São Paulo, Quinta-feira, 23 de Dezembro de 1999


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Um encerramento digno do Brasileiro-99

SONINHA
Colunista da Folha

Os direitos do cidadão ainda são artigo de luxo por aqui, mas os direitos do consumidor já são bem mais respeitados hoje em dia do que eram anos atrás.
Há exceções, claro.
Quem já encarou uma fila enorme numa agência bancária, com três funcionários atendiam o público, sabe bem disso.
Ficar refém da companhia telefônica já faz parte do folclore.
E o que dizer do nosso futebol -moderno, rico, a caminho da profissionalização?
Como um negócio desse porte pode tratar tão mal sua clientela? Se um jogo de futebol fosse um restaurante, o consumidor provavelmente diria: "Nunca mais eu volto aqui".
Imagine se o jogo de ontem entre Corinthians e Atlético-MG tivesse acontecido no horário previsto. Um jogo qualquer de futebol às quatro da tarde em dezembro (horário de verão!) poderia ser acompanhado da advertência de que "pode fazer mal à saúde".
Nada tão grave quanto os jogos ao meio-dia na Copa do México, disputada em 1986, mas basta de desculpar os nossos erros com os desatinos semelhantes cometidos em outros países.
O fato de a final do Campeonato Brasileiro ser em um dia útil e na época do Natal só multiplica o malefício.
É péssimo para quem quer ver o jogo e não pode. Se bem que comprar o ingresso nos locais e horários estabelecidos já não é para quem tem emprego.
Chegar ao estádio é sempre um suplício com a preciosa colaboração dos sistemas falidos de transporte coletivo.
E quem pode ver o jogo pasta para conseguir chegar ao estádio ou para se reunir com amigos e assistir pela TV.
Esse horário é péssimo também para quem não está nem um pouco interessado nisso, mas sofre com as consequências.
Disputar uma final na quarta-feira é um desperdício. O jogo no fim-de-semana, por exemplo, pode ser muito bem explorado comercialmente -será que nem isso comove os organizadores do campeonato?
Mas não podemos esquecer que aquele horário inicial já tinha sido definido há muito tempo, e só muito em cima da hora alguém se coçou para tentar mudar.
Não precisava ser do jeito que foi, com o horário definitivo sendo divulgado somente a poucas horas antes do início da partida, mas esse não deixou de ser um encerramento digno deste Campeonato Brasileiro de 1999.

Caso Luizão 1: Imagine você dar uma cotovelada em alguém que trabalha com você e depois dizer: "Desculpe, mas eu precisava fazer isso".

Caso Luizão 2: Então, o Tribunal de Justiça Desportiva entrou em recesso antes de o Campeonato Brasileiro terminar.
Como disse meu colega de ESPN Brasil, João Carlos Albuquerque, "é que neste ano eles trabalharam demais".
Eu passo a ironia adiante, mas reconheço: não deve ser muito saudável avacalhar com um Tribunal de Justiça, seja ele qual for.
Mas ficou difícil levar a sério um tribunal que, entre outras coisas, aplicou um regulamento ilegal (a tal Resolução de Diretoria que transfere os pontos do time punido por irregularidade para seu adversário na partida).
É a desorganização no futebol fazendo mais um desserviço à sociedade, já que as decisões esdrúxulas só reforçam a idéia já consagrada de que a Justiça é cega no mau sentido.
De que a aplicação da lei varia conforme o poder político e econômico dos envolvidos.
De que para tudo neste país se dá um jeitinho.

Quando um time perde, invariavelmente uma parte de sua torcida chega à conclusão de que os jogadores ganham dinheiro demais (verdade) e por isso não estão preocupados se vão ganhar ou perder, não suam a camisa, não põem o coração na ponta da chuteira, essas coisas.
Mas será que algum dinheiro no mundo compensa a glória perdida, o choque da reversão da expectativa ou o gosto amargo do fiasco?
Duvido. Qualquer dia quero falar mais sobre isso.


Sônia Francine, a Soninha, escreve às quintas-feiras

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