São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 2002

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FUTEBOL

Contradições do clássico

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

O Corinthians é o quarto colocado na tabela, tem a melhor média de aproveitamento e uma maneira definida de jogar desde o início do ano. É um time tranquilo, pragmático e tão equilibrado que tem um saldo positivo de apenas um gol.
Diferentemente de São Paulo e Santos, que têm momentos espetaculares e outros ruins, o Corinthians faz muito bem o básico, como escreveu José Geraldo Couto.
Parece que o São Paulo está atingindo também o equilíbrio, num nível mais alto, o que se esperava após a contratação do Ricardinho. O Santos tem a ousadia e a irreverência dos jovens, mas falta a prudência e a racionalidade dos mais velhos.
O Palmeiras, adversário do Corinthians, está em penúltimo lugar e apavorado com o possível rebaixamento. O time não tem um padrão definido e muda a tática e os jogadores a cada partida.
Seria muito mais lógico e sensato dizer que o Corinthians é o grande favorito do clássico. Não sei o motivo, é uma contradição, mas acho que o Palmeiras tem hoje mais chance de vencer. Puro palpite. Não estou dizendo que vai vencer. Posso estar enganado. Os torcedores não precisam imaginar também que sou palmeirense. Não sou, nem corintiano.
Procuro explicações lógicas, técnicas, para crer na vitória do Palmeiras, mas não as encontro. É só intuição. Talvez, o motivo seja porque os atletas e o técnico do Verdão, numa atitude digna e profissional, recusaram o prêmio extra em dinheiro da diretoria para o time não ser rebaixado. Acham que é uma obrigação.
Depois disso, passei a acreditar mais que o time não será rebaixado. Talvez seja fantasia ou ingenuidade de minha parte. Se os atletas jogaram com tanta garra as partidas anteriores, vão lutar muito mais nos próximos jogos. Entusiasmo não ganha, mas ajuda. Os jogadores precisam apenas ter mais tranquilidade. Muñoz corre tanto, é tão apressado que finaliza mal, pois está sempre com o corpo desequilibrado.
Na parte tática, se o Arce avançar muito, como faz normalmente, pode deixar grandes espaços nas suas costas para o habilidoso e veloz Gil, além do Kléber. O zagueiro terá que sair na cobertura. Isso é muito perigoso. Mas o Palmeiras precisa também do apoio e dos cruzamentos precisos do Arce. O que fazer? Levir Culpi poderia escalar um terceiro zagueiro pela direita para liberar o Arce; deslocar um volante para ajudar na lateral ou não fazer nada.
Do outro lado, Parreira terá as mesmas preocupações com os avanços do Kléber. Nas costas dele, terá sempre o veloz Muñoz.
Para neutralizar a característica troca de passes corintiana no meio, o Palmeiras deveria pressionar e marcar mais na frente.
Não gostaria de ver o Palmeiras ou qualquer outro grande clube na Série B. Será ruim para o futebol. Porém, se um dos grandes ficar entre os quatro últimos, terá de ser rebaixado. O futebol só vai melhorar e ser lucrativo se tiver credibilidade.

Variações no ataque
Após a conquista do título de 94, quase todas as equipes brasileiras passaram a jogar com dois atacantes e quatro no meio-campo. Era proibido e considerado ultrapassado atuar com três atacantes. Hoje é bastante comum.
Obviamente, não significa que os atacantes têm de ficar fixos na frente. No Corinthians, Gil e Deivid recuam quando o adversário tem a bola. Frequentemente, o time fica com nove jogadores no seu campo, além do goleiro. Na Copa de 70, 32 anos atrás, a seleção brasileira fez o mesmo.
Outras equipes, como o São Paulo, em vez de ter dois atacantes pelos lados e um centroavante, jogam com um vindo de trás e dois na frente. Na prática, são três atacantes. O meia de ligação raramente participa da marcação. Kaká é uma exceção. Ele desarma bastante, mas no campo rival.
Outro desenho com três atacantes foi o da seleção pentacampeã. Os meias Ronaldinho e Rivaldo atuaram perto do Ronaldo.
O Vasco só melhorou após Antônio Lopes fazer o mesmo, ao escalar o Petkovic e Ramon ao lado do Valdir. Dois meias dificultam mais a marcação.
O Milan joga com dois volantes, três meias (Rui Costa pela direita, Seedorf pela esquerda e Rivaldo livre) e um centroavante. Os três meias e o atacante estão sempre próximos do gol adversário. O time italiano é um dos favoritos aos títulos do Nacional e da Copa dos Campeões da Europa.
A virtude do time está na qualidade dos jogadores. Os craques fazem a diferença, desde que amparados por um bom conjunto.

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