|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Camarões deu uma lição de ousadia
JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A BRISBANE
Diante de uma derrota
vexaminosa como a de
ontem, a tentação é "chutar o
balde", atirando o treinador
aos cães e acusando os jogadores de falta de empenho ou de
técnica. Por aí, entretanto, não
se chega a lugar algum.
Se faltou de fato técnica para
alguns (notadamente Baiano
e Marcos Paulo), se Luxemburgo realmente errou nas
substituições (o que explica a
queda de poder ofensivo), o
principal problema não esteve
aí, e sim na escassa inteligência tática do time.
E aqui não me refiro à orientação do treinador no vestiário, mas à atitude dos jogadores em campo. Faltou capacidade de improvisação, faltou
jogo de cintura para fazer
frente à audaciosa linha de
impedimento de Camarões.
Os africanos tinham dois
pontos vulneráveis: a saída de
bola, em que os zagueiros tentavam sair driblando ou trocando passes perigosos, e a linha de impedimento, que
avançava quase até o meio-campo. O Brasil não soube
aproveitar nenhum dos dois.
Poucas vezes foram tentadas
tabelas ou a condução individual da bola através da fileira
de camaroneses.
Resultado: foram nada menos que 19 impedimentos no
jogo de ontem. Ou seja, os meninos de Luxemburgo jogaram burocraticamente, sem
iniciativa e sem invenção. Talvez a melhor explicação para
esse e outros fracassos brasileiros recentes tenha sido dada
pelo técnico de Camarões,
Jean-Paul Akono, depois da
partida: "Vocês, brasileiros, estão olhando muito para a Europa, deixando de lado a espontaneidade".
E acrescentou: "Nós, em Camarões, temos um temperamento ofensivo. Acho que a
melhor maneira de se defender é atacando".
Talvez seja o caso de os brasileiros fazerem um estágio na
África, para reaprender a jogar futebol. Em 96, em Atlanta, e ontem, em Brisbane, eles
tiveram lições preliminares.
Texto Anterior: Técnico lamenta vitória anulada Próximo Texto: Ginga e alma de Camarões empolgam público recorde em estádio australiano Índice
|