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MOTOR
Excesso de contingente
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A Jaguar anunciou que demitirá até o final deste ano
de 30 a 60 empregados. Culpou a
crise mundial. Vai rodar gente da
equipe e de empresas satélites, como a Cosworth. Na pior hipótese,
15% do estafe da escuderia. Para
uma equipe de F-1, é muito.
No meio do ano, foi a vez da
Jordan, que mandou 40 para a
rua. Somando a turma da Prost,
que fechou antes de a temporada
começar, e da Arrows, que perdeu
o último terço do campeonato e
ainda não sabe se vai correr em
2003, a F-1 gerou, por baixo, 400
desempregados no espaço de um
ano. Redundando, número expressivo para um meio muito específico, onde é imprescindível
contar com um leque de especialistas das mais diversas áreas.
Em entrevista à "Autosport",
um dos executivos da Jaguar fez
questão de frisar que o corte não
espelha qualquer problema de relacionamento com a matriz Ford,
boato que consumiu o ambiente
da equipe nos últimos meses. As
palavras usadas são reformulação, otimização, replanejamento,
revisão, os eufemismos de praxe
para ocasiões desse tipo.
O problema, claro, é dinheiro.
Falta, como nunca faltou. Curiosamente, a era das montadoras
na F-1, que deveria funcionar
com uma espécie de eldorado para a categoria, parece ter exposto
o esporte aos rigores da economia
formal. Pior, com prazo de validade, o mecenato tabagista resolveu apostar no certo -só quatro
times terão apoio em 2003.
Max Mosley, apesar da história
do árabe que teria comprado a
Arrows, estabeleceu como razoável a meta de 20 carros no grid do
ano que vem. Afirmou "torcer"
para a recuperação durante a
pré-temporada de pelo menos
dois times. Detalhe, não incluiu
nessa conta a equipe de Tom
Walkinshaw -uma referência às
enormes dificuldades de Minardi
e Jordan, velada e elegante.
A crise é para todos, menos para
a Ferrari, que gasta dinheiro a rodo para amenizar a situação da
Fiat. Mas a verdade é que as vítimas do processo já estão escolhidas, habitam o fundo do grid ou
não têm organização suficiente
para tocar um time de F-1. Ou seja, quando o vendaval passar, e
vai passar, não haverá apenas
uma vaga à venda na categoria,
mas três ou quatro. E, perto dos
US$ 48 milhões de caução exigidos pela FIA, a preço de banana.
Quem vai aproveitar isso? Não
existem tantos xeques assim, mas
ainda existem algumas montadoras fora do Mundial. Rico compra
barato, pobre paga caro.
Mais uma para o currículo das
montadoras. Ecclestone confirmou ontem na Europa que o sistema de TV digital será descontinuado, para usar termo em voga
no bananal. É o fim do pay-per-view na F-1, o negócio que um dia
serviu como lastro para o lançamento da categoria nas Bolsas.
Se na prática as transmissões
em TV aberta serão bem melhores (Indianápolis serviu como teste neste ano), na teoria a F-1 terá
que absorver um revés histórico.
A categoria sempre liderou o setor, da transmissão via satélite ao
uso da propaganda virtual.
"Não sei por que não deu certo",
disse o chefão, que não teve coragem de culpar a tal da crise. É sabido que isso interessava muito às
fabricantes e que, há algumas semanas, de repente, elas desistiram de montar a liga paralela.
Para as marcas, F-1 é publicidade. Pagar para ver isso não dá.
Antes tarde
A Globo fechou nesta semana a venda das cinco cotas de publicidade para a temporada de 2003 da F-1. Cada uma custou R$ 25,5 milhões. Renovaram Banco Real e GM. Entraram Intel, TIM e, surpresa, Petrobras. A estatal, que acabou neste ano com o projeto na
F-3000 por falta de visibilidade, anda preocupada com os rumos a
serem impostos pelo novo governo no setor de patrocínio. Aliás,
não é só ela. Tem muita gente de cabelo em pé com isso.
Pré-temporada
Barcelona, Valencia e Jerez de La Frontera abrigam a partir da próxima terça-feira os primeiros testes para 2003 após a carência determinada pela FIA. Será a estréia formal dos novatos brasileiros
Antonio Pizzonia e Cristiano da Matta na categoria. Além disso,
não se deve esperar grandes novidades, pois a maior parte dos times lançará mão de modelos híbridos. Apenas Minardi e Arrows
não reservaram vagas nos ensaios. A coisa continua feia.
E-mail: mariante@uol.com.br
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