São Paulo, domingo, 23 de maio de 2004

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FUTEBOL

Só faltaram gols

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Brasil e França fizeram um gostoso e equilibrado jogo. Só faltaram gols. O time brasileiro teve mais chances de marcar, e a França, as melhores oportunidades. Das estrelas, só Zidane foi muito bem. Com a sua saída, acabou o brilho da França.
A França tem mais deficiências do que o Brasil. Os dois laterais não sabem atacar, e os quatro defensores se adiantam, ficam em linha e deixam grandes espaços nas costas. Roberto Carlos e Cafu tiveram liberdade, já que os armadores pelos lados (Zidane e Pires) pouco marcavam e os laterais franceses fechavam para o meio da área. O Brasil não aproveitou bem os espaços pelas laterais.
O maior mérito do Brasil foi mostrar um bom conjunto e jogar bem, mesmo sem o brilho dos craques. O empate teve mais valor do que a vitória sobre a Hungria.
Nos dois últimos jogos, houve progressos com a presença do Juninho, um volante que marca e tem habilidade para atacar. Já Edmílson, Zé Roberto e Edu se limitam a proteger os zagueiros e tocar a bola para os lados, como fazem dezenas de volantes. É pouco para uma seleção brasileira.
Cris e, principalmente, Luisão, mostraram que estão no nível do Lúcio, Roque Júnior, Juan e Edmílson. Luisão pode evoluir bastante. Ele já tinha jogado bem logo após a Copa e não foi mais convocado. Isso mostra que Parreira não deveria valorizar tanto os zagueiros campeões do mundo.
Kaká é mais veloz, aguerrido e forte do que Alex e merece ser o titular. Mas Alex e Ronaldinho Gaúcho se entendem profundamente pela inteligência, pelo olhar e pelos movimentos do corpo. Parreira deveria aproveitar mais o Alex durante as partidas e não só quando Kaká se contunde.
Muitos insistem na presença de Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Alex juntos, além do Ronaldo. Parreira, Zagallo, Luxemburgo (conhece bastante o Alex) e outros já disseram, com razão, que não dá para todos serem titulares. Poderia ser uma opção em certos momentos, como comentou Falcão.
Não se pode ter apenas dois marcando no meio-campo. Seria a volta do 4-2-4. Na Copa de 58, há 46 anos, o ponta Zagallo percebeu isso e foi ser o terceiro armador. Quando o time recuperava a bola, ele avançava pela lateral.
Contra a Argentina, no Mineirão, vão aumentar os pedidos para o Parreira escalar o Alex no lugar do Zé Roberto. Algumas dessas opiniões são por convicção e merecem ser respeitadas. Muitas outras serão para fazer média com o torcedor mineiro.

Vaidades
Como adoeci no dia de viajar de férias (agora estou bem), aproveitei o tempo ocioso para reler excelentes livros ("Angústia", de Graciliano Ramos, e "O Amanuense Belmiro", de Cyro dos Anjos), ver ótimos filmes, como "Diários de Motocicleta", de Walter Salles, e assistir a todas as partidas pela TV. Continuo viciado em futebol.
Luxemburgo substituiu Leão, e o Santos continua mal. O novo técnico fez uma mudança tática ao colocar Elano pela esquerda. Ele ficou torto, jogou mal e pode perder a posição para Ricardinho. Gostaria de ver o Santos atuar como em 2002, quando foi campeão. O time jogava com dois volantes, três meias e um atacante fixo. Robinho e Elano faziam duplas com os laterais. Robinho ia ao meio no momento certo.
Não sei por que Leão mudou a maneira de jogar e escalou três volantes no meio-campo e três atletas mais adiantados (Diego próximo do Robinho e de outro atacante). Robinho corre, desordenadamente, no ataque. Quando chega na bola, está cansado.
Luxemburgo nunca repetiria o esquema de 2002 adotado pelo Leão. Além de suas convicções, a sua vaidade não permitiria. Tem de fazer algo diferente. Da mesma forma, Leão não deve escalar o Cruzeiro como Luxemburgo fez no ano passado e que deu tão certo. As suas preferências e vaidade também não deixariam.
É evidente que todo técnico tem o seu estilo. Mas há momentos em que é preciso repetir e aprender com as coisas boas que foram feitas. Paulo César Gusmão quis inovar no Cruzeiro, provar que não seria um repetidor do seu mestre Luxemburgo, mas suas mudanças táticas e substituições foram surpreendentes e ruins.
Uma das grandes dificuldades da maior parte das pessoas, em qualquer atividade, é a de ter uma profunda admiração, uma inveja saudável por profissionais da mesma área e de ter a humildade em aprender e reconhecer que o outro possa ser melhor, pelo menos em certas características.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br


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