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FUTEBOL
Melhores do mundo
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
O melhor do ano em qualquer eleição, até para o mais
chato, não é sempre o melhor de
verdade. Muitos estão melhores,
mas não são os melhores.
O São Paulo tem uma boa equipe, mereceu o título mundial e todos os aplausos, porém não é melhor time do mundo. Muito menos o Liverpool. Não sei qual é o
melhor.
Com Ronaldinho Gaúcho é diferente. Mesmo se ele não fosse o
melhor do ano, seria o melhor do
mundo. O que é, é. Surpreendentemente, Felipão votou em Kaká,
e Zico, em Adriano.
Na semana passada, assisti a
uma entrevista de um conceituado jornalista inglês. Não lembro o
seu nome nem o canal de TV. Ele
disse que Ronaldinho Gaúcho é o
jogador que mais gosta de ver
atuar, contudo escolheria o Lampard ou o Gerrard para o seu time. Os dois são excepcionais e
muito parecidos em campo.
Mas discordo totalmente. Esse
conceito equivocado sobre o Ronaldinho é comum até no Brasil.
Apenas está reprimido neste momento. Basta a seleção nacional
jogar mal para dizerem que ele
enfeita demais as jogadas e que
não é objetivo. Nelson Rodrigues,
que morreu exatamente há 25
anos, diria que são os idiotas da
objetividade.
Ronaldinho Gaúcho não é somente o mais espetacular, o mais
malabarista, o mais inventivo, o
mais lúdico e o mais risonho. É
também o mais eficiente. Criar jogadas e dar passes excepcionais é
tão objetivo quanto ser artilheiro.
Ronaldinho não é tão espetacular na seleção quanto no Barcelona, mas é excepcional na maior
parte dos jogos na equipe brasileira, como foi na Copa do Mundo
de 2002.
Parreira disse ao seu amigo
Galvão Bueno no Sportv que Ronaldinho não brilha ainda mais
na seleção porque divide o palco
com outras estrelas. Não acho que
seja por aí. Eto'o e Deco estão
também entre os grandes jogadores do mundo.
No Barcelona, Ronaldinho treina todos os dias com os companheiros. E a maneira de jogar da
equipe, que marca por pressão e
que troca muitos passes no campo
do adversário, favorece ao jogador, pois ele está sempre com a
bola mais perto do gol.
Além disso, Ronaldinho é um
atacante no Barcelona, pela esquerda. Ele recua somente para
receber a bola. Na seleção brasileira, ele tem a mesma liberdade,
porém é um armador, com a obrigação também de recuar, fechar
os espaços pela esquerda e ajudar
os volantes.
Lampard, Gerrard, Kaká, Eto'o,
Shevchenko e outros jogadores
excepcionais, todos em grande
forma, executam com grande eficiência os fundamentos técnicos
da posição e têm consciência de
tudo o que fazem em campo.
Ronaldinho vai além. O seu futebol é surpreendente e não tem
explicações. Nem ele sabe como e
porque faz.
Ronaldinho mostra que é possível existir em um esporte de altíssimo nível de competição um futebol lúdico, bonito e que ultrapassa os limites da eficiência.
A maioria das pessoas, com razão e prudência, acha que Ronaldinho precisa ser o melhor da próxima Copa para ser considerado
um dos cinco maiores de todos os
tempos, abaixo somente de Pelé e
no mesmo nível de Garrincha,
Maradona e Cruyff. Todos eles
foram os principais astros de
mundiais.
Como não tenho obrigação de
ser sempre racional, acredito
que Ronaldinho já atingiu esse
nível. Não posso analisar também
um talento por uma competição
que dura 30 dias e de um esporte
coletivo.
Diferentemente de muitos jogadores e técnicos da seleção e, principalmente, da CBF, Ronaldinho
trata toda a imprensa com respeito, mas sem privilégios. Ele também não é deslumbrado com a fama nem possui algumas idiotices
das celebridades.
Bom, calmo e discreto
Os títulos da Libertadores e do
Mundial conquistados pelo São
Paulo sob o comando do Paulo
Autuori são mais uma evidência
de que um bom técnico não precisa ser a estrela do time, gritar durante todo o jogo, pressionar o árbitro e auxiliares nem tratar os
jogadores como jovens mimados e
alienados.
Além disso, Paulo Autuori entende bastante de detalhes técnicos e táticos.
No gol da vitória, a saída da
área dos atacantes e a entrada do
volante Mineiro nas costas dos
zagueiros do Liverpool, que jogam em linha, não foram por
acaso.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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