ele passou os momentos de apogeu físico na cadeia. Pode- se até dizer o mesmo de Mike Tyson.
Mas Tyson será sempre um lutador de uma época de muita violência e pouca classe.
Jamais um artista do estilo, como Ali, como Liston, como os dois Sugars...

A seleçãozinha da teenbalada pode até conseguir uma boa colocação no Sul-Americano lá na Argentina, mas, desde a primeira partida deste torneio, a qualidade do seu futebol nunca chegou a me iludir. Que dirá me convencer.
Quem andou me encantando foram os miguelitos da seleção portenha. Mas, como nesta faixa de idade o equilíbrio emocional é muito importante, os brasileiros têm uma chance de bater os argentinos. A ver.

A Itália tem o melhor campeonato de futebol dos últimos anos. No vácuo da queda de produção da Juventus, a disputa pela liderança entre Fiorentina, Lazio e Parma -as forças emergentes, com três boas equipes- representa uma saudável alternância para o calcio.

Pelo pouco que farejei daqui, a Primeira Liga inglesa também está tendo uma ótima temporada, até agora.
No caso da Inglaterra, registra-se um fenômeno curioso.
Ao contrário da Itália ou da Espanha, países onde está difícil achar grandes jogadores nativos, a maior importação de jogadores ajudou a formar uma nova geração de futebolistas ingleses que vão dar muito o que falar nos próximos anos.
É o caso do teen Owen, é o caso do becão Sol Campbell.

Por falar em jovens e na Inglaterra, o grande jornal "The Sunday Times" (tem um dos melhores suplementos de esporte do mundo) aposta no futuro de um garoto de 13 anos, joga no Millwall e já fez 122 gols em 32 jogos.
Seu nome: Cherno Samba.

Deve haver alguma punição, além da expulsão de campo, para jogadores que recebem cartão vermelho?
A polêmica está no ar, e parece haver uma tendência de considerar que a obrigação de deixar a partida é pena suficiente.
Mas lá da Inglaterra vem uma sugestão interessante: trocar a suspensão por trabalhos comunitários.
Pode não ser a solução ideal para o futebol, mas ela ajudaria muito a desenvolver nos jogadores a necessária consciência de cidadania.
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Matinas Suzuki Jr. escreve às quintas e é diretor editorial-adjunto da Abril S/A.



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