São Paulo, Segunda-feira, 21 de Junho de 1999
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Contra a condenação sumária de Edílson

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Para o bem ou para o mal, a partida inacabada de ontem, no Morumbi, vai ficar para a história. Palmeiras e Corinthians, dois dos melhores times do Brasil, senão os dois melhores, mostraram como é frágil o equilíbrio psicológico de um jogador profissional, sobretudo em situações de alta tensão como essa final entre equipes arqui-rivais.
Enquanto escrevo estas linhas não sei se o quebra-pau em campo se espalhou para as ruas da cidade. Espero, obviamente, que não.
As emissoras de TV que transmitiram a partida condenaram, em uníssono, a brincadeira de Edílson que desencadeou a fúria alviverde. Galvão Bueno chegou a dizer que Luxemburgo "pode até rever sua convocação para a seleção".
A questão, entretanto, é complexa. No melhor dos mundos, Edílson teria todo o direito de fazer o que fez: não cometeu nenhuma infração, não agrediu ninguém, apenas exibiu sua arte.
O adversário, sentindo-se ofendido, deveria responder com as mesmas armas, ou seja, com gols, dribles, chapéus, o que fosse, mas "na bola". A guerra, nesse caso, permaneceria na esfera do simbólico, sem se tornar agressão literal.
Mas não vivemos no melhor dos mundos. Não por acaso, a expressão "fazer arte" tem duplo sentido: no pólo positivo, significa exercer o talento na criação de uma obra artística; no negativo, pode significar a realização de uma molecagem.
Edílson "fez arte" nos dois sentidos. Sua provocação feriu uma espécie de código de ética implícito entre atletas profissionais. Mas não concordo com sua condenação sumária pela mídia, que, aliás, acirrou o quanto pôde a rivalidade.
Até porque é um absurdo considerar uma bela "embaixada" mais grave que uma botinada no joelho do adversário. Se Edílson tivesse dado uma cotovelada, ou chutado o tornozelo de alguém, talvez a condenação não fosse tão implacável. Não vivemos, de fato, no melhor dos mundos.
Merece reflexão, além disso, a comemoração dos jogadores palmeirenses quando souberam que o juiz encerrara a partida. Foi uma reação tão espontânea que permite supor que a equipe, não vendo meios de reverter sua desvantagem, estava interessada na confusão. Nesse caso, a brincadeira de Edílson teria fornecido apenas o pretexto.
Em todo caso, se Edílson deve ser criticado, é pela falta de sensibilidade de perceber a alta periculosidade de sua brincadeira. Júnior, que o agrediu na sequência do lance, teve uma reação humana, compreensível e perdoável (poderia quando muito levar o amarelo).
Se a coisa parasse aí, o ponderado Oswaldo Oliveira certamente sacaria de campo o atacante corintiano para evitar problemas, e o jogo iria até o final. O que entornou mesmo o caldo foi a atitude de Paulo Nunes, que partiu para a agressão a Edílson.
A confusão toda não tirou o mérito da conquista do Corinthians (ontem superior ao rival), e muito menos da homenagem da Fiel a Gamarra, aos gritos de "Fica, fica". Se ele vai ficar ou não, é outra história, mas que seu coração deve ter balançado, isso deve.

E-mail jgcouto@uol.com.br


José Geraldo Couto escreve às segundas e aos sábados



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