São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2000


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Carta ao ministro do Trabalho

JOSÉ ROBERTO TORERO

São Paulo, 22 de fevereiro de 2000.
Excelentíssimo senhor ministro do Trabalho da República Federativa do Brasil,
Eu, José Roberto Torero, na qualidade de sexto vice-presidente do Sindicato dos Humoristas, Pândegos, Estróinas, Galhofeiros e Similares, venho por meio desta expressar o meu mais profundo repúdio às recentes cogitações da parte de um conhecido cidadão que pratica, sob a vista grossa das autoridades, o exercício de nossa profissão sem ter as qualificações necessárias para tanto.
Só para lembrá-lo, senhor ministro, de nosso sindicato, que se fortaleceu em meio a terríveis dificuldades e odiosa repressão, não pode ficar calado diante de mais esse abuso.
Em nossas fileiras, já lutaram guerreiros do riso como o nobre Barão de Itararé, o cortante Machado de Assis e o combativo Gregório de Mattos e Guerra.
É inspirado no exemplo deles que agora nos erguemos.
Digo isso com a consciência tranquila, senhor ministro, pois meu diploma da Faculdade de Piracicaba de Humor está registrado nos anais de seu ministério sob o número 1.432.
Também posso exibir a qualquer hora meu certificado de Pós-Graduação em Trocadilhos de Baixo Calão, iniciada na distinta instituição de Ponta Grossa e concluída na não menos gloriosa cidade de Curralinho.
Sou, dessa maneira, uma pessoa que respeita a ordem e exerce sua profissão sob as dignas asas da legalidade.
Feitas essas considerações, afirmo que é com grande pesar que vejo o senhor Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol, intrometer-se em nossa área.
Sim, senhor ministro, porque outra não pode ter sido sua intenção ao dizer que a Copa do Brasil deste ano pode vir a ser disputada por 128 clubes.
Creio, portanto, não ser preciso provar que isso é uma piada e que, sendo uma piada, não poderia sair de sua boca sem, pelo menos, a chancela de um humorista responsável.
Imagine, senhor ministro, uma Copa do Brasil, a segunda competição nacional mais importante, com 128 clubes. Qual será o jogo de abertura: casados x solteiros? Com camisa x sem camisa?
Francamente, se isso não é uma piada, eu não sei mais o que uma piada possa ser.
Espero que o senhor tome enérgicas providências e que, nos termos da lei, puna esse irresponsável diretor futebolístico.
Nossa categoria, que tanto fez por nosso grande país, não abre mão do direito de ser a única a poder dizer coisas esdrúxulas, sem sentido, patéticas e que façam as pessoas rirem a bandeiras despregadas.
Não podemos, de modo nenhum, tolerar essa invasão de espaço profissional, pois isso pode ser como o romper de um dique, como o descer das lavas de um incandescente vulcão. Não seria absurdo imaginar que amanhã outros venham se achar no direito de contar piadas, tais como essa, provocando uma terrível onda de desemprego em nosso já tão castigado meio.
Certo de sua consideração, despeço-me na confiança de que a justiça será feita, e que nosso sagrado direito de dizer asneiras será preservado.
Mando-lhe um abraço fraternal em nome do patrono Stanislaw Ponte Preta.
Cordialmente,
José Roberto Torero.

E-mail torero@uol.com.br


José Roberto Torero escreve às terças e às sextas-feiras

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