São Paulo, quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Melhores do mundo

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

O melhor do ano em qualquer eleição, até para o mais chato, não é sempre o melhor de verdade. Muitos estão melhores, mas não são os melhores.
O São Paulo tem uma boa equipe, mereceu o título mundial e todos os aplausos, porém não é melhor time do mundo. Muito menos o Liverpool. Não sei qual é o melhor.
Com Ronaldinho Gaúcho é diferente. Mesmo se ele não fosse o melhor do ano, seria o melhor do mundo. O que é, é. Surpreendentemente, Felipão votou em Kaká, e Zico, em Adriano.
Na semana passada, assisti a uma entrevista de um conceituado jornalista inglês. Não lembro o seu nome nem o canal de TV. Ele disse que Ronaldinho Gaúcho é o jogador que mais gosta de ver atuar, contudo escolheria o Lampard ou o Gerrard para o seu time. Os dois são excepcionais e muito parecidos em campo.
Mas discordo totalmente. Esse conceito equivocado sobre o Ronaldinho é comum até no Brasil. Apenas está reprimido neste momento. Basta a seleção nacional jogar mal para dizerem que ele enfeita demais as jogadas e que não é objetivo. Nelson Rodrigues, que morreu exatamente há 25 anos, diria que são os idiotas da objetividade.
Ronaldinho Gaúcho não é somente o mais espetacular, o mais malabarista, o mais inventivo, o mais lúdico e o mais risonho. É também o mais eficiente. Criar jogadas e dar passes excepcionais é tão objetivo quanto ser artilheiro.
Ronaldinho não é tão espetacular na seleção quanto no Barcelona, mas é excepcional na maior parte dos jogos na equipe brasileira, como foi na Copa do Mundo de 2002.
Parreira disse ao seu amigo Galvão Bueno no Sportv que Ronaldinho não brilha ainda mais na seleção porque divide o palco com outras estrelas. Não acho que seja por aí. Eto'o e Deco estão também entre os grandes jogadores do mundo.
No Barcelona, Ronaldinho treina todos os dias com os companheiros. E a maneira de jogar da equipe, que marca por pressão e que troca muitos passes no campo do adversário, favorece ao jogador, pois ele está sempre com a bola mais perto do gol.
Além disso, Ronaldinho é um atacante no Barcelona, pela esquerda. Ele recua somente para receber a bola. Na seleção brasileira, ele tem a mesma liberdade, porém é um armador, com a obrigação também de recuar, fechar os espaços pela esquerda e ajudar os volantes.
Lampard, Gerrard, Kaká, Eto'o, Shevchenko e outros jogadores excepcionais, todos em grande forma, executam com grande eficiência os fundamentos técnicos da posição e têm consciência de tudo o que fazem em campo.
Ronaldinho vai além. O seu futebol é surpreendente e não tem explicações. Nem ele sabe como e porque faz.
Ronaldinho mostra que é possível existir em um esporte de altíssimo nível de competição um futebol lúdico, bonito e que ultrapassa os limites da eficiência.
A maioria das pessoas, com razão e prudência, acha que Ronaldinho precisa ser o melhor da próxima Copa para ser considerado um dos cinco maiores de todos os tempos, abaixo somente de Pelé e no mesmo nível de Garrincha, Maradona e Cruyff. Todos eles foram os principais astros de mundiais.
Como não tenho obrigação de ser sempre racional, acredito que Ronaldinho já atingiu esse nível. Não posso analisar também um talento por uma competição que dura 30 dias e de um esporte coletivo.
Diferentemente de muitos jogadores e técnicos da seleção e, principalmente, da CBF, Ronaldinho trata toda a imprensa com respeito, mas sem privilégios. Ele também não é deslumbrado com a fama nem possui algumas idiotices das celebridades.

Bom, calmo e discreto
Os títulos da Libertadores e do Mundial conquistados pelo São Paulo sob o comando do Paulo Autuori são mais uma evidência de que um bom técnico não precisa ser a estrela do time, gritar durante todo o jogo, pressionar o árbitro e auxiliares nem tratar os jogadores como jovens mimados e alienados.
Além disso, Paulo Autuori entende bastante de detalhes técnicos e táticos.
No gol da vitória, a saída da área dos atacantes e a entrada do volante Mineiro nas costas dos zagueiros do Liverpool, que jogam em linha, não foram por acaso.

E-mail tostao.folha@uol.com.br

Texto Anterior: Tênis - Régis Andaku: O dia em que Anna Kournikova me quis
Próximo Texto: Futebol: Na elite, melhor do mundo perde fôlego para os adversários
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.