São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2011

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XICO SÁ

Sangue de encarnado


Nem Tiradentes, herói de ontem, sofreu tanto quanto o time do Fluminense nas últimas semanas


AMIGO TORCEDOR, amigo secador, um dia em que se leva um lero com Zico e Sócrates, em uma roda de chope, nunca será apenas mais uma folhinha que despenca do calendário. De cara suspeitei que além de santa, aquela quarta-feira seria épica, heroica, com via crucis e ressurreição dos mortos.
E ninguém, nem mesmo o herói da data de ontem, Tiradentes, sofreu tanto quanto o Fluminense nas últimas semanas. Foi um verdadeiro Cristo durante 40 dias no deserto da quaresma. Apanhou mais da torcida e da imprensa do que a soma dos mártires de todos os feriadões.
No entanto chegaria o dia da forra, com uma pancadaria digna de malhação do Judas. Épico, heroico tricolor carioca diante do Argentinos. Com um Fred e um Rafael Moura que pareciam jogar com trajes bíblicos de guerreiros. Não foi uma partida de futebol, foi um drama de época.
E quem achava que Real Madrid e Barcelona seria a grande peleja, pecou por ingenuidade ou atávico subdesenvolvimento. Não passou de uma inocente matinê de cinema sem direito a mãos dadas. Este cronista, por exemplo, estava ao lado do sábio e trovejante Jorge Kajuru, no Cinemark, onde o Esporte Interativo promoveu a sessão ludopédica. Não, Kajuru, por favor, sem romantismo nessa hora.
Secando o time do Rei de Espanha, meu estimado corvo Edgar, segundo Zico, seria o responsável pelo 0x0 que se arrastou até a prorrogação. O tricolor Marco Aurélio Cunha, na mesma fileira, conseguia explicar a origem da estratégia de Mourinho: havia copiado o esquema do milagroso técnico Vagner Benazzi na sua passagem pela Lusa. Desfeito o mistério gajo.
O que o Galinho de Quintino não sabia era que o corvo, àquela altura, já se encontrava nas cercanias do Engenhão, à espreita, de tocaia para secar o Mengo contra o Horizonte, o Galo do Tabuleiro. Coube ao time cearense a maior zebra até agora da Copa do Brasil. "No pasarán!", crocitava el cuervo, com o seu eterno discurso comunista.
Uma quarta santa não seria completa sem as artimanhas do menino maluquinho da Vila, cada vez mais adulto e aplicado, Neymar, Neymessi, Neymaradona. Com Muricy treinando somente até o primeiro volante, o melhor time de todos os tempos -os madrileños que me desculpem- vai voar soberano sobre todas as cordilheiras das Américas.
Que Deus continue preferindo os ateus -enchem menos o saco!- e dai-nos vinho e bacalhau que a vida é nada.

xico.folha@uol.com.br

@xicosa


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