São Paulo, sexta, 23 de outubro de 1998

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BASQUETE
Contusões vão de torções até furúnculos e atingem adultos e juvenis
"Hospital Peruíbe' segura a lanterna do Paulista-98

LUÍS CURRO
enviado especial a Peruíbe

Após a última colocação no Paulista-97, com uma campanha de 4 vitórias e 20 derrotas, dificilmente o treinador da Associação Peruíbe de Basquete, Agustin Domingo Stin, 41, poderia imaginar um panorama pior neste ano.
Mas, após 13 partidas, Stin volta a se confrontar com uma situação desanimadora: nenhuma vitória (sem contar o jogo de ontem à noite, contra o Marathon/Franca) e, consequentemente, a última posição no Paulista masculino.
"Em 98 o time está bem mais forte do que no ano passado, mas está levando azar", afirma o treinador, um dos fundadores da associação, no dia 1º de maio de 1997.
O "azar" a que se refere Stin foi a onda de problemas de saúde que acometeu, a ainda acomete, os jogadores de sua equipe.
Quando o ex-jogador Stin, que 15 anos atrás perdeu a audição no ouvido esquerdo por causa de uma disfunção orgânica, enumera as contusões, é difícil acreditar.
Do time adulto, só escaparam o veterano ala Fábio de Souza, 34, que, segundo o treinador, "só faz número" no time (quase não joga), e o norte-americano Ken Scroggins, um ex-globetrotter que só estreou na metade do primeiro turno e que ficou abaixo da expectativa.
O "hospital" começou a ser formado antes mesmo do início do campeonato. O ala-pivô Irineu "Bill" Júnior, 20, 2,00 m, ex-Palmeiras, considerado peça-chave no garrafão, torceu o tornozelo na partida de pré-temporada contra o Pinheiros -única vitória de Peruíbe no ano- e perdeu dez jogos.
Com o início do Paulista, o "hospital" foi inchando: Cléber (também torção no tornozelo) Alê (fissura no dedo do pé e distensão na coxa), Cris (operação no menisco), o norte-americano Willie Kelly (tendinite no tornozelo), Mineiro (furúnculos), Gustavo (contratura na panturrilha, calcificação no tornozelo e furúnculos).
Os mais recentes jogadores fora de combate são os juvenis Baíto, 18 (engessado após torcer o joelho), e Soró, 17 (furúnculos).
A desinformação da direção da equipe contribuiu para a propagação de furúnculos (lesões inflamatórias na pele causadas por bactérias). "Pensei que fosse uma doença de sangue. Só soubemos que passava porque a tia de um deles nos avisou", conta Stin.
Dado o alerta, iniciou-se campanha de higiene, com cuidados, principalmente, na separação de toalhas e uniformes dos atletas.
Na semana passada, a comissão técnica descobriu que outro juvenil, Coxinha, 18, quase recuperado de furúnculos generalizados (um deles até no olho), está anêmico -hoje está recebendo alimentação rica em ferro.
"É uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) móvel", resume Bill. "Fui em uma benzedeira nesta semana para ver se as coisas melhoram", acrescenta Alê.
² Esforço da comunidade
Sem patrocinador para cobrir as despesas, o Peruíbe conta com auxílio da prefeitura, que paga taxas à Federação Paulista de Basquete (transferências, arbitragem e mensalidades), e de comerciantes -nada em dinheiro, só serviços.
Restaurantes se revezam para servir refeições aos jogadores, farmácias fornecem remédios, alguns hotéis cedem quartos, uma empresa de ônibus transporta a equipe para jogos na capital e no interior.
A cobertura dos salários (cerca de R$ 10 mil mensais) é a parte mais difícil. Os recursos vêm da bilheteria dos jogos e de contribuições esporádicas de empresários.
Dono de um hotel-pousada, usado para hospedar jogadores e que é o quartel-general do time, o técnico Stin chegou a pagar salários do próprio bolso (diz ter uma dívida bancária, somados juros após empréstimos, de cerca de R$ 54 mil).
Perdida a chance de classificação para o Nacional de 99 (obtêm as vagas os 7 primeiros entre os 12 que jogam o Paulista), a esperança do Peruíbe para o ano que vem é conseguir que a prefeitura doe um espaço para a construção de sede e ginásio próprios -com algum patrimônio, espera conseguir arrecadar fundos e atrair patrocínios.
Caso não dê certo, há a possibilidade de o Peruíbe mudar o enfoque: parar com as atividades do basquete de quadra e partir para o de praia, que tem seu circuito nacional planejado para janeiro.



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