São Paulo, segunda-feira, 22 de abril de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Presidente do time do Rio convida Luiz Drummond, conhecido contraventor, para dirigir o esporte do clube

Bicheiro assume hoje futebol do Botafogo

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Enquanto a maioria dos grandes clubes do país investe na profissionalização do futebol, o Botafogo escolheu uma forma inusitada para tentar se modernizar.
Hoje à tarde o presidente do clube, Mauro Ney Palmeiro, vai passar todo o comando do futebol para um dos mais conhecidos contraventores do Rio: o bicheiro Luiz Pacheco Drummond.
Em 1993, ele foi condenado a seis anos de prisão por formação de quadrilha e bando armado pela juíza Denise Frossard, do Tribunal de Justiça do Rio.
Drummond é apontado pela Justiça do Rio como um dos integrantes da cúpula do jogo do bicho no Estado.
""A nossa opção pelo Luizinho se deve a sua forte experiência administrativa", disse Palmeiro, ao justificar a contratação de Drummond para ser o homem forte do futebol do clube.
Ele vai substituir o ex-técnico da seleção brasileira de vôlei Bebeto de Freitas, que deixou o cargo depois de cerca de três meses por divergências com a comissão técnica e cúpula do clube. ""O Luizinho sabe se cercar de bons profissionais. Por isso, confio no seu sucesso", disse o presidente.
Mesmo com o envolvimento de Drummond com a contravenção, Palmeiro crê que fez a melhor opção ao clube. Ele chegou a dizer que ser preso ""faz parte da vida".
""No momento em que somos presos, condenados e pagamos a nossa pena, estamos livres na sociedade para tocar a vida normalmente. Faz parte da vida", disse o dirigente, que é advogado e procurador aposentado do Estado.
Com a chegada de Drummond, o Botafogo deve contar com verba da contravenção no futebol. A situação financeira do clube é grave. O elenco e funcionários estão há três meses sem receber.
Ao ser questionado se o bicheiro investiria o seu dinheiro no clube, Palmeiro não quis comentar. ""Isso é problema dele. Não o convidei pelo seu dinheiro. Ele é benemérito do clube", disse o presidente, que vai encerrar o seu mandato no final do ano.
Como se não bastasse o caos administrativo, o Botafogo também tem problemas dentro do campo. O time é um fracasso nos últimos anos. Em 1999, o Botafogo quase foi rebaixado no Campeonato Brasileiro. No ano passado, o time foi coadjuvante e não se classificou às finais do Estadual do Rio.
Neste ano, a equipe manteve o fraco desempenho. O Botafogo já está eliminado do Torneio Rio-São Paulo e da Copa do Brasil. Até o final do semestre, o time terá de se contentar em jogar pelo bagunçado Estadual do Rio.
Apesar de ter ficado distante do futebol desde que foi condenado em 1993, Drummond já foi dirigente do clube em outras duas ocasiões. Em 1984, assumiu o cargo de vice-presidente de futebol do clube. Em 1990, o contraventor voltou a General Severiano para ocupar o mesmo cargo.
Apesar de já ter acertado a sua volta ao Botafogo, Drummond prefere manter silêncio sobre os seus planos para o futebol do Botafogo. Na quinta-feira, ele deixou a sede do clube sem dar entrevistas. O bicheiro disse que só falaria dos seus projetos na sua apresentação, que acontecerá hoje.

Ritmo
O presidente do Botafogo disse que a escolha de Drumommd para comandar o futebol do clube tem ligação com o seu ""sucesso" no mundo do samba.
Até o ano passado, Drummond foi presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio e é patrono da Imperatriz Leopoldinense.
""Acho que o samba e o futebol tem muita semelhança. Ele tirou uma escola de samba do nada e colocou entre as maiores do Rio. Além disso, quando comandou a liga, fez dela uma das coisas mais organizadas do Carnaval. Por isso, sei que o Luizinho vai trazer ao Botafogo aquele estilo profissional do samba", elogiou Palmeiro.
Nos últimos três anos do seu mandato na liga, a Imperatriz Leopoldinense foi tricampeã do Carnaval do Rio. Na época, adversários acusaram o dirigente de favorecer a escola de samba.
Neste ano, a Imperatriz Leopoldinense fracassou. A escola ficou em terceiro lugar. Em 2002, a Liga das Escolas de Samba do Rio foi presidida por Ailton Guimarães Jorge, o capitão Guimarães.



Texto Anterior: Futebol - José Geraldo Couto: A volta de São Marcos
Próximo Texto: Clube já teve um presidente contraventor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.