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Locuções lusas realçam poesia do futebol
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Se você, como eu, tem dificuldade de acompanhar as transmissões de jogos de futebol pela RTP
(Rádio e Televisão Portuguesa),
há agora um livro que nos ajuda a
compreender essa língua que nos
soa tão estranha: o português de
Portugal. O livro, escrito por Marcos e Luís Bogo, chama-se "É Golo, Pá" (Editora Nova Alexandria) e tem como subtítulo ""As
narrações do futebol português e
suas expressões peculiares".
Não se trata só de rir dos trechos
de narrações lusitanas transcritos
e traduzidos para o "brasileiro"
pelos autores. O livro vai além do
meramente cômico ao realçar a
riqueza de linguagem com que os
portugueses descrevem o futebol.
Leia, por exemplo, esta descrição de um jogo:
""Ao intervalo os adeptos -que
não ultrapassaram a casa dos dez
milhares de presenças- não resistiram e dirigiram alguns assobios ao treinador, juntando a estes alguns epítetos que nos dispensamos de reproduzir. A equipa não estava a jogar bem e tinha
permitido mesmo a igualdade a
uma formação de qualidade técnica inferior muito fechadinha
na sua carapaça".
Ou então este comentário sobre
um jogador: "Fábio ajudou a tapar os caminhos da baliza, durante a primeira parte, mas nunca revelou força para servir de elo
de ligação entre os médios e os
avançados. Ficou nos balneários
aquando do intervalo". Não é pura poesia?
Em tempo: "balneários" são os
vestiários, e "carapaça" é retranca. Assim como "cabrita" é o nosso "chapéu", "fazer um túnel" é
meter entre as pernas do adversário, e uma "cueca" é um drible
desconcertante. Drible, aliás, em
Portugal, é "simulação".
Algumas correspondências com
expressões brasileiras são curiosas. O nosso "dar de letra" é chamado pelos portugueses de "fazer
a vírgula". Por algum motivo, a
metáfora permanece no campo
tipográfico.
Mas a expressão mais intrigante, que certamente fará a delícia
dos psicanalistas, é "ter uma atração" por fulano, que significa
simplesmente baixar o sarrafo.
Na partida de hoje no Caio
Martins vão se confrontar o melhor time do campeonato, o Corinthians, e um dos piores, o Botafogo. O primeiro só tem vitórias, o
segundo não tem nenhuma.
A lógica mandaria cravar a
aposta no Corinthians. Mas, no
futebol, a lógica entra apenas com
uma parte da equação.
A tradição de irregularidade
dos dois times, o fato de o Botafogo jogar "mordido" e em casa, a
fala grossa de Carlos Alberto Torres e até um certo "salto alto" esboçado pelos jogadores corintianos recomendam cautela ao torcedor mosqueteiro.
Nova seleção convocada, novas
dúvidas. Pelas escolhas de Luxemburgo, parece que a idéia é consolidar uma equipe titular (só está
fora Amoroso) e, se possível, vencer, mesmo porque jogos contra a
Argentina nunca são propriamente amistosos.
Testes, mesmo, o treinador concentrou nas laterais, com Mancini
(quem?) e Silvinho. Cada lado do
campo tem um problema oposto:
na direita, faltam opções; na esquerda, sobram.
Wanderley Luxemburgo pode
errar aqui e ali, mas sua filosofia
geral parece certa: manter uma
estrutura básica e aperfeiçoar os
detalhes e o funcionamento do
conjunto, ao contrário de Zagallo,
que a cada convocação trocava
quase todo mundo.
José Geraldo Couto escreve às segundas-feiras e aos sábados
E-mail jgcouto@uol.com.br
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