São Paulo, quinta-feira, 24 de junho de 2004

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FUTEBOL

Rolando ou parada

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Às vezes parece um pouco ridículo explicar uma derrota dizendo que "nosso time criou muitas chances, e o time deles só fez gol de bola parada". Como já disseram, irritados, alguns torcedores, "não vale a mesma coisa"? Ou, com senso de humor, "se entrou no gol, não estava parada!".
Por outro lado, é verdade que às vezes nos decepcionamos com a seleção, por exemplo, quando os gols só ocorrem nas tais bolas paradas. Aí é o técnico quem diz: "Não valem a mesma coisa?".
A bola parada é mesmo um caso à parte. Quando há uma cobrança de falta perfeita ou um pênalti muito bem batido, não há o que fazer a não ser ver a bola entrar. Mas um time só chega a essa situação "privilegiada" em razão de uma falta do rival. O remédio seria não fazer a falta, mas nem sempre isso é possível. E uma única falha individual (por afobação, erro de posicionamento ou de cálculo, "excesso de vontade") pode derrubar o trabalho bem-feito até aquele momento, levando às explicações acima...
Já a falta em dois lances e a cobrança de escanteio são situações em que a correlação de forças é completamente diferente. Com a bola rolando, um time tem, digamos, de um a cinco jogadores no ataque. Se tiver dois na área e três por perto, está ótimo. Seis é quase um luxo. Na cobrança de escanteio, o time que tem a bola pode ter até os 11 tentando o gol!
O escanteio é um momento do jogo que o treinador pode reproduzir de maneira minuciosa nos treinos, determinando o posicionamento exato de cada um - quem cobra, quem sobe, quem fica na sobra. É mais previsível que as outras circunstâncias do jogo, em que é mais difícil "combinar com o adversário" onde ele vai estar (como Garrincha teria cobrado de um técnico, depois de ouvir a explicação de uma jogada).
Eu me lembro de um jogo do Palmeiras de 96 em que o time teve cinco escanteios seguidos a seu favor. Em cada um deles, uma jogada diferente foi posta em prática. A menos que a minha memória afetiva esteja me traindo, no quinto saiu o gol. A famosa "mão do treinador" ficou evidente, assim como a qualidade dos jogadores para colocar em prática o que foi ensaiado.
O técnico também ensaia a marcação da bola parada, mas seus atletas precisam descobrir na hora se a cobrança é no primeiro pau, no segundo, curta, direta... Ele pode estudar jogos anteriores e se preparar para algumas possibilidades, mas a vantagem é do adversário. Por isso, não sei por que há tanta revolta quando um time toma um gol de bola parada -parece que é sempre falha da defesa, não mérito do rival. (O mesmo vale para as bolas pelo alto -há mais críticas à defesa que elogios para o autor do gol!)
Agora, se reclamamos do nosso time, que "só faz gol de bola parada", é porque gostamos de ver tabelas, fintas, arrancadas... A emoção construída a cada palmo conquistado do terreno. Mas que é um tremendo desperdício não treinar exaustivamente para aproveitar as bolas paradas, lá isso é. Parabéns a quem aproveita.

Está sobrando?
A crise financeira que assola o futebol parece não assolar o Palmeiras, que contratou Jardel sem condições (físicas e jurídicas) de jogo e, segundo o Painel FC, abriu mão de exigir o pagamento do salário de Marcos pela CBF, após o atleta ter se contundido em treino da seleção.

Quem é
O deputado pernambucano Pedro Correa, presidente nacional do PP, citado na CPI da pirataria, foi o autor da Ação Direta de Inconstitucionalidade contra o Estatuto do Torcedor -o qual, segundo alguns dirigentes, atinge "a autonomia das entidades desportivas, dirigentes e associações, quanto à sua organização e funcionamento". Só porque exige responsabilidade e transparência?

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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