São Paulo, Sábado, 21 de Agosto de 1999
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Locuções lusas realçam poesia do futebol

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Se você, como eu, tem dificuldade de acompanhar as transmissões de jogos de futebol pela RTP (Rádio e Televisão Portuguesa), há agora um livro que nos ajuda a compreender essa língua que nos soa tão estranha: o português de Portugal. O livro, escrito por Marcos e Luís Bogo, chama-se "É Golo, Pá" (Editora Nova Alexandria) e tem como subtítulo ""As narrações do futebol português e suas expressões peculiares".
Não se trata só de rir dos trechos de narrações lusitanas transcritos e traduzidos para o "brasileiro" pelos autores. O livro vai além do meramente cômico ao realçar a riqueza de linguagem com que os portugueses descrevem o futebol.
Leia, por exemplo, esta descrição de um jogo:
""Ao intervalo os adeptos -que não ultrapassaram a casa dos dez milhares de presenças- não resistiram e dirigiram alguns assobios ao treinador, juntando a estes alguns epítetos que nos dispensamos de reproduzir. A equipa não estava a jogar bem e tinha permitido mesmo a igualdade a uma formação de qualidade técnica inferior muito fechadinha na sua carapaça".
Ou então este comentário sobre um jogador: "Fábio ajudou a tapar os caminhos da baliza, durante a primeira parte, mas nunca revelou força para servir de elo de ligação entre os médios e os avançados. Ficou nos balneários aquando do intervalo". Não é pura poesia?
Em tempo: "balneários" são os vestiários, e "carapaça" é retranca. Assim como "cabrita" é o nosso "chapéu", "fazer um túnel" é meter entre as pernas do adversário, e uma "cueca" é um drible desconcertante. Drible, aliás, em Portugal, é "simulação".
Algumas correspondências com expressões brasileiras são curiosas. O nosso "dar de letra" é chamado pelos portugueses de "fazer a vírgula". Por algum motivo, a metáfora permanece no campo tipográfico.
Mas a expressão mais intrigante, que certamente fará a delícia dos psicanalistas, é "ter uma atração" por fulano, que significa simplesmente baixar o sarrafo.
  Na partida de hoje no Caio Martins vão se confrontar o melhor time do campeonato, o Corinthians, e um dos piores, o Botafogo. O primeiro só tem vitórias, o segundo não tem nenhuma.
A lógica mandaria cravar a aposta no Corinthians. Mas, no futebol, a lógica entra apenas com uma parte da equação.
A tradição de irregularidade dos dois times, o fato de o Botafogo jogar "mordido" e em casa, a fala grossa de Carlos Alberto Torres e até um certo "salto alto" esboçado pelos jogadores corintianos recomendam cautela ao torcedor mosqueteiro.
  Nova seleção convocada, novas dúvidas. Pelas escolhas de Luxemburgo, parece que a idéia é consolidar uma equipe titular (só está fora Amoroso) e, se possível, vencer, mesmo porque jogos contra a Argentina nunca são propriamente amistosos.
Testes, mesmo, o treinador concentrou nas laterais, com Mancini (quem?) e Silvinho. Cada lado do campo tem um problema oposto: na direita, faltam opções; na esquerda, sobram.
Wanderley Luxemburgo pode errar aqui e ali, mas sua filosofia geral parece certa: manter uma estrutura básica e aperfeiçoar os detalhes e o funcionamento do conjunto, ao contrário de Zagallo, que a cada convocação trocava quase todo mundo.


José Geraldo Couto escreve às segundas-feiras e aos sábados
E-mail jgcouto@uol.com.br



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