São Paulo, terça-feira, 21 de dezembro de 2004

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Mágica supera gols e dá a Ronaldinho o trono da Fifa

Andreas Meier/Reuters
Ronaldinho recebe o troféu de melhor jogador de 2004 das mãos do presidente da Fifa, Joseph Blatter


Com menos faro artilheiro do que rivais, craque do Barcelona é o quarto brasileiro a ganhar prêmio

RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE

"A vida não é só alegria." Ontem foi, e a maior da carreira.
Ronaldinho ganhou o título de melhor jogador do mundo pela primeira vez. Em Zurique, o meia-atacante brasileiro recebeu a principal honraria individual da Fifa e dedicou o prêmio às pessoas que estiveram com ele "nos bons e maus momentos".
Depois, falou pouco sobre as dificuldades que enfrentou até chegar ao topo do futebol. Elogiou mais os jogadores cujos passos ele seguiu. "Desde o começo, sonhava em repetir meus ídolos, Romário, Rivaldo e Ronaldo. Pensava um dia em ganhar esse prêmio."
Ele manteve uma hegemonia nacional na eleição da Fifa de melhor da temporada. Tornou-se o quarto do país -sucedeu exatamente Romário (1994), Ronaldo (1996, 97 e 02) e Rivaldo (1999).
Aos 24 anos, o meia-atacante do Barcelona derrota com seus dribles e jogadas de efeito os artilheiros Henry (francês do Arsenal) e Shevchenko (ucraniano do Milan), campeões na Inglaterra e na Itália, respectivamente.
Foram 620 pontos para o brasileiro, contra 552 de Henry e 253 de Shevchenko, seus concorrentes europeus na final. Pela primeira vez a eleição da Fifa de melhor jogador, que acontece desde 1991, captou votos de atletas e de sindicato de jogadores. Além dos treinadores das seleções, votaram também os capitães de cada equipe e representantes da FIFPro (Federação Internacional de Futebolistas Profissionais).
Justamente quando os boleiros entraram na votação a eleição apresentou seu resultado mais artístico e lúdico, menos compromissado com o resultado.
Ronaldinho foi apontado como o melhor jogador da liga espanhola passada, quando guiou o Barcelona à Copa dos Campeões distribuindo chapéus, elásticos e pedaladas. O visual diferente (além dos dentes avantajados, cultivou uma cabeleira) também o ajudou a ficar tão popular quanto os galácticos Beckham, Ronaldo e Zidane -nenhum jogador do Real Madrid, aliás, conseguiu ser finalista do prêmio Fifa.
"O Ronaldinho foi muito bem com o Brasil após a Copa América e teve uma temporada brilhante no Barcelona", afirmou o presidente da Fifa, Joseph Blatter.
Desde 2001, quando o português Figo foi o vencedor, não aparecia uma novidade de fato na eleição da máxima entidade do futebol. Nos últimos dois anos, Ronaldo e Zidane levaram seus terceiros troféus, o que deu um ar de mesmice à cerimônia de gala da Fifa que acontece tradicionalmente no final de cada ano.
Ronaldinho recebeu algumas críticas por não render na seleção brasileira o mesmo que no Barcelona. Esteve fora da Copa América, quando o Brasil foi campeão com um time B, e Adriano foi o grande destaque. Nas eliminatórias, foi ofuscado pelo outro Ronaldo, mesmo quando esse estava acima do peso, e por Kaká, um dos destaques do Milan neste ano.
O futebol e o espírito moleques de Ronaldinho, porém, conquistaram de tal forma Barcelona que os torcedores do famoso time catalão já o veneram mais do que fizeram com Romário e Ronaldo.
Garoto-propaganda da Nike, Ronaldinho se acostumou a usar a camisa 10, diferentemente dos outros dois ídolos brasileiros.
"Esse prêmio me motiva para tentar ser o melhor outra vez", disse o jogador, que volta a campo hoje pelo Espanhol. "Já vou para a concentração. É o último jogo do ano. Depois, tem dez dias de férias. Vou para o Brasil comemorar, com pagode, essas coisas."
Ronaldinho afirmou que só ficou sabendo da vitória no momento do anúncio oficial. "Foi perfeito. Estou realizando meu sonho", disse ele, que ganhou o prêmio mesmo sem título de expressão na temporada e com poucos gols -13 em ligas nacionais.
"Tento ser o mais objetivo possível. Deixo mais para os atacantes marcar. Nunca fui de fazer muitos gols", afirmou o craque, que chegou e saiu de Zurique em vôo fretado do Barcelona, agora o clube recordista de melhores do mundo -Ronaldinho foi o quarto na história do time catalão.
Henry, que fez 30 gols na última liga inglesa, quando ajudou o Arsenal a ganhar um título invicto, já marcou 15 vezes na atual edição, mas, como Ronaldinho, não brilhou muito em sua seleção. "O Henry ficou meio frustrado por ter ficado pela segunda vez em segundo lugar", disse Blatter.
Só Shevchenko se deu bem mesmo nesse quesito, uma vez que a Ucrânia está bem perto de jogar sua primeira Copa. Ele venceu a "Bola de Ouro", prêmio dado ao melhor da Europa.
Além de Ronaldinho, o Brasil colecionou outros prêmios. A seleção brasileira foi eleita a melhor do ano, Falcão acabou coroado o melhor do futsal, nova categoria na cerimônia, e Thiago Carriço já havia faturado anteontem o primeiro Mundial interativo.


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