São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2000

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FUTEBOL
Pouco afeita ao esporte mais popular do Brasil, torcida local se apaixona pela objetividade da equipe africana e delira com a vitória
Ginga e alma de Camarões empolgam público recorde em estádio australiano

Associated Press
Eto'o e Mboma comemoram o primeiro gol de Camarões, seleção que ontem eliminou a equipe brasileira da Olimpíada de Sydney


DO ENVIADO A BRISBANE


Cerca de dez minutos após o final do jogo de ontem, uma voluntária australiana dos Jogos Olímpicos surge correndo feito uma louca pelos corredores internos do Brisbane Cricket Ground.
Carrega uma camisa suada nas mãos e berra: "Peguei, consegui pegar uma camisa de Camarões".
A atitude emocionada da garota ilustra um pouco do que foi, para o público, a jornada de ontem em Brisbane. Havia poucos brasileiros no estádio. A maioria absoluta das 37.332 pessoas que bateram o recorde de pagantes do estádio desde 1993, quando o "Gabba" foi reformado e "encolheu", era formada por australianos.
Espectadores que não tinham preferência até perceberem que havia um time jogando com alma, e vestia camisas verdes, e outro sem, com um uniforme amarelo.
Torcedores que ali, na hora, escolheram a ginga do camaronês Mboma à burocracia do Brasil.
De repente, ficou bastante claro que o estádio tinha um time, pelo qual foi se apaixonando cada vez mais ao longo de quase duas horas de partida.
Quando o nome do jogo, Mboma, cobrou uma falta colocando a bola no ângulo esquerdo de Hélton e abriu o placar, os gritos pró-Camarões ainda eram tímidos.
Foram ficando mais fortes a cada gol feito perdido por Fabiano ou a cada participação medíocre de Baiano ou Marcos Paulo.
As jogadas vistosas dos africanos eram recebidas com euforia, e cada camaronês substituído era ovacionado pelo público.
Os gritos de "Cameroon, Cameroon" passaram a ser um coro ensurdecedor após os 30min do segundo tempo, quando Geremi Njitap, que já tinha cartão amarelo, retardou uma cobrança de lateral e acabou sendo expulso.
Vaias intensas para o juiz.
Os gritos aumentaram ainda mais aos 47min, quando Nguimbart puxou Alex na entrada da grande área e também levou cartão vermelho. Mais e mais fortes vaias para o juiz. Após o gol do Brasil, a morte súbita começou com esse cenário.
O Brasil teve um gol legítimo anulado -o juiz apontou impedimento- e teve outras chances de gol desperdiçadas. Camarões tentava se segurar à base da linha de impedimento -o ataque brasileiro ficou fora de jogo 19 vezes, enquanto o do rival, nenhuma.
O gol de Mbami na morte súbita, que decretou a classificação dos africanos, levou o "Gabba" ao delírio total. Os camaroneses deram volta olímpica e jogaram suas camisas para o público.
Acostumados a torcer pelo mais fraco, como qualquer torcedor sem time, os australianos ignoraram o choro dos brasileiros.
E a seleção de Luxemburgo saiu de campo sob vaias, exatamente como no primeiro jogo sob o comando do técnico, um empate com a Iugoslávia em São Luís (MA) que ontem completou exatos dois anos. (FÁBIO VICTOR)



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