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Contra a condenação sumária de Edílson
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Para o bem ou para o mal, a
partida inacabada de ontem,
no Morumbi, vai ficar para a
história. Palmeiras e Corinthians, dois dos melhores times
do Brasil, senão os dois melhores, mostraram como é frágil o
equilíbrio psicológico de um jogador profissional, sobretudo
em situações de alta tensão como essa final entre equipes arqui-rivais.
Enquanto escrevo estas linhas
não sei se o quebra-pau em
campo se espalhou para as ruas
da cidade. Espero, obviamente,
que não.
As emissoras de TV que transmitiram a partida condenaram, em uníssono, a brincadeira de Edílson que desencadeou
a fúria alviverde. Galvão Bueno chegou a dizer que Luxemburgo "pode até rever sua convocação para a seleção".
A questão, entretanto, é complexa. No melhor dos mundos,
Edílson teria todo o direito de
fazer o que fez: não cometeu
nenhuma infração, não agrediu ninguém, apenas exibiu
sua arte.
O adversário, sentindo-se
ofendido, deveria responder
com as mesmas armas, ou seja,
com gols, dribles, chapéus, o
que fosse, mas "na bola". A
guerra, nesse caso, permaneceria na esfera do simbólico, sem
se tornar agressão literal.
Mas não vivemos no melhor
dos mundos. Não por acaso, a
expressão "fazer arte" tem duplo sentido: no pólo positivo,
significa exercer o talento na
criação de uma obra artística;
no negativo, pode significar a
realização de uma molecagem.
Edílson "fez arte" nos dois
sentidos. Sua provocação feriu
uma espécie de código de ética
implícito entre atletas profissionais. Mas não concordo com
sua condenação sumária pela
mídia, que, aliás, acirrou o
quanto pôde a rivalidade.
Até porque é um absurdo considerar uma bela "embaixada"
mais grave que uma botinada
no joelho do adversário. Se
Edílson tivesse dado uma cotovelada, ou chutado o tornozelo
de alguém, talvez a condenação não fosse tão implacável.
Não vivemos, de fato, no melhor dos mundos.
Merece reflexão, além disso, a
comemoração dos jogadores
palmeirenses quando souberam que o juiz encerrara a partida. Foi uma reação tão espontânea que permite supor
que a equipe, não vendo meios
de reverter sua desvantagem,
estava interessada na confusão. Nesse caso, a brincadeira
de Edílson teria fornecido apenas o pretexto.
Em todo caso, se Edílson deve
ser criticado, é pela falta de
sensibilidade de perceber a alta
periculosidade de sua brincadeira. Júnior, que o agrediu na
sequência do lance, teve uma
reação humana, compreensível
e perdoável (poderia quando
muito levar o amarelo).
Se a coisa parasse aí, o ponderado Oswaldo Oliveira certamente sacaria de campo o atacante corintiano para evitar
problemas, e o jogo iria até o final. O que entornou mesmo o
caldo foi a atitude de Paulo
Nunes, que partiu para a agressão a Edílson.
A confusão toda não tirou o
mérito da conquista do Corinthians (ontem superior ao rival), e muito menos da homenagem da Fiel a Gamarra, aos
gritos de "Fica, fica". Se ele vai
ficar ou não, é outra história,
mas que seu coração deve ter
balançado, isso deve.
E-mail jgcouto@uol.com.br
José Geraldo Couto escreve às segundas e aos sábados
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