São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2004

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FUTEBOL

Saldo positivo

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

"Se o Alex e o Luis Fabiano jogarem um pouquinho, a marcação vai ter de se preocupar com eles também e alguém vai sobrar sozinho." Não é possível que o Galvão Bueno tenha visto o Alex -ou qualquer outro- desmarcado aos 30min do primeiro tempo de ontem. Ou "sem vontade". Galvão dá ordens a Alex o tempo todo (como fazia com Zinho em 94); o desmente quando ele diz que o gol uruguaio saiu em um erro do Brasil (sendo que o próprio repórter da Globo disse que Parreira e Júlio César pediam para a defesa sair da área, e não foram atendidos. E o goleiro brasileiro, excelente na competição, falhou). É muita implicância!
Galvão julga cada lance, narra adjetivando, culpa um ("passe horrível") e isenta outro ("a bola correu demais"), decreta sua opinião como fato irrefutável. Ele se desespera na metade da etapa inicial e diz que "o time está nervoso". Só tem o maior cuidado, mede muito bem as palavras, na hora de criticar o presidente da CBF. O pior é milhões de pessoas não terem a opção de ver o jogo com outra visão.
Não acho que o Brasil tenha jogado tão mal no primeiro tempo. Havia movimentação e bons lances individuais, mas uma marcação muito forte e muito bem-feita do Uruguai. Mesmo assim, ganhamos divididas e criamos chances de gol. Não perdemos a calma nem tomamos sufoco -a não ser nos minutos iniciais do jogo, que deixaram uma impressão muito forte, mas não foram um retrato fiel do jogo todo.
Adriano se esforçou uma barbaridade; Gustavo Nery alternou bons e maus momentos, mas não ajudou a desequilibrar a nosso favor. Maicon também não. Alex é lúcido e útil; Edu teve calma e categoria e quase resolveu no primeiro tempo. Kleberson também teve jogadas isoladas muito boas, mas sumiu um pouco no conjunto. Renato cometeu dois ou três erros perigosos, mas, em geral, teve bom volume de jogo. Desarmou, saiu jogando tranqüilamente em momentos de sufoco e mais ajudou que atrapalhou. A zaga também foi irregular.
Apesar de tantos senões e problemas, ainda acho que o Brasil fez um bom jogo. Teve dificuldades e as superou, mesmo sem se garantir no tempo normal. O time foi melhorando durante o jogo, e já estava começando a se acertar antes do intervalo. Parreira parece ter consertado pequenos defeitos no vestiário, embora tenha feito uma substituição discutível (não acho que Diego deva entrar no lugar do Kleberson).
Se o Brasil perder a final contra a Argentina, é possível que tenhamos reações furiosas, condenações à fogueira e protestos contra a comissão técnica e os titulares dispensados. Mas acho que o saldo da Copa América foi positivo. Pedimos duas coisas para a seleção: tempo para treinar e entrosar a equipe (o que não seria possível com jogadores exaustos e desinteressados) ou chance para testar alguns jogadores -e isso, Parreira fez. Poderia ter dado mais chances a Felipe e a Vágner Love, mas as coisas nunca serão exatamente como a gente quer.

Ilusão
Muitos insistem em subir o preço do ingresso para acabar com os problemas. Mas o torcedor "abonado" (lembra disso?) vai enfrentar o frio, a distância, o desconforto e o horário inconveniente para ir à arquibancada? E se o acesso for um gargalo mal organizado, vai haver tumulto; se os seguranças forem despreparados, vai haver terror, seja qual for o poder aquisitivo dos freqüentadores.

O jeito
Rogério pode ter motivos justos para querer deixar o Corinthians -uma boa proposta, um dívida mal resolvida-, mas não acho que tenha agido do modo mais adequado. Ele tem o direito de escolher seu caminho, mas a despedida poderia ser mais franca.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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