São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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o maratonista

Vale tudo na areia de Mikonos: em cenas de mundo animal, homens e mulheres, vorazes, se bicam, se lambem e se apalpam, e o animador das festinhas se veste apenas com um hamster de pelúcia

Ilha da FANTASIA

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A MIKONOS

A primeira coisa que se deve fazer ao chegar a Mikonos é acertar o relógio com o fuso horário local: meia-noite, happy hour; meio-dia, ainda tem gente dançando; meio da tarde, recomeça o baticum, na praia. Dormir, pra quê?
"Não consigo fechar os olhos quando venho a Mikonos. Fico muito ansiosa, sem saber se estou perdendo alguma festa", diz Despina Zizimou, 27, com um micro short de palmeirinhas que faria a Sheilla do Tchan repensar todo o seu guarda-roupa.
Duas praias dividem a preferência dos "ansiosos" no verão: Paradise e Super-Paradise. Há quase mais italianos do que gregos.
"Mamma mia!", balbucia o estudante de engenharia Giuseppe Delia, 20, olhando na direção de um grupo de meninas e rapazes semidespidos, que dança alegremente em cima da mesa.
Ele conta que chegou à cidade na noite anterior, mas já gostou. Ficou com alguém? "Piú... Tante!", exclama. Giuseppe está enrolado na cintura com uma canga-bandeira do Brasil, que diz ter comprado em Florença por 15. Não é o único. O corretor de imóveis Alessio Vallorani, 21, de Roma, e o advogado Francesco Assante, 26, de Milão, trajam modelitos verde-e-amarelo.
"Faço o maior sucesso com essa canga. Os homens acham que você joga bem futebol, e as mulheres, que é bom de cama", diverte-se Alessio.
Um animador diz coisas a esmo, com um microfone na mão e a bunda de fora, em cima de um pedestal: na parte da frente ele veste apenas um tapa-sexo de pelúcia com a figura de um hamster.
Em uma das espreguiçadeiras, as japonesas Setsuko Ikuta, 34, e Novijo Komura, 31, posam para uma foto ao lado do eletricista parrudão Costas Michoglou, 30: com coquetéis de frutas encimados por fatias de melancia, as duas morrem de rir à japonesa, enquanto Costas dá um beijo na orelha de Setsuko:
"Que tipo de lugar é esse!?", pergunta ela. "Vim pra cá achando que iria encontrar praias tranqüilas e ruínas. Estou surpresa", diz.
Em Super-Paradise, o aviso vem antes da praia: uma placa diz "Entrance", como se o banhista estivesse indo a um parque de diversões, e não dar um mergulho.
Metade da praia tem freqüência gay, o resto é mezzo-calabreza, mezzo-califórnia. No canto assumido, uma mulher pelada faz cafuné no cabelo da companheira, ambas deitadas de ladinho na toalha estirada.
E tabum-tabum-tabum, música bombando. Do outro lado, italianos e gregos reproduzem com gatinhas de biquíni cenas típicas do Animal Planet: sem dar uma palavra, eles se bicam, se lambem, se apalpam, puxam os cabelos, em golpes rápidos e instintivos.
"Estou aqui só para passar o fim de semana", diz o engenheiro mecânico Sakis Atsalis, 26, que pratica malabarismos com uma loura que ele acabou de conhecer: sentados em cima de uma mesa, ele investiga a retaguarda da moça, enfiando a mão na parte de baixo do já pequeno biquíni dela, enquanto aplica chupões por todo o seu lombo. Empolgada, ela sobe na mesa, requebra na direção do nariz dele e se deixa girar em seus braços, como um malabar.
Mais tarde um pouco, lá pelas 21h, o povo todo migra para o que eles chamam nas ilhas de Chora (lê-se "Rora" e quer dizer vila, centro da cidade). Nesse momento, as ruas muito estreitas de Mikonos se transformam em um misto de Feira da Bondade com Fashion Week: na passarela engarrafada, transeuntes dispostos a fazer o bem se olham gulosos, enquanto desfilam sua criatividade em modelitos estilo o céu é o limite.
"A melhor coisa é ficar olhando o movimento", dizem as cinqüentonas Angeliki e Athina, sentadas em um bar na primeira fila do desfile.


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