JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Num dos amplos e refrigerados corredores da Federação Paulista de Futebol, Tico (gerente-diretor de regulamentos) e Teco (assistente-adjunto de tabelas) se cruzam. Teco tira seu boné como se fosse uma cartola e faz um largo cumprimento.
- Bom dia, senhor Teco.
- Péssimo dia, Tico...
- O que é isso, Teco, por que você está tão triste?
- É que a fase classificatória do Paulista vai acabar depois de amanhã, Tico, e eu já estou com saudades de toda a confusão que nós dois armamos para este ano.
- Calma, Teco, não fique triste. Também fomos nós que fizemos o regulamento da fase final!
- E daí, Tico?
- E daí que nós também preparamos algumas coisinhas divertidas para o mata-mata.
- Não lembro.
- Claro, você não lembra nem do seu nome, Teco.
- Claro que lembro! É..., é..., bom pode me chamar de Teco.
- Então, Teco, você sabe de quem será o mando do jogo nessa fase?
- Deve ser o que terminou a fase classificatória mais bem colocado. Por exemplo, se um time que terminou em primeiro enfrenta um que terminou em segundo, o mando deve ser do primeiro.
- Rá! Aí é que entra a nossa criatividade, Teco. Há mais mistérios entre os parágrafos de um regulamento do que sonha a nossa vã filosofia! E lá está escrito: "Para efeito do mando da partida da segunda fase, fica estabelecido que a associação que tiver a melhor campanha por pontos ganhos obtidos na primeira fase realizará a partida em casa". Ou seja, como o primeiro colocado de um grupo pode ter somado menos pontos que o segundo do outro grupo, não é impossível que um time de colocação inferior possa jogar em casa nas quartas-de-final e ainda ser premiado nas situações de desempate.
- Não me lembrava disso.
- E temos outra boa maluquice no regulamento que você não percebeu.
- Como é que eu não percebi? Não pode ser, eu sou tão prespi..., perspri...
- Perspicaz?
- Isso!
- Sem dúvida, Teco, sem dúvida. Mas você esqueceu daquela minha idéia de dar um prêmio para o segundo colocado do Grupo 2.
- Que idéia?
- É que, pela lógica, os times classificados por índice técnico são mais fracos e, assim, deveriam enfrentar dois primeiros colocados. Mas aí eu pensei: "Poxa, os segundos colocados também são gente", e sugeri que o segundo do Grupo 2 enfrentasse uma equipe classificada por índice técnico, enquanto o primeiro do Grupo 2 pegaria o segundo do Grupo 1.
- Isso parece bem criativo.
- E é mesmo, Teco. Por estas contas, no Grupo 2 vale mais a pena ser segundo do que primeiro colocado.
- Nós somos brilhantes, Tico!
- E modestos, Teco! Mas chega de conversa. Vamos fazer uma reunião para ver como será a venda do campeonato para a televisão no ano que vem.
- Vamos lá, Tico. Mas vai ser difícil fazer mais confusão do que fizemos neste ano.
- Ora, Teco, se a gente se esforçar, a gente consegue.
- É verdade. E se dessa vez nós vendêssemos para todas as TVs ao mesmo tempo?
- Parece um bom começo, Teco, parece um bom começo.

I
Isael, lateral-direito, conheceu Maria Elvira na Lapa -prostituída, com sífilis, dermite nos dedos e os dentes em petição de miséria. Isael tirou Maria Elvira da vida, pagou médico, dentista, manicure... Quando ela se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Isael podia dar-lhe uma surra, mas preferiu mudar de time. E daí em diante, toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, ele trocava de time e também de cidade. Passaram por Quebra-Freio, Vai-de-Cães, Sombrio, Passa e Fica, Espera Feliz, Não-me-toque e Tuntum... Por fim foram para Solidão (PE), onde Isael, já sem paciência, planejava matar Maria Elvira com seis tiros. Mas, dessa vez, ela tornou-se amante do presidente do clube, e Isael passou a ter os melhores salários de sua carreira. Hoje não há casal mais feliz do que Isael e Maria Elvira.

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