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Um encerramento digno do Brasileiro-99
SONINHA
Colunista da Folha
Os direitos do cidadão ainda
são artigo de luxo por aqui, mas
os direitos do consumidor já são
bem mais respeitados hoje em dia
do que eram anos atrás.
Há exceções, claro.
Quem já encarou uma fila enorme numa agência bancária, com
três funcionários atendiam o público, sabe bem disso.
Ficar refém da companhia telefônica já faz parte do folclore.
E o que dizer do nosso futebol
-moderno, rico, a caminho da
profissionalização?
Como um negócio desse porte
pode tratar tão mal sua clientela?
Se um jogo de futebol fosse um
restaurante, o consumidor provavelmente diria: "Nunca mais eu
volto aqui".
Imagine se o jogo de ontem entre Corinthians e Atlético-MG tivesse acontecido no horário previsto. Um jogo qualquer de futebol
às quatro da tarde em dezembro
(horário de verão!) poderia ser
acompanhado da advertência de
que "pode fazer mal à saúde".
Nada tão grave quanto os jogos
ao meio-dia na Copa do México,
disputada em 1986, mas basta de
desculpar os nossos erros com os
desatinos semelhantes cometidos
em outros países.
O fato de a final do Campeonato Brasileiro ser em um dia útil e
na época do Natal só multiplica o
malefício.
É péssimo para quem quer ver o
jogo e não pode. Se bem que comprar o ingresso nos locais e horários estabelecidos já não é para
quem tem emprego.
Chegar ao estádio é sempre um
suplício com a preciosa colaboração dos sistemas falidos de transporte coletivo.
E quem pode ver o jogo pasta
para conseguir chegar ao estádio
ou para se reunir com amigos e
assistir pela TV.
Esse horário é péssimo também
para quem não está nem um pouco interessado nisso, mas sofre
com as consequências.
Disputar uma final na quarta-feira é um desperdício. O jogo no
fim-de-semana, por exemplo, pode ser muito bem explorado comercialmente -será que nem isso comove os organizadores do
campeonato?
Mas não podemos esquecer que
aquele horário inicial já tinha sido definido há muito tempo, e só
muito em cima da hora alguém se
coçou para tentar mudar.
Não precisava ser do jeito que
foi, com o horário definitivo sendo
divulgado somente a poucas horas antes do início da partida,
mas esse não deixou de ser um encerramento digno deste Campeonato Brasileiro de 1999.
Caso Luizão 1: Imagine você dar
uma cotovelada em alguém que
trabalha com você e depois dizer:
"Desculpe, mas eu precisava fazer
isso".
Caso Luizão 2: Então, o Tribunal de Justiça Desportiva entrou
em recesso antes de o Campeonato Brasileiro terminar.
Como disse meu colega de ESPN
Brasil, João Carlos Albuquerque,
"é que neste ano eles trabalharam
demais".
Eu passo a ironia adiante, mas
reconheço: não deve ser muito
saudável avacalhar com um Tribunal de Justiça, seja ele qual for.
Mas ficou difícil levar a sério um
tribunal que, entre outras coisas,
aplicou um regulamento ilegal (a
tal Resolução de Diretoria que
transfere os pontos do time punido por irregularidade para seu
adversário na partida).
É a desorganização no futebol
fazendo mais um desserviço à sociedade, já que as decisões esdrúxulas só reforçam a idéia já consagrada de que a Justiça é cega no
mau sentido.
De que a aplicação da lei varia
conforme o poder político e econômico dos envolvidos.
De que para tudo neste país se
dá um jeitinho.
Quando um time perde, invariavelmente uma parte de sua torcida chega à conclusão de que os
jogadores ganham dinheiro demais (verdade) e por isso não estão preocupados se vão ganhar ou
perder, não suam a camisa, não
põem o coração na ponta da chuteira, essas coisas.
Mas será que algum dinheiro no
mundo compensa a glória perdida, o choque da reversão da expectativa ou o gosto amargo do
fiasco?
Duvido. Qualquer dia quero falar mais sobre isso.
Sônia Francine, a Soninha, escreve às quintas-feiras
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