São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2000


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FUTEBOL
Mesmo batido, técnico atinge auge da carreira e pode mudar de clube
Scolari berra, bufa, pula, perde, mas se consagra

DA REPORTAGEM LOCAL

O técnico do Palmeiras, Luiz Felipe Scolari, berrou, gesticulou, tentou, trocou jogadores, mas não foi campeão desta vez.
Mesmo assim, pela campanha do Palmeiras na Libertadores, Scolari, 51, arrumou um lugar definitivo entre os maiores técnicos da história do futebol brasileiro.
Seu prestígio atual provocou um assédio poucas vezes visto sobre um técnico -e inédito para esse gaúcho de Passo Fundo, que iniciou no futebol como um zagueiro de estilo raçudo e limitado, atuando principalmente no interior do seu Estado natal.
Vasco e Cruzeiro já estão na disputa por seu contrato há vários meses. Após ser batido pelo Palmeiras na Libertadores, o Corinthians entrou nessa lista.
E são vários os motivos para Scolari ser considerado o técnico do momento. Ele é o maior vencedor de títulos nacionais, quatro -as Copas do Brasil de 91, 94 e 98 e o Brasileiro de 96.
Também é o técnico que mais tem perdurado no Palmeiras nos últimos 25 anos. Está há três anos, um a menos do que Oswaldo Brandão, bicampeão brasileiro (72-73) e paulista (72-74).
Não bastasse ter dado ao Palmeiras seu primeiro título da Libertadores, no ano passado, Scolari quase se superou neste.
Com um elenco considerado, no início do semestre, limitado para as tradições alviverdes, Scolari ganhou o Rio-SP e, nesta Libertadores, se não foi campeão, pelo menos alegrou sua torcida ao eliminar o rival Corinthians.
A eficiência em transformar jogadores limitados, baratos ou desmotivados em peças polivalentes para sua equipe foi fundamental para chegar à decisão.
O reconhecimento vem para um dos treinadores mais contestados da história do Brasil. Parte da resistência a ele veio da sua defesa de um estilo de maior correria, marcação e violência e menor técnica e espetáculo.
Além disso, a ascensão de Scolari também foi atrapalhada por sua trajetória, afastada, até 1997, dos principais holofotes do país, situados em São Paulo e no Rio.
A maioria dos clubes que dirigiu, em 17 anos de carreira, foram: CSA, Juventude, Brasil-RS, Pelotas, Goiás, Coritiba, Al-Shabab e Al Ahli (Arábia Saudita), Al-Kadsia (Kwait) e Jubilo Iwata (Japão).
Quando venceu seu primeiro título importante, a Copa do Brasil, pelo Criciúma, em 1991, quase ninguém prestou atenção.
Quando transformou o Grêmio na melhor equipe da América do Sul, com títulos da Copa do Brasil, da Libertadores e do Brasileiro, seu sucesso foi creditado ao "espírito copeiro" dos times do Sul.
No Palmeiras, recebeu contestação desde os primeiros meses. Seu estilo provinciano e autoritário e sua ênfase para a aplicação tática revoltaram os defensores da tradição de futebol técnico do clube.
Mas, ironicamente, mais do que ninguém Scolari fez o Palmeiras jogar segundo versos do hino palmeirense -"defesa que ninguém passa, linha atacante de raça".
Mas, aos poucos, com vitórias, frases polêmicas e gestos teatrais, Scolari conquistou os torcedores palmeirenses.
Com a derrota de ontem, Scolari não igualou o recorde de Osvaldo Zubeldía como o técnico mais vencedor da Libertadores.
Zubeldía ganhou os tris de forma seguida, com o Estudiantes (Argentina), em 68, 69 e 70. Scolari foi campeão por dois times -Grêmio, em 95 e Palmeiras, no ano passado. Derrotado, não conseguiu superar Telê Santana (São Paulo-92/93) e Lula (Santos-92/ 93), que venceram duas Libertadores com a mesma equipe.
Mas disputas que transcendam a América do Sul ainda são desafios para ele. Nas duas oportunidades anteriores que disputou a final do Mundial interclubes de Tóquio -com o Grêmio, em 95, e com o Palmeiras, em 99-, Scolari fracassou. E a ausência de uma terceira chance de levantar a Copa Intercontinental pode ser decisiva para Scolari definir seu futuro.


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