São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2000

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ANÁLISE
Camarões deu uma lição de ousadia

JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A BRISBANE


Diante de uma derrota vexaminosa como a de ontem, a tentação é "chutar o balde", atirando o treinador aos cães e acusando os jogadores de falta de empenho ou de técnica. Por aí, entretanto, não se chega a lugar algum.
Se faltou de fato técnica para alguns (notadamente Baiano e Marcos Paulo), se Luxemburgo realmente errou nas substituições (o que explica a queda de poder ofensivo), o principal problema não esteve aí, e sim na escassa inteligência tática do time.
E aqui não me refiro à orientação do treinador no vestiário, mas à atitude dos jogadores em campo. Faltou capacidade de improvisação, faltou jogo de cintura para fazer frente à audaciosa linha de impedimento de Camarões.
Os africanos tinham dois pontos vulneráveis: a saída de bola, em que os zagueiros tentavam sair driblando ou trocando passes perigosos, e a linha de impedimento, que avançava quase até o meio-campo. O Brasil não soube aproveitar nenhum dos dois. Poucas vezes foram tentadas tabelas ou a condução individual da bola através da fileira de camaroneses.
Resultado: foram nada menos que 19 impedimentos no jogo de ontem. Ou seja, os meninos de Luxemburgo jogaram burocraticamente, sem iniciativa e sem invenção. Talvez a melhor explicação para esse e outros fracassos brasileiros recentes tenha sido dada pelo técnico de Camarões, Jean-Paul Akono, depois da partida: "Vocês, brasileiros, estão olhando muito para a Europa, deixando de lado a espontaneidade".
E acrescentou: "Nós, em Camarões, temos um temperamento ofensivo. Acho que a melhor maneira de se defender é atacando".
Talvez seja o caso de os brasileiros fazerem um estágio na África, para reaprender a jogar futebol. Em 96, em Atlanta, e ontem, em Brisbane, eles tiveram lições preliminares.



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