São Paulo, domingo, 22 de maio de 2005

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TAEKWONDO

Treinamento em Campinas, em casa adaptada como academia, conduz Natália Falavigna ao 1º ouro do país

Ringue improvisado forja brasileira campeã mundial

FERNANDO ITOKAZU
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS

No final do ano passado, com um quarto lugar na Olimpíada, um título mundial júnior e um bronze em Mundiais no currículo, a lutadora de taekwondo Natália Falavigna, 21, decidiu sair da casa dos pais. "Para ter minhas próprias coisas", justificou ela.
Isso significou deixar a paranaense Londrina e ir para a paulista Campinas, onde passou a gastar os prêmios que acumulou na carreira. "Agora tenho responsabilidades, como me preocupar em pagar contas. Sempre preciso deixar dinheiro separado."
Ela recebeu propostas de Santos e São Caetano, onde seria remunerada, mas preferiu ir para o interior paulista treinar em uma academia adaptada na casa do técnico e dividir apartamento.
Ela passou a ser orientada por José Palermo Jr., o Tilico, e a contar com cerca de dez colegas de luta, inclusive Diogo Silva, que também foi quarto em Atenas-04. No Paraná, o nível técnico não era tão alto. Houve alteração também na vida estudantil. No Sul, Natália iria para o segundo ano de educação física. Em Campinas, prestou vestibular e voltou a ser caloura.
Logo as coisas melhoraram. Depois de buscar apoio financeiro, sem sucesso, o patrocinador veio atrás dela. Natália recebeu ligação de uma empresa interessada em contar com ela em um patrocínio exclusivamente feminino. "Se não fossem eles, eu não teria nada."
O patrocinador, que visa o Pan-07, teve retorno rápido. Duas semanas após o anúncio, Natália foi campeã mundial em Madri, em abril. Foi o primeiro ouro do Brasil no Mundial, disputado desde 1973. O título inédito veio após três meses de trabalho diário com o novo técnico. Tilico conheceu Natália quando ela começou a competir, mas eles se aproximaram em 2003. O técnico participou da preparação olímpica.
"Ela gostou de mim. Não tenho papas na língua. Quando a via fazendo algo errado, falava mesmo", conta Tilico, que usa prótese no lugar do olho esquerdo.
Tilico diz ter sido vítima de preconceito por causa da deficiência, causada por acidente de carro em 1987. "Diziam que eu não podia dar treino já que não enxergava."
Ex-lutador sem resultados expressivos, não deu ouvidos às críticas e adaptou na casa em que nasceu a academia onde Natália treinou para ser campeã mundial.
"Aqui era a cozinha, lá onde eles estão dando os chutes era o quintal", diz Tilico, cuja academia tem espaço de luta de cerca de 5 m x 7 m. A área oficial é de 12 m x 12 m.
"Quando você vai ao exterior, vê aqueles ginásios enormes com cinco, seis áreas de luta. É bem diferente", afirma Natália, que treina em dois períodos durante a semana e pela manhã aos sábados.
Alta (1,79 m) para sua categoria (até 72 kg), ela não se preocupa com o peso nem em cozinhar. A academia tem apoio de um supermercado local e parceria com a Ponte Preta. O clube fornece refeições e tratamento fisioterápico. "Só preciso cozinhar no fim de semana", diz Natália, que diz preferir programas leves na folga. "Vou ao cinema ou à igreja. Afinal, segunda começa tudo de novo."

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