São Paulo, terça-feira, 24 de julho de 2001

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BASQUETE

Jovem guarda

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

O Mundial juvenil disparou alertas ao descarrilado basquete feminino brasileiro.
A sétima colocação obtida pela seleção em si não assusta.
É verdade que ela teve condições ímpares de preparação. Reunida durante quase um semestre, adquiriu ritmo de jogo em pleno Nacional adulto -em uma decisão arrojada, foi inscrita como representante do Maranhão.
Ainda assim, a distância do pódio deve ser encarada com naturalidade, dada a estrutura precária em que o esporte de base opera há quase uma década no país.
Seria injusto cobrar do grupo e do técnico Paulo Bassul mais do que quatro vitórias e três derrotas. Vale lembrar que a seleção olímpica levou uma medalha, em Sydney, com uma campanha pior (4v e 4d) -e foi aquela festa.
Feitas essas devidas ressalvas, não se pode ignorar que:
1) das quatro vitórias, uma veio contra um time de araque e duas foram apertadíssimas -Mali (98 x 34), China (60 x 57) e Lituânia (79 x 74), todas elas na fase de classificação. O Brasil só convenceu na sua despedida, de novo contra as lituanas, na partida que definiu a sétima posição (78 x 54);
2) os tropeços diante de Rússia, prata, e EUA, bronze no Mundial, foram normais. Mas a derrota de virada para Cuba (62 x 64), um adversário sucateado neste ano, teve sabor de vexame;
3) as perspectivas não são boas para a próxima edição. Ex-potência do esporte, a China já anunciou que vai reinvestir no basquete feminino, um dos primeiros efeitos da escolha de Pequim como sede da Olimpíada de 2008. E a Lituânia contará com uma geração de adolescentes do pós-crise econômica. A tendência é que o Brasil, quarto lugar no Mundial de 97, caia ainda mais;
4) a seleção perdeu uma de suas principais características, a qualidade do arremesso. Nos tiros de três pontos -diferencial na era moderna, e ultradefensivista, do basquete-, o desempenho das meninas foi pífio: 29,9%. A República Tcheca levou o ouro com aproveitamento de 45,6%.
De todo modo, uma ótima, e inesperada, notícia pode compensar esse panorama pessimista.
A pivô Erika, 19, destoou, jogou um Mundial maravilhoso. Foi a principal reboteira (10,8 por partida), a segunda melhor em tocos (2,3), a oitava cestinha (16,1) e a décima melhor pontaria nos chutes de dois pontos (53,3%).
A juvenil brasileira só não foi eleita para a seleção do campeonato por causa da surpreendente campanha das tchecas.
As anfitriãs superaram as favoritas norte-americanas, na semifinal. E, contra as russas, na final, fizeram um jogo espetacular de reação -tiraram uma desvantagem de seis pontos no último minuto antes de anotar, a dois segundos do fim, a cesta que garantiu a vitória (82 x 80) e o título.
Boquiabertos, os organizadores acharam conveniente incluir uma segunda tcheca no quinteto premiado. Erika foi a preterida.
O curioso é que ela foi a última a se integrar à seleção de Bassul, já que o Vasco não a liberou para a experiência maranhense.
No Nacional, a pivô cuidou da retaguarda das titulares Kelly e Kátia. Mas os traços de talento ficaram claros assim mesmo. Sua produção por minuto só foi inferior, no time carioca, à de Janeth.
Revelada no belo projeto da Mangueira, Erika, 1,95 m, agora carrega um morro bem maior nos ombros. Força para ela.

Renovação 1
No final das contas, a seleção masculina viajou mesmo oxigenada ao Chile, com seis estreantes em competições internacionais e 23,8 anos de idade média. Mas, passadas três rodadas do Sul-Americano, constata-se que o veterano "bandejeiro" Vanderlei, 29, é a referência ofensiva da equipe. Que dureza.

Renovação 2
Marcelinho, melhor jogador do Brasil há dois anos, ainda não é titular absoluto da seleção de Hélio Rubens. O ala-armador, aliás, trocou o Botafogo pelo Fluminense.

Renovação 3
Talvez tenha me precipitado na coluna retrasada, quando reportei que o Paulista-01 feminino teria pelo menos nove equipes. O Araçatuba, celeiro das irmãs Luz (Helen, Silvinha e Cíntia), põe em dúvida sua participação. Ainda não tem patrocínio nem jogadoras.

E-mail melk@uol.com.br



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