São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2008

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SONINHA

Toda superioridade se desfaz


O São Paulo tem feito tudo certo? Não exatamente... O planejamento da temporada 2008 foi otimista demais


NO FUTEBOL , somos muito mais inclinados a explorar e debater as razões do fracasso do que as explicações para o sucesso. Quanto tempo dedicamos à análise de Brasil 2 x 0 Alemanha na Copa de 2002? Nenhum. Ronaldo fez dois gols, Rivaldo ajudou, Kahn também. Comemoramos e assunto encerrado. E até quando estaremos prontos para começar nova discussão sobre França 3 x 0 Brasil em 1998? Até o fim do mundo.
Mas o São Paulo deu tão certo nos últimos anos, e constituiu-se tão claramente como uma das exceções no desalentador cenário do futebol no Brasil, que muito espaço foi dedicado ao ""segredo" do seu sucesso. O clube tem o próprio estádio, que não é nenhuma jóia da modernidade (os acessos são bem ruins, para começar) mas tem um gramado muito bom (pode chover canivete), bons vestiários, sistema avançado de câmeras de segurança, camarotes patrocinados, etc. Um lugar para chamar de seu (a menos que seja punido, o São Paulo nunca precisa se perguntar ""onde vamos mandar o jogo?") e faturar com o aluguel.
O tricolor também investe em estratégias de marketing para cativar os torcedores que tem e conquistar outros mesmo sabendo que a coleção de títulos recentes (Libertadores, Mundial, Brasileiro) já serve para atrair a molecada. Possui bom centro de treinamento e excelente estrutura para tratamento e recuperação de atletas. Não sucumbe facilmente à tentação de trocar de técnico e comissão a cada instabilidade e busca se preparar cuidadosamente para a temporada toda. Trata as categorias de base com capricho.
Com isso tudo, apresentou ótimas revelações, notáveis ""ressurreições" e fez bons negócios. As vendas permitiam boas aquisições, de modo que sempre havia elenco com boas alternativas para dar conta dos problemas que todos têm: viagens, contusões, suspensões. Mas toda superioridade um dia se desfaz. Seja porque os adversários melhoram, seja porque chega um momento, quase inexplicável, em que não adianta fazer tudo certo que as coisas não funcionam direito.
Os adversários do São Paulo estão melhorando, em parte por ""culpa" dele. Os CTs e centros de reabilitação viraram elementos da rivalidade entre os clubes, a cultura da morte súbita para os técnicos está mudando e tem mais gente preocupada com um bom atendimento ao torcedor. E o São Paulo está fazendo tudo certo? Não exatamente... O planejamento da temporada foi otimista demais; o elenco atual não parece capaz de dar conta. Muricy já teve de se preocupar com falta de opções para o banco e escalou recém-chegados como titulares na Libertadores.
Como disseram colegas da ESPN, com a saída de Breno, Souza e Leandro, o São Paulo perdeu seis jogadores. Eram versáteis, brigadores e estavam à vontade no Morumbi. Não é fácil recomeçar sem eles. No ano passado o São Paulo demorou um pouco a se acertar no Brasileiro. Teve paciência, competência e sorte. A tal versatilidade dos atletas poderia ter fracassado, e nem sempre aparece um Breno por aí.
Talvez tenha se acostumado mal com a idéia de que "dá tudo certo no final". Pode até ser que dê; está longe de ser um dos piores. Mas o São Paulo-2008 não é mais aquele.

soninha.folha@uol.com.br


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