São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 2006

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COPA 2006

Time de Zico marca muito, ataca pouco e dá espaço nas laterais, dizem brasileiros que conhecem o futebol japonês

"Espiões" do Brasil destrincham o Japão

LUÍS FERRARI
PAULO GALDIERI

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando entrar em campo para seu terceiro jogo na Copa, contra o Japão de Zico, o Brasil vai encontrar um rival de forte marcação, que, postado no 3-5-2, deverá privilegiar os contra-ataques.
Como os dois alas gostam muito de apoiar, é provável que surjam espaços às suas costas.
Outras boas oportunidades podem aparecer com lançamentos rápidos dos meias para os atacantes, já que os zagueiros, às vezes, preferem fazer a linha de impedimento a buscar a marcação.
A análise é de profissionais brasileiros que tiveram contato recente com o futebol japonês. A pedido da Folha, eles destacaram os pontos fracos do último rival da seleção na primeira fase do Mundial e apontaram aspectos em que os japoneses podem surpreender o time de Parreira.
Ao esmiuçar cada um dos jogadores que o Brasil enfrentará no dia 22 de junho, em Dortmund, que mais foram convocados por Zico, eles também ajudaram o torcedor a individualizar os adversários, uma vez que, como a maioria dos atletas atua no Campeonato Japonês, há pouca informação sobre eles no Brasil.
"A maior ameaça ao Brasil é achar que pode ganhar na hora em que quiser. O Japão é perigoso, corre muito com e sem a posse de bola. Deve marcar e contra-atacar", afirma o técnico do São Caetano, Nelsinho Baptista, que passou dois anos e meio à frente do Nagoya Grampus.
Sucessor de Zico no Kashima Antlers, Toninho Cerezo concorda que o Brasil não pode menosprezar o rival, que, segundo ele, evoluiu bastante desde a Copa que sediou, em 2002.
"A saída de muitos jogadores para a Europa e o trabalho do Zico fizeram o futebol do Japão crescer. Esse intercâmbio mudou um pouco a forma como os atletas encaram grandes competições", aponta Cerezo, que ficou cinco temporadas no Kashima.
Tal mudança de mentalidade também foi identificada por Leonardo, embaixador do Milan, que também defendeu o Kashima Antlers e hoje acompanha os japoneses em ação na Europa. "A maneira como eles encaram os grandes jogos mudou desde 2002, pois vários atletas jogam torneios europeus interclubes."
Se largou uma postura quase subserviente aos rivais de mais tradição, o Japão ainda luta para superar a dificuldade ofensiva.
"No futebol japonês, ainda falta a figura do meia-atacante. Isso deixa os homens de frente meio isolados, em comparação com o padrão brasileiro", observa o atacante Gil, recém-chegado ao Cruzeiro vindo do Verdy Tokyo, para quem a tendência de os zagueiros fazerem linhas de impedimento pode ser um trunfo para o Brasil.
Artilheiro do Brasileiro de 2004, o atacante Washington, que vai para sua segunda temporada no Japão, destaca a ação dos alas como alternativa na armação.
O brasileiro naturalizado Alessandro Santos -que deveria ser o reserva de Miura, segundo Emerson Leão, que comandou o último no ano passado pelo Vissel Kobe- atua pela esquerda e Akira Kaji pela direita.
Os titulares tendem a procurar a linha de fundo para uma das principais armas ofensivas japonesas: os cruzamentos na área.
Como nenhum dos atacantes se destaca por uma técnica mais apurada -um deles, Oguro, é apontado como "o rei do rebote", outro, Yanagisawa, está há dois anos sem marcar gols- os cabeceios podem surpreender.
Nesse fundamento, Nelsinho destaca o atacante Maki e o zagueiro cabeludo Nakazawa, que costuma subir nos escanteios.
O último, aliás, é um dos dois jogadores do Japão que reclamam com juízes, segundo Washington. Salvo o outro (o meia Hidetoshi Nakata), os japoneses não têm o hábito de se dirigir à arbitragem nem aos adversários nos jogos.
Outra arma japonesa são os chutes de longa distância -como aconteceu na última Copa das Confederações, quando Nakamura e Oguro marcaram gols de fora da área no empate em 2 a 2.


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