São Paulo, domingo, 21 de julho de 2002

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Reuters
O lateral-direito Cafu comemora gol da Roma (ITA), que chegou a atrasar o pagamento de salários no primeiro semestre


FUTEBOL

Em crise, times italianos atrasam pagamentos e reduzem folha salarial

Europa também renegocia contratos com emissoras

DA REPORTAGEM LOCAL

Não é só no Brasil que os direitos de TV dos eventos esportivos estão em baixa. Na Europa, onde houve um boom nos anos 90, também é hora de retração.
O fenômeno já está sendo sentido na Alemanha e na Inglaterra e agora chega à Itália. As emissoras de TV estão renegociando os contratos com as ligas e os clubes e conseguindo redução nos valores anteriormente acertados.
Wolfgang van Betteray, que administra a massa falida do grupo Kirch, afirmou, por intermédio de sua assessoria de imprensa, que um dos erros do conglomerado foi superavaliar uma série de eventos esportivos, inclusive a Copa do Mundo.
Pelos Mundiais de 2002 e 2006, o grupo chegou a pagar US$ 2,24 bilhões. No momento de revendê-los, teve sérios problemas.
Precisou reduzir os valores em até 350% e, mesmo assim, não conseguiu fechar negócio com países como a Suíça, onde fica a sede da Fifa, a entidade que dirige o futebol mundial, e o continente africano. Para a África, liberou as imagens da Copa gratuitamente, com exceção dos sul-africanos, que pagaram para ver o evento.
Pelos direitos da Copa de 2010, a própria Fifa reconhece que dificilmente conseguirá chegar à casa de US$ 1 bilhão, o que significa uma redução em relação aos dois torneios anteriores.
Desde que o grupo Kirch entrou em crise, os direitos de TV da Bundesliga, o Campeonato Alemão, foram reduzidos, o que gerou um racha entre os clubes e os dirigentes do gigante de mídia.
No início do ano, os times chegaram a pedir o boicote ao canal Premiere, que pertencia ao Kirch, depois que um pagamento de US$ 90 milhões não lhes foi feito.
Na Inglaterra, a emissora ITV, também alegando dificuldades financeiras, renegocia suas dívidas com os times das duas principais divisões do país.
Na Itália, o quadro é parecido. O professor Stephen Dobson, autor de ""A Economia do Futebol", livro publicado pela Universidade de Cambridge, acha que os clubes exageraram nos gastos, especialmente com a folha de pagamentos, e agora começam a se adaptar à nova realidade, inclusive fechando o mercado para os jogadores extracomunitários.
""Os salários foram praticamente dobrando de um ano a outro, enquanto os direitos de TV não tinham como acompanhar o ritmo. Chegou a hora de a bolha estourar, num processo parecido com o que aconteceu com tantas empresas de internet", afirmou.
Depois de os principais clubes italianos terminarem a temporada 2001/2002 com mais de US$ 400 milhões de prejuízo, eles têm oferecido a vários de seus jogadores uma redução salarial.
Alguns dos mais importantes times do país chegaram a atrasar o pagamento de salários no primeiro semestre. Foi o que aconteceu com Lazio, Roma e Torino, que agora estão negociando com alguns de seus atletas o pagamento escalonado dos atrasados.
(FÁBIO SOARES E JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO)



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