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FUTEBOL
Pouco afeita ao esporte mais popular do Brasil, torcida local se apaixona pela objetividade da equipe africana e delira com a vitória
Ginga e alma de Camarões empolgam público recorde em estádio australiano
Associated Press
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Eto'o e Mboma comemoram o primeiro gol de Camarões, seleção que ontem eliminou a equipe brasileira da Olimpíada de Sydney |
DO ENVIADO A BRISBANE
Cerca de dez minutos após o final do jogo de ontem, uma voluntária australiana dos Jogos Olímpicos surge correndo feito uma
louca pelos corredores internos
do Brisbane Cricket Ground.
Carrega uma camisa suada nas
mãos e berra: "Peguei, consegui
pegar uma camisa de Camarões".
A atitude emocionada da garota
ilustra um pouco do que foi, para
o público, a jornada de ontem em
Brisbane. Havia poucos brasileiros no estádio. A maioria absoluta
das 37.332 pessoas que bateram o
recorde de pagantes do estádio
desde 1993, quando o "Gabba" foi
reformado e "encolheu", era formada por australianos.
Espectadores que não tinham
preferência até perceberem que
havia um time jogando com alma,
e vestia camisas verdes, e outro
sem, com um uniforme amarelo.
Torcedores que ali, na hora, escolheram a ginga do camaronês
Mboma à burocracia do Brasil.
De repente, ficou bastante claro
que o estádio tinha um time, pelo
qual foi se apaixonando cada vez
mais ao longo de quase duas horas de partida.
Quando o nome do jogo, Mboma, cobrou uma falta colocando a
bola no ângulo esquerdo de Hélton e abriu o placar, os gritos pró-Camarões ainda eram tímidos.
Foram ficando mais fortes a cada gol feito perdido por Fabiano
ou a cada participação medíocre
de Baiano ou Marcos Paulo.
As jogadas vistosas dos africanos eram recebidas com euforia, e
cada camaronês substituído era
ovacionado pelo público.
Os gritos de "Cameroon, Cameroon" passaram a ser um coro ensurdecedor após os 30min do segundo tempo, quando Geremi
Njitap, que já tinha cartão amarelo, retardou uma cobrança de lateral e acabou sendo expulso.
Vaias intensas para o juiz.
Os gritos aumentaram ainda
mais aos 47min, quando Nguimbart puxou Alex na entrada da
grande área e também levou cartão vermelho. Mais e mais fortes
vaias para o juiz. Após o gol do
Brasil, a morte súbita começou
com esse cenário.
O Brasil teve um gol legítimo
anulado -o juiz apontou impedimento- e teve outras chances
de gol desperdiçadas. Camarões
tentava se segurar à base da linha
de impedimento -o ataque brasileiro ficou fora de jogo 19 vezes,
enquanto o do rival, nenhuma.
O gol de Mbami na morte súbita, que decretou a classificação
dos africanos, levou o "Gabba" ao
delírio total. Os camaroneses deram volta olímpica e jogaram suas
camisas para o público.
Acostumados a torcer pelo mais
fraco, como qualquer torcedor
sem time, os australianos ignoraram o choro dos brasileiros.
E a seleção de Luxemburgo saiu
de campo sob vaias, exatamente
como no primeiro jogo sob o comando do técnico, um empate
com a Iugoslávia em São Luís
(MA) que ontem completou exatos dois anos.
(FÁBIO VICTOR)
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