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TAEKWONDO
Treinamento em Campinas, em casa adaptada como academia, conduz Natália Falavigna ao 1º ouro do país
Ringue improvisado forja brasileira campeã mundial
FERNANDO ITOKAZU
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS
No final do ano passado, com
um quarto lugar na Olimpíada,
um título mundial júnior e um
bronze em Mundiais no currículo, a lutadora de taekwondo Natália Falavigna, 21, decidiu sair da
casa dos pais. "Para ter minhas
próprias coisas", justificou ela.
Isso significou deixar a paranaense Londrina e ir para a paulista Campinas, onde passou a
gastar os prêmios que acumulou
na carreira. "Agora tenho responsabilidades, como me preocupar
em pagar contas. Sempre preciso
deixar dinheiro separado."
Ela recebeu propostas de Santos
e São Caetano, onde seria remunerada, mas preferiu ir para o interior paulista treinar em uma
academia adaptada na casa do
técnico e dividir apartamento.
Ela passou a ser orientada por
José Palermo Jr., o Tilico, e a contar com cerca de dez colegas de luta, inclusive Diogo Silva, que também foi quarto em Atenas-04. No
Paraná, o nível técnico não era tão
alto. Houve alteração também na
vida estudantil. No Sul, Natália
iria para o segundo ano de educação física. Em Campinas, prestou
vestibular e voltou a ser caloura.
Logo as coisas melhoraram. Depois de buscar apoio financeiro,
sem sucesso, o patrocinador veio
atrás dela. Natália recebeu ligação
de uma empresa interessada em
contar com ela em um patrocínio
exclusivamente feminino. "Se não
fossem eles, eu não teria nada."
O patrocinador, que visa o Pan-07, teve retorno rápido. Duas semanas após o anúncio, Natália foi
campeã mundial em Madri, em
abril. Foi o primeiro ouro do Brasil no Mundial, disputado desde
1973. O título inédito veio após
três meses de trabalho diário com
o novo técnico. Tilico conheceu
Natália quando ela começou a
competir, mas eles se aproximaram em 2003. O técnico participou da preparação olímpica.
"Ela gostou de mim. Não tenho
papas na língua. Quando a via fazendo algo errado, falava mesmo", conta Tilico, que usa prótese
no lugar do olho esquerdo.
Tilico diz ter sido vítima de preconceito por causa da deficiência,
causada por acidente de carro em
1987. "Diziam que eu não podia
dar treino já que não enxergava."
Ex-lutador sem resultados expressivos, não deu ouvidos às críticas e adaptou na casa em que
nasceu a academia onde Natália
treinou para ser campeã mundial.
"Aqui era a cozinha, lá onde eles
estão dando os chutes era o quintal", diz Tilico, cuja academia tem
espaço de luta de cerca de 5 m x 7
m. A área oficial é de 12 m x 12 m.
"Quando você vai ao exterior,
vê aqueles ginásios enormes com
cinco, seis áreas de luta. É bem diferente", afirma Natália, que treina em dois períodos durante a semana e pela manhã aos sábados.
Alta (1,79 m) para sua categoria
(até 72 kg), ela não se preocupa
com o peso nem em cozinhar. A
academia tem apoio de um supermercado local e parceria com a
Ponte Preta. O clube fornece refeições e tratamento fisioterápico.
"Só preciso cozinhar no fim de semana", diz Natália, que diz preferir programas leves na folga. "Vou ao cinema ou à igreja. Afinal, segunda começa tudo de novo."
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