São Paulo, sábado, 23 de novembro de 2002

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MOTOR

Excesso de contingente

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

A Jaguar anunciou que demitirá até o final deste ano de 30 a 60 empregados. Culpou a crise mundial. Vai rodar gente da equipe e de empresas satélites, como a Cosworth. Na pior hipótese, 15% do estafe da escuderia. Para uma equipe de F-1, é muito.
No meio do ano, foi a vez da Jordan, que mandou 40 para a rua. Somando a turma da Prost, que fechou antes de a temporada começar, e da Arrows, que perdeu o último terço do campeonato e ainda não sabe se vai correr em 2003, a F-1 gerou, por baixo, 400 desempregados no espaço de um ano. Redundando, número expressivo para um meio muito específico, onde é imprescindível contar com um leque de especialistas das mais diversas áreas.
Em entrevista à "Autosport", um dos executivos da Jaguar fez questão de frisar que o corte não espelha qualquer problema de relacionamento com a matriz Ford, boato que consumiu o ambiente da equipe nos últimos meses. As palavras usadas são reformulação, otimização, replanejamento, revisão, os eufemismos de praxe para ocasiões desse tipo.
O problema, claro, é dinheiro. Falta, como nunca faltou. Curiosamente, a era das montadoras na F-1, que deveria funcionar com uma espécie de eldorado para a categoria, parece ter exposto o esporte aos rigores da economia formal. Pior, com prazo de validade, o mecenato tabagista resolveu apostar no certo -só quatro times terão apoio em 2003.
Max Mosley, apesar da história do árabe que teria comprado a Arrows, estabeleceu como razoável a meta de 20 carros no grid do ano que vem. Afirmou "torcer" para a recuperação durante a pré-temporada de pelo menos dois times. Detalhe, não incluiu nessa conta a equipe de Tom Walkinshaw -uma referência às enormes dificuldades de Minardi e Jordan, velada e elegante.
A crise é para todos, menos para a Ferrari, que gasta dinheiro a rodo para amenizar a situação da Fiat. Mas a verdade é que as vítimas do processo já estão escolhidas, habitam o fundo do grid ou não têm organização suficiente para tocar um time de F-1. Ou seja, quando o vendaval passar, e vai passar, não haverá apenas uma vaga à venda na categoria, mas três ou quatro. E, perto dos US$ 48 milhões de caução exigidos pela FIA, a preço de banana.
Quem vai aproveitar isso? Não existem tantos xeques assim, mas ainda existem algumas montadoras fora do Mundial. Rico compra barato, pobre paga caro.
 

Mais uma para o currículo das montadoras. Ecclestone confirmou ontem na Europa que o sistema de TV digital será descontinuado, para usar termo em voga no bananal. É o fim do pay-per-view na F-1, o negócio que um dia serviu como lastro para o lançamento da categoria nas Bolsas.
Se na prática as transmissões em TV aberta serão bem melhores (Indianápolis serviu como teste neste ano), na teoria a F-1 terá que absorver um revés histórico. A categoria sempre liderou o setor, da transmissão via satélite ao uso da propaganda virtual.
"Não sei por que não deu certo", disse o chefão, que não teve coragem de culpar a tal da crise. É sabido que isso interessava muito às fabricantes e que, há algumas semanas, de repente, elas desistiram de montar a liga paralela.
Para as marcas, F-1 é publicidade. Pagar para ver isso não dá.

Antes tarde
A Globo fechou nesta semana a venda das cinco cotas de publicidade para a temporada de 2003 da F-1. Cada uma custou R$ 25,5 milhões. Renovaram Banco Real e GM. Entraram Intel, TIM e, surpresa, Petrobras. A estatal, que acabou neste ano com o projeto na F-3000 por falta de visibilidade, anda preocupada com os rumos a serem impostos pelo novo governo no setor de patrocínio. Aliás, não é só ela. Tem muita gente de cabelo em pé com isso.

Pré-temporada
Barcelona, Valencia e Jerez de La Frontera abrigam a partir da próxima terça-feira os primeiros testes para 2003 após a carência determinada pela FIA. Será a estréia formal dos novatos brasileiros Antonio Pizzonia e Cristiano da Matta na categoria. Além disso, não se deve esperar grandes novidades, pois a maior parte dos times lançará mão de modelos híbridos. Apenas Minardi e Arrows não reservaram vagas nos ensaios. A coisa continua feia.

E-mail: mariante@uol.com.br


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