São Paulo, sábado, 23 de setembro de 2000

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FUTEBOL
Brasileiras tentam subverter a lógica e eliminar EUA dos Jogos


Se vencer as norte-americanas, algo que nunca ocorreu em torneios oficiais, seleção terá conseguido pelo menos uma medalha de prata


FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A GOLD COAST

Mais do que vencer uma partida de futebol, as jogadoras da seleção brasileira tentarão, na madrugada de amanhã, às 3h30, em Canberra, subverter a lógica.
Segundo colocado na primeira fase, o Brasil irá cruzar já na semifinal com os EUA, campeões olímpicos e mundiais, donos da melhor jogadora do mundo, a atacante Mia Hamm, e favoritos absolutos a mais uma medalha de ouro, principalmente após a eliminação da China.
Ou, nas palavras do técnico Zé Duarte, "um bicho-papão".
Para continuar na Olimpíada e disputar o ouro contra as vencedoras de Noruega x Alemanha, as brasileiras terão que derrubar esse "monstro", algo que só conseguiram uma vez na vida.
Em caso de empate, o jogo vai para a "morte súbita". Se o placar continuar nulo após 30 minutos, a decisão será nos pênaltis.
Em pelo menos dez confrontos desde o surgimento do futebol feminino (a CBF não soube informar a estatística oficial), o Brasil só venceu os EUA em um amistoso disputado em 1997, em São Paulo, por 1 a 0.
Empatou duas vezes, ambas na Copa Ouro deste ano (na segunda, acabou derrotado na "morte súbita"), e perdeu todas as outras.
"Vai chegar o dia em que o Brasil vencerá os Estados Unidos. E estamos fazendo tudo para que seja no domingo", diz Zé Duarte.
Entre os revezes estão um 2 a 0 na semifinal do Mundial do ano passado, um 3 a 2 na final da Copa Nike, também em 99, e um 4 a 0 em um amistoso no início do mês.
A última derrota, particularmente, irritou as brasileiras, que consideraram descabido um amistoso contra os EUA às vésperas dos Jogos. "A gente nem conta essa partida. Entramos muito mole, com receio de contusões. Estávamos com a cabeça na Olimpíada", afirma a meia Sissi.
O duelo de amanhã, ao contrário, será "o jogo de nossa vida", segundo Sissi.
"Ou a gente entra para a história ou o futebol feminino brasileiro não vai mudar, vai continuar na mesma, sem apoio, sem campeonatos, como sempre."
Vencer as norte-americanas e ganhar a inédita medalha olímpica é também a única chance de evitar, ou ao menos amenizar, a debandada de jogadoras brasileiras rumo aos próprios EUA.
Seis brasileiras já assinaram uma carta de intenções com a WUSA, a liga profissional que começa em 2001 e permitirá a inscrição de duas estrangeiras por time.
"Se a gente conseguir a medalha, as coisas podem melhorar no Brasil, e muitas não irão sair", afirma Sissi, uma das pretendidas pelos norte-americanos.
Enquanto não decidem o seu futuro, as brasileiras exercitam a rivalidade com as norte-americanas. As delegações dos dois países têm ficado hospedadas nos mesmos hotéis na Austrália, aumentando o clima bélico para o jogo.
"Elas não cumprimentam, viram a cara. A única legal, que conversa com a gente, é a Tiffeny (atacante). A Mia Hamm é muito arrogante, dentro e fora de campo. E não joga isso tudo. A Tiffeny e a Julie são melhores", provoca Sissi, uma das melhores jogadoras do mundo, ao lado de Mia Hamm e da chinesa Sun Wen.


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