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JOSÉ ROBERTO TORERO
O Superbrasileiro
Não sei se a TV tem mostrado, mas uma das figuras
mais interessantes em Sydney é o
Superbrasileiro. Pode ser visto de
longe. Usa a bandeira do Brasil
como capa e também possui superpoderes. Por exemplo:
Superestômago: Como ele tem
que comer o que houver por perto
dos locais de competição, não pode fazer refeições muito saudáveis. Por isso, tem que ser resistente a hambúrgueres, Coca-Cola,
batatas fritas, café, hot-dogs gigantes e outros vilões gástricos.
Supergarganta: Sempre em minoria, o Superbrasileiro não se
aperta e compensa a quantidade
pela qualidade. Grita feito um
doido e consegue, apenas com alguns superamigos, ser notado em
qualquer ginásio.
Superóculos: Não sei o porquê,
mas muitos superbrasileiros
usam óculos escuros na cabeça. E
nunca nos olhos, sempre na cabeça. Mas deve haver alguma função. Talvez proteger seu frágil cérebro dos raios infravermelhos.
Supercamisa: A capa é a bandeira do Brasil, mas a camisa é a
da seleção. Provavelmente é feita
de um material invulnerável, porque em geral são muito velhas. A
marca nem é Nike. Alguns, porém, preferem usar uma camisa
do seu clube. Já vi aqui Grêmio,
Sport, São Paulo e Santos.
Supersentidos: É preciso supervisão para ver outros brasileiros
na multidão e superaudição para
escutar um batuque à distância.
Supervelocidade: Para não perder nenhum evento. De ônibus,
trem ou táxi, ele consegue ver até
três eventos num só dia.
Supermãos: Para bater palmas
mais alto do que qualquer aussie.
Superpés: Para bater forte no
chão e quase demolir estádios.
Superpulmões: Para soprar sua
supercorneta nos ouvidos dos outros. Que, por sinal, ficam supersurdos.
As identidades secretas desses
Superbrasileiros são muito variadas. Marcos, de 22 anos, por
exemplo, é estudante de inglês em
Sydney. Pelo menos é o que diz
para a mãe. Na intimidade, reclama que as australianas não caem
em suas supercantadas.
Ana, de Limeira, idade não revelada, foge da kryptonita brasileira do baixo salário. Está aqui
há oito anos e já tem até um filho,
Sidnei, que fala apenas algumas
palavras em português.
Wellington, 35, é carpinteiro e
casou-se com uma australiana.
Gostaria de voltar a Krypton, digo, Belo Horizonte, para ficar ao
lado do pai, Jor-El, digo, Mano-El. Mas aqui ele tem um salário
que, se não é super, pelo menos dá
para viver com dignidade.
Têm em comum a capa com a
bandeira, a vontade de viver com
mais dignidade e o desejo de um
dia voltar para sua terra. Não são
super-homens, mas não querem
deixar de ser brasileiros.
E-mail torero@uol.com.br
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